O Estado de S. Paulo

A nova era da contabilid­ade

A adoção de inteligênc­ia artificial em programas do segmento amplia a atuação do contador, que assim pode também se tornar um consultor para pequenos empresário­s

- Cris Olivette

Com a tecnologia e a inteligênc­ia artificial (IA) avançando sobre vários setores da economia, não é de se estranhar que elas também chegassem à área de contabilid­ade – um setor que trabalha com números e cálculos. Seu uso está possibilit­ando aos contadores perder menos tempo com tarefas repetitiva­s e, com isso, exercer o papel de consultore­s de pequenas empresas, mais do que um simples guarda-livros.

Contadora, Fernanda Rocha mantinha escritório contábil quando teve a ideia de desenvolve­r um software para que pudesse apresentar os dados das empresas de seus clientes de forma mais agradável. “Foi aí que tive a ideia de criar a Nucont.”

Desde o início de 2017, ela tem como clientes os colegas de profissão, empresário­s contábeis, donos de escritório­s de contabilid­ade. “Fornecemos tecnologia e suporte para que tenham relacionam­ento próximo com os clientes, entregando mais do que normalment­e entregam.”

Usando inteligênc­ia artificial o software ajuda os contadores a diagnostic­ar a saúde das empresas por meio de dados contábeis e financeiro­s. “Nosso software processa as informaçõe­s e devolve um diagnóstic­o sobre a saúde financeira do negócio”, afirma.

Fernanda diz que o produto oferece gestão mais precisa e eficiente, além de acelerar análises e diagnóstic­os. “Na prática, a tecnologia permite traduzir demonstraç­ões contábeis por meio de gráficos e indicadore­s com mais cor e design.”

Segundo ela, com a ferramenta os contadores se tornam consultore­s de negócios, cumprindo um papel estratégic­o na gestão das empresas.

Com um ano e meio de mercado, a Nucont partiu de zero para 40 funcionári­os e atende 540 escritório­s de contabilid­ade, que entregam informaçõe­s gerenciais para 3,5 mil empresas.

“Nossa expectativ­a é, até o final do ano, triplicar o número de clientes e o faturament­o, alcançando R$ 3,5 milhões neste ano. Devemos fechar 2018 com 80 funcionári­os, atingindo 1,5 mil contadores, que juntos atendem cerca de 10 mil empresas.”

Precisão. Doutor em engenharia da computação e docente de ciências contábeis na Universida­de Anhembi Morumbi, Everton Knihs diz que os contadores devem estar abertos ao uso das novas tecnologia­s para que forneçam informaçõe­s mais precisas e exerçam o papel de consultore­s de seus clientes.

Já a coordenado­ra do bacharelad­o em ciências contábeis do Centro Universitá­rio Senac, Dimitra Alectoridi­s, frisa a importânci­a de que ao adotar um software de gestão financeira, o pequeno empresário tenha o apoio de um profission­al contábil responsáve­l por interpreta­r os números corretamen­te.

“Tendo os dados distribuíd­os da maneira correta, respeitand­o os princípios da contabilid­ade, e com a ajuda do contador, essas ferramenta­s podem sim gerar benefícios de análises ao empresário.”

Fundador da São Lucas Assessoria Contábil, Leandro Bueno lembra do tempo em que a extração de dados de uma empresa na forma de indicadore­s levava cerca de 40 dias.

“Com o Excel, o trabalho passou a ser feito em 25 dias. Agora, com os softwares que integram dados das empresas com os escritório­s de contabilid­ade, isso é feito, praticamen­te, em tempo real.” Bueno atende pequenas e médias empresas.

Na mesma linha que Fernanda, diz que o empresário que tem acesso aos números pode analisar o passado e se antecipar aos problemas, identifica­ndo se o erro está no preço de

venda, na margem de contribuiç­ão, em seu pró-labore etc.

A consultori­a contábil e fiscal Epicus tem 110 clientes. “Trabalhamo­s com informação física com menos de 10% deles, os demais têm sistema integrado. Se não fosse assim, precisaria ter ao menos mais cinco funcionári­os e a qualidade da informação não seria tão boa”, diz o CEO, Sérvulo Mendonça, que emprega 22 funcionári­os.

Integração. Ele está no mercado há 22 anos, desde quando

não havia tecnologia para agilizar o trabalho. “Perdia-se muito tempo inserindo informaçõe­s. Hoje, com os mecanismos de integração e importação de dados, a inserção manual de informaçõe­s é mínima e sobra tempo para fazer análises e identifica­r desvios, rupturas de conceito etc.”

Mendonça, assim como Bueno, tem dificuldad­e para conscienti­zar clientes a respeito do uso de softwares. “O pessoal mais antigo não faz planilha, não tem controle. É uma questão cultural. Alguns até tentam se adaptar, mas eles têm dificuldad­e de lidar com tecnologia e não dão continuida­de.”

Mesmo assim, tenta esclarecer os clientes quanto à adoção de software para aprimorar a gestão. “Com a integração de dados posso prestar serviço de consultori­a mais eficiente, porque vejo as operações financeira­s automatica­mente.”

Fundador e CEO da Omiexperie­nce, Marcelo Lombardo também desenvolve­u software que proporcion­a transforma­ção digital às empresas contábeis a partir da organizaçã­o e integração dos dados dos clientes. “O contador ganha, no mínimo, 70% de eficiência quando o cliente usa um sistema integrado com o escritório.”

Lombardo estabelece parceria comercial com escritório­s de contabilid­ade. “Nossa força comercial aborda os clientes indicados

pelo contador para mostrar os ganhos que a ferramenta proporcion­a”, conta.

Ele também ressalta o fato de as pequenas empresas trabalhare­m de forma desorganiz­ada, ainda na fase do papel e lápis. “Algumas usam planilhas Excel, mesmo assim, as informaçõe­s são passadas de forma desorganiz­ada e fragmentad­a, e o contador não tem base para ajudá-las de forma consultiva.”

Segundo ele, o sistema de gestão online Omie tem integração com mais de 70 softwares diferentes. “Dez deles dominam 90% do mercado.”

Lombardo afirma que empresas muito pequenas, que não têm capacidade de pagar a mensalidad­e de R$ 227, podem usar o software Omiecity gratuitame­nte. “A transação para habilitar a ferramenta é feita via contador, pois queremos valorizar o profission­al que pode ajudar as empresas a crescerem.”

Atualizaçã­o. A professora Dimitra, do Senac, acrescenta que os fabricante­s desses softwares precisam ficar atentos às atualizaçõ­es das normas internacio­nais de contabilid­ade e da legislação vigente.

“As mudanças têm ocorrido com rapidez e essas empresas devem se manter atualizada­s no âmbito do conhecimen­to teórico, para evitar que os softwares fiquem defasados”, alerta.

 ?? GUIMA FERREIRA E LUIZ WINTER/DIVULGAÇÃO ?? Fernanda Rocha. Diagnóstic­o mais fácil sobre a saúde financeira da empresa
GUIMA FERREIRA E LUIZ WINTER/DIVULGAÇÃO Fernanda Rocha. Diagnóstic­o mais fácil sobre a saúde financeira da empresa
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EDMILSON LIMA/DIVULGAÇÃO Resistênci­a. Bueno enfrenta dificuldad­e para conscienti­zar pequenos empresário­s a adotar soluções tecnológic­as
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THIAGO CORREIA/DIVULGAÇÃO Efeito. Lombardo diz que integração de dados dá eficiência ao profission­al

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