A liberação feminina chega para a 3ª idade
Leve e agudo, longa paraguaio ‘As Herdeiras’ tem colecionado prêmios
A produção paraguaia As Herdeiras (Las Herederas) foi a grande unanimidade do recém-encerrado Festival de Cinema de Gramado. Fez a chamada tríplice coroa: ganhou como melhor filme do júri oficial e levou os prêmios do público e da crítica. Dividiu o troféu de melhor atriz entre suas três intérpretes principais e ainda levou os Kikitos de melhor direção e roteiro, ambos de Marcelo Martinessi. Já havia vencido os Ursos de Prata de melhor atriz (Ana Brun) e direção (Martinessi) no prestigiado Festival de Berlim.
Tanta consagração se justifica? O público verá que sim. Tudo é de alto nível, a começar pela trinca de intérpretes. Chela (Ana Brun) e Chiquita (Margarita Irun) são duas senhoras que vivem juntas numa espaçosa e velha casa, mas precisam vender a prataria e os móveis para pagar as contas. Isso não impede que Chiquita vá passar uns tempos no xilindró, processada por credores. Enquanto isso, Chela descobre que pode levantar uns trocados servindo de motorista a vizinhas da mesma idade. Numa dessas incursões, conhece uma mulher um pouco mais jovem, a ousada Angy (Ana Ivanova). Ana Brun, Margarita Irun e Ana Ivanova dividiram o Kikito de melhor atriz estrangeira.
Las Herederas é, de ponta a ponta, um filme sobre mulheres. No fundo, fala de uma história de liberação, pois no casal formado por Chela e Chiquitita, esta última ocupa o lugar de dominante. Chela não perderá a oportunidade causada por essa situação paradoxal – enquanto a parceira perde a liberdade, ela a obtém.
Leveza, graça e pontaria ao abordar determinadas questões espinhosas fazem a força dessas Herdeiras. Muito bem filmado, amparado em roteiro sólido e com grandes interpretações, o longa veio trazer um pouco de luz ao desanimado panorama cinematográfico. Talvez possa desfazer alguns preconceitos se for visto com carinho e espírito alegre.