O Estado de S. Paulo

O futuro é streaming

Entenda por que artistas migram para plataforma­s de vídeo sob demanda para fazer seus filmes

- Luiz Carlos Merten / P.A.

Em todo o mundo, tem havido uma migração do pessoal de cinema para novas plataforma­s que estão provendo o público com filmes e séries de televisão. No Brasil, não é diferente. Para a produtora Mariza Leão, da Morena Filmes, o movimento é inevitável. “Os cinemas estão formatados para os blockbuste­rs, e não abrigam mais nenhum outro tipo de produção. Qualquer outro filme fica uma semana, ou num horário especial, olhe lá. A TV paga é cara. O que sobra? O streaming. Cada vez mais vai se firmar como a plataforma para se ver filmes, todos os tipos de filmes. Você só não precisa ser apressadin­ho. Para as chamadas grandes estreias, o público terá de continuar indo ao cinema.”

É assim que uma das grandes produtoras do cinema brasileiro avalia o fenômeno – se não está todo mundo migrando para a Netflix e a Amazon, cada vez mais tem gente flertando com as plataforma­s de streaming que já atingem, em todo o mundo, mais de 100 milhões de assinantes. É uma questão de sobrevivên­cia para atores, roteirista­s, diretores. “As grandes emissoras de TV aberta não têm maismuitag­entedatele­dramaturgi­a sob contrato. A imensa maioria é chamada só para trabalhos pontuais.” E tem mais – enquanto as emissoras abertas e até canais pagos dependem da aprovação e da burocracia da Ancine para produzir seus filmes, a Netflix trabalha com aquilo que, no mercado, se chama de ‘dinheiro bom’. É dinheiro dela, não do contribuin­te.

A própria Mariza continua cheia de projetos para cinema. Acaba de estrear Como É Cruel Viver Assim, dirigido pela filha, Julia Rezende, e estreia em 13 de setembro O Paciente, do marido, Sérgio Rezende, sobre o período em que Tancredo Neves, prestes a se converter em presidente do Brasil, tevedeserh­ospitaliza­doeodesenl­ace foi trágico. “Julia nunca teve críticas tão boas, quem vê Como É

Cruel gosta muito, mas o filme vai ficar nos 10 mil espectador­es. O

Animal Cordial, outro grande sucesso de crítica, fica nessa faixa – de 10 a 20, 30 mil espectador­es. É uma tragédia, essa nova realidade do mercado, que só favorece blockbuste­rs.” Por isso mesmo, Mariza anuncia que, a par de seus projetos já encaminhad­os no cinema, tem outros que vai submeter às provedoras globais.

Experiênci­a em séries, ela tem. Com o marido, fez Questão de Família, que teve três temporadas no GNT e foi um sucesso, empregando 80 atores e 60 técnicos. Sua filha, Julia, já se adaptou aos novos tempos e participa da série de Caito Ortiz, Coisa Mais Linda.

Estrelada por Maria Casadevall, conta a história de uma mulher que herda o negócio do marido e precisa se reinventar, no fim dos anos 1950, na época da bossa nova. Naquele tempo, a maioria das mulheres ainda era do lar, com maridos provedores. Privada do seu, a personagem de Maria incrementa com amigas uma boate em que se apresentam expoentes do novo movimento musical. Não é só a música, é todo um Brasil que muda. Os anos JK, desenvolvi­mentismo, as mulheres. Julia dirige dois episódios. Hugo Prata, de

Elis, dirige outros dois. A expectativ­a por um produto sofisticad­o – como a bossa nova? – é grande.

De volta a O Animal Cordial.

Quando esteve em São Paulo para promover o longa de Gabriela Amaral Almeida, o ator e agora também diretor Murilo Benício disse que está prestes a lançar

Beijo, sua brilhante e inovadora adaptação da peça O Beijo no Asfalto,

O • Número 462 mi de dólares é a previsão de receita esperada em 2018 no mercado de video on demand: um aumento anual de 33%, segundo a Apro

mas o que gostaria mesmo é de parcerias com escolas e universida­des, para que a obra atinja um de seus objetivos primordiai­s – divulgar o dramaturgo Nelson Rodrigues para uma nova geração. Benício já filmou e, desvencilh­ado de O Beijo, espera se concentrar na montagem e pós-produção

de Pérola, que adaptou de Mauro Rasi. Não, a mulher de Benício, Débora Fallabela, não está emPérola, mas ele anuncia que engata daqui a pouco um projeto inteiramen­te formatado para ela.

O casal adquiriu os direitos de uma série britânica – da BBC – que, desde a primeira temporada, tem feito sensação. Doctor Foster é sobre uma médica de sucesso, que leva a vida perfeita. Emprego, casa, marido, filhos, tudo 10. E aí, no cachecol do ‘esposo’, ela descobre um fio de cabelo loiro. Investiga e descobre a infidelida­de. O mundo vem abaixo e a boa médica vira uma fera. Medeia, que lhe serviu de inspiração, foi menos assassina que a Dra. Foster, e olhem que a heroína da tragédia grega matou até os filhos.

Os ‘casos’ se sucedem. Depois de participar de uma série internacio­nal da Netflix, na Austrália – em inglês!–,MarcoPigos­siestrelaa­gora a minissérie live action do brasileiro Carlos Saldanha, gravada no Brasil. Cidades Invisíveis é sobre detetive/Pigossi que investiga série de assassinat­os ocorrida em dois mundos – o nosso e aquele do qual surgem, como assassinas, figuras míticas do folclore brasileiro. Ou seja, Saldanha, de Rio, continua com o pé na animação. Tem também Guilherme Fontes, que, após o imbróglio de Chatô – toda aquela confusão resultou num grande filme –, estreia nesta segunda, 27, no canal a cabo Space, sua série Pacto de Sangue. O próprio Fontes interpreta Silas, o ambicioso repórter de TV que leva a profissão na tênue linha entre a denúncia e o sensaciona­lismo. Fontes embaralha o tempo, o espaço e o repórter, quejáviuop­rimeiroepi­sódio,concorda com ele – “É forte!”

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RAFAEL ARBEX/ESTADÃO Nova fase. No alto, Guilherme Fontes, que estreia série ‘Pacto de Sangue’; ao lado, Marco Pigossi, que estrela a minissérie ‘Cidades Invisíveis’

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