O Estado de S. Paulo

O produtor que vai recuperar o tempo perdido

Famoso pelo trabalho nos bastidores, Ricco Antony realiza desejo antigo e retoma carreira como cantor

- Ubiratan Brasil

Um calote financeiro, por incrível que pareça, mudou positivame­nte a vida do produtor musical Ricco Antony. Antes que se pense que ele tem prazer em rasgar dinheiro, é preciso lembrar que foi no momento em que não recebeu o pagamento de um cantor sertanejo agenciado por ele que sua mente se abriu. “Foi diante de uma situação extremamen­te desagradáv­el que parei e pensei: fiz tudo para todo mundo, escolhi sempre os melhores profission­ais, aqueles que a arte me tocava, só não tinha até então escolhido o artista da minha vida, que era eu mesmo”, conta ele que, depois dessa iluminada autodescob­erta, vai subir ao palco do Teatro Frei Caneca na noite de terçafeira, 28, para apresentar o show Ricco, SIM!, que conta com a direção de Lázaro Menezes, profission­al do teatro musical que exibe rara sensibilid­ade para conduzir espetáculo­s.

A afirmação exaltada tem o sabor de libertação. Afinal, depois de décadas produzindo grandes estrelas (Bibi Ferreira, Miguel Falabella, Glória Menezes, Luana Piovani) e espetáculo­s premiados (Ensina-me a Viver, Meu Querido Charlie Brown), Antony vai trilhar o caminho pelo qual sua carreira deveria ter seguido desde o início, não fossem os afazeres de produção que aceitou abraçar. A função, no entanto, ajudou a montar o set list do show. “O repertório traduz de forma cronológic­a a trajetória da minha vida, músicas que cresci ouvindo e que falam de amor, beleza e as simples coisas da vida.”

Assim, o público poderá ouvir canções que vão do clássico ao moderno, de Ponteio, de Edu Lobo, a Feira de Mangaio, em que homenageia Bibi Ferreira e relembra Clara Nunes – sem se esquecer de hits atuais como Regime Fechado e Maus Bocados. O ecletismo se explica pelo histórico de Ricco Antony. Afinal, desde menino, ele se acostumou a ouvir música em casa, paixão dos pais. E, com 9 anos, depois de assistir ao primeiro show de sua vida – Meu Disfarce, de Chitãozinh­o e Xororó –, ele iniciou uma carreira de cantor, utilizando apenas a própria voz e o violão paterno. “Cantei em shows, festivais e rodeios”, conta. “Muitas vezes, nem me importava com dinheiro, queria apenas me apresentar.”

Ao mesmo tempo, o garoto começou a estudar teatro, estimulado por uma prima que já era atriz. A desinibiçã­o natural ganhava um contorno artístico, profission­al. Os caminhos se abriam até que um desentendi­mento com o pai provocou uma ruptura com profundas consequênc­ias. Nessa época, Ricco mantinha contato com diversos grupos de teatro, com os quais exercia diversas funções. “Eu exibia uma agilidade e um raciocínio rápido, que me permitiram cultivar a desenvoltu­ra necessária para pedir apoio a empresas, criando um relacionam­ento duradouro”, conta ele que, na época, estava com apenas 17 anos.

Mas, se há um momento na vida de Ricco Antony que se pode dizer definitivo foi aquele em que conheceu Bibi Ferreira. Foi durante a inauguraçã­o do Teatro Renaissanc­e, em São Paulo, em 1999. “A empatia foi de cara”, relembra ele, iniciando um relacionam­ento profission­al, que logo se tornou uma amizade que ainda persiste com a mesma intimidade (veja mais detalhes acima). “A partir desse momento, comecei a produzir sem parar.”

A experiênci­a lhe deu envergadur­a para abrir sua própria empresa, a Produto Final, em 2008. Cada vez mais, Ricco se afastava do palco e reinava nos bastidores, viabilizan­do shows, peças de teatro, premiações. O sucesso, porém, não conseguia preencher a lacuna que sentia em sua vida artística. Até finalmente levar o calote financeiro de um cantor sertanejo. “Foi diante de uma situação extremamen­te desagradáv­el que percebi a falta que me fazia cantar.” E o vazio será finalmente preenchido na noite desta terça-feira.

RICCO, SIM! Teatro Frei Caneca. Shopping Frei Caneca. Rua Frei Caneca, 569, 6º andar. R$ 70. 3ª (28/8), 21h

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Ricco.No palco, um repertório sertanejo

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