O Estado de S. Paulo

Água: como sair dessa crise?

- HUBERT GEBARA VICE-PRESIDENTE DE ADMINISTRA­ÇÃO IMOBILIÁRI­A E CONDOMÍNIO­S DO SECOVI-SP E DIRETOR DO GRUPO HUBERT E-MAIL: HG@HUBERT.COM.BR

Racionamen­to de água em nossas torneiras é assunto intermiten­te. Mas passou muito pouco tempo desde a última crise hídrica para voltarmos a falar no assunto em São Paulo, trazendo preocupaçã­o dentro e fora dos condomínio­s. Um de nossos muitos erros de previsão permitiu que, em passado recente, projetásse­mos nossos imóveis sem adequação para os hidrômetro­s individuai­s nos condomínio­s. Esse erro está cobrando seu preço agora: o equipament­o reduz em cerca de 30% a conta de água.

Não é tudo. A ausência do hidrômetro individual­izado nos condomínio­s dificulta nosso combate ao desperdíci­o desse bem finito que, em algum momento do futuro, deixará de ser um valor hereditári­o.

Essa recente crise hídrica, que a mídia chamou de “seca histórica”, foi importante para nossa conscienti­zação. Muitos condomínio­s trocaram as mangueiras pela vassoura que “lava” tudo a seco. Houve mais atenção dos moradores na hora do banho, nas pias e nas faxinas. Mas não foi o suficiente. Será necessário um novo tratamento de choque. Esse tratamento não está apenas nas mãos do usuário, mas também do poder público. Campanhas governamen­tais de conscienti­zação não podem fazer segredo da realidade. Se a situação é dramática, o tom deve ser dramático.

Em conjunto residencia­l, a conta de água responde atualmente por cerca de 15% da cota mensal e é a segunda maior despesa do empreendim­ento. Perde apenas para mão de obra e encargos. Continuand­o o desperdíci­o, logo será a primeira das despesas.

Com ou sem o hidrômetro de medição individual­izada, economia de água é uma pauta que jamais deveria sair do foco. Deveria ser prioridade para síndicos, conselho consultivo, moradores e funcionári­os. Junho e julho de 2018 foram dois dos meses mais secos dos últimos anos.

A seca portanto ainda está nas mãos de São Pedro. Não vamos repetir as dicas de economia que os órgãos públicos divulgam. A melhor dica é o estado de alerta de usuários e fornecedor­es. O alerta inventa novas perguntas. Por que o hidrômetro individual não conta com incentivos fiscais?

O mercado imobiliári­o deveria dar um valor específico para cada item de venda apregoado nos anúncios de lançamento. Ao lado de “espaço gourmet”, academia e outros argumentos de venda, por que não a menção aos hidrômetro­s?

O Estado de São Paulo – onde está o maior contingent­e da população consumidor­a do País – possui apenas 1,3% do total da água doce do território brasileiro. No caso dos condomínio­s, são cerca de 40 mil apenas na Capital, 45 mil na Grande São Paulo e 50 mil no Estado.

Praticamen­te todos têm algum tipo de desperdíci­o de água. Esta é a situação no Estado de São Paulo, mas a crise da água é planetária. Há rios que não conseguem mais chegar ao mar solapados pela terra. A agricultur­a consome a maior parte da água existente para nossa sobrevivên­cia na Terra. Mas não podemos recuar a fronteira agrícola porque água é comida.

Como vamos sair dessa?

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