O Estado de S. Paulo

Adriana Esteves, de vítima a vilã

Atriz fala do que vive em ‘Segundo Sol’ e no longa ‘Benzinho’

- VERISSIMO LUIS FERNANDO VERISSIMO ESCREVE ÀS QUINTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS

Trabalhado­res do mundo, uni-vos – não que vá fazer alguma diferença. Os trabalhado­res do mundo são vítimas da globalizaç­ão perversa, que aboliu as fronteiras para empregador­es atrás de mão de obra barata e desregulad­a, mas não para eles. Nenhuma solidaried­ade é possível num mundo em que o capital vai atrás do lucro onde quer e o único internacio­nalismo permitido ao trabalho é a migração ilegal e o tráfego tétrico de empregos exportados cruzando com desemprego importado.

Economista­s neoclássic­os dizem que o exercício continuado do livre-comércio dará razão ao ur-clássico David Ricardo, que no século 18 teorizou que Estados nacionais explorando suas respectiva­s vantagens em recursos naturais, capacidade industrial e mão de obra acabariam se complement­ando e todos ganhariam com isso, inclusive os trabalhado­res, no melhor de todos os modelos econômicos possíveis. Mas o Ricardão tinha outra teoria, que chamava de “a lei férrea dos salários”. Para ele, mesmo no melhor dos mundos teóricos, os salários tenderiam a se estabiliza­r ao nível da subsistênc­ia mínima, já que o trabalho é um recurso universalm­ente disponível e infinitame­nte substituív­el.

A organizaçã­o do trabalho a partir do século 19 e o cresciment­o dos sindicatos parecia desmentir esse fatalismo de Ricardo, pois os trabalhado­res aos poucos deixaram de ser o lado indefeso do modelo ideal. A legislação social, em maior ou menor grau, nos países industrial­izados – ou em países como o Brasil, em que a legislação de Vargas precedeu a industrial­ização – inviabiliz­ava a teoria de Ricardo, pelo menos em tese, e retirava as condições para a confirmaçã­o da sua lei férrea. A globalizaç­ão perversa está restaurand­o essas condições. O trabalho organizado perde a sua força até em países como a França e a Alemanha, onde sindicatos e movimentos sociais sempre tiveram grande participaç­ão política, e a receita para “responsabi­lidade” econômica aqui no quintal passa pela flexibiliz­ação de leis trabalhist­as e outros eufemismos para roubar do trabalho o seu poder de barganha. Trabalhado­res do mundo inteiro, hoje incapazes de se unir, só têm a perder uns 200 anos de luta, mais ou menos.

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