A erudição numa embalagem de aventura e fantasia
Há um volume, editado no Brasil, com a troca de correspondência entre J. R. R. Tolkien e C. S. Lewis. Integraram o grupo de discussão e colaboração literária The Inklings. Eram eruditos, Tolkien, um renomado filólogo, e Lewis, um crítico literário. Tolkien especializou-se no estudo de lendas e ritos pagãos; Lewis, um eminente medievalista, era o que se pode definir como apologista cristão. Com o tempo, declarou-se ateu, mas a influência de Tolkien foi decisiva para que voltasse a professar a fé cristã.
Por mais cultos que tenham sido, os dois dedicaram-se a um ramo da literatura, o fantástico, muitas vezes sujeito a controvérsia. Estudiosos de países como a Inglaterra, os EUA e a França têm a fantasia em alta conta. Países como o Brasil tendem a professar a fantasia como um gênero menor, preferindo as formas do realismo como mais sérias. Esquecem-se de que a Ilíada e a Odisseia,o Gilgamesh, a própria Bíblia são narrativas fundadas sobre mitos. E, sobre elas, construíram-se civilizações.
Tolkien amava O Silmarillion, que considerava sua maior realização e foi publicada postumamente. Sua popularidade decorre principalmente da saga de O Senhor dos Anéis, que o cinema ajudou a expandir. Houve uma primeira versão, animada e condensada, de Ralph Bakhshi, antes da de Peter Jackson, cuja terceira parte, O Retorno do Rei, venceu o Oscar. Para criar seus orcs, Jackson desenvolveu técnicas avançadas de efeitos, inclusive criando um personagem inteiramente digitalizado, o Gollum, com base no que chamou de motion capture, a captura dos movimentos. Os volumes das Crônicas de Nárnia, de Lewis – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, O Príncipe Caspian, etc – não gozam da mesma reputação e são considerados infantilizados. Uma leitura acurada revela complexidades. Era o que já assinalava o primeiro tradutor de Lewis no Brasil, Paulo Mendes Campos.