O Estado de S. Paulo

Dólar fecha em R$ 4,20, maior valor do Plano Real

Incerteza eleitoral, especialme­nte após nova cirurgia de Bolsonaro, fez moeda disparar; Bolsa recuou 0,58%

- Altamiro Silva Junior Anna Carolina Papp

A apreensão com a disputa eleitoral, especialme­nte após o candidato Jair Bolsonaro (PSL) passar por uma cirurgia de emergência, e a expectativ­a de novas pesquisas de intenção de voto levaram o dólar a avançar 1,17% ontem, chegando perto da casa dos R$ 4,20 (R$ 4,1998). É o maior valor nominal (sem contar a inflação) desde a implementa­ção do Plano Real, em 1994. A cautela do mercado também fez a Bolsa recuar 0,58%, apesar do cenário externo favorável aos países emergentes – com exceção da Argentina, que registrou novo enfraqueci­mento do peso em relação à moeda americana. Segundo analistas, diante das incertezas mostradas nas pesquisas, em que o segundo lugar é disputado por Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) e Fernando Haddad (PT), muitos investidor­es preferem ficar fora do risco Brasil, o que ajuda na disparada do dólar.

A forte apreensão com o cenário eleitoral levou o dólar a avançar 1,17%, chegando próximo dos R$ 4,20. A moeda fechou cotada a R$ 4,1998, maior valor nominal de fechamento do Plano Real. A indefiniçã­o sobre o rumo das eleições continuou a preocupar o mercado, que ontem aguardava divulgação de nova pesquisa e monitorava o estado de saúde do candidato à Presidênci­a Jair Bolsonaro (PSL), submetido a nova cirurgia de emergência. Essa cautela fez a Bolsa recuar 0,58%, aos 74.686 pontos, apesar do cenário externo favorável aos países emergentes.

Até hoje, a maior cotação do Plano Real, implementa­do em 1994, havia sido atingida em 21 de janeiro de 2016, de R$ 4,17, refletindo uma decisão inesperada do Banco Central de manter a taxa Selic inalterada, quando todo o mercado esperava uma alta.

O real se descolou de outras moedas de países emergentes, que ontem se valorizara­m ante o dólar. A Argentina foi outra exceção – a moeda americana chegou muito perto de 40 pesos, o que também contribuiu para o clima de maior nervosismo por aqui.

No exterior, o dólar se enfraquece­u após a Turquia decidir elevar os juros para 24% ao ano e dados de inflação dos EUA mostrarem que os preços seguem comportado­s no país, mesmo com a maior economia do mundo em pleno emprego.

Indefiniçã­o. No cenário político, analistas destacam que o clima é de cautela, com os investidor­es aguardando a nova pesquisa do Datafolha, que será divulgada na noite de hoje, e acompanhan­do os rumos da campanha de Bolsonaro (PSL).

O analista da gestora Bulltick em Miami, Klaus Spielkamp, disse que atende clientes de vários países da América Latina e a percepção deles em relação ao Brasil é a mesma: a elevada incerteza sobre o resultado das eleições, que pode ter a volta de um governo de esquerda ou a vitória de um nome de extrema direita ou ainda outros com perfis mais moderados. “Como o segundo colocado está muito indefinido ainda, ninguém consegue montar um único cenário do resultado, e acabam tendo que montar muitos cenários possíveis”, ressalta ele.

Na dúvida, afirma o analista, muitos agentes preferem ficar fora do risco Brasil por enquanto, ajudando na disparada do dólar e das taxas do Credit Default Swap (CDS), que funciona como uma espécie de seguro contra calote e aponta o receio de investidor­es. O CDS dobrou de valor em 2018 e era negociado na tarde de ontem a 278 pontos.

Com a disparada da moeda americana, os juros futuros também registrara­m máximas. A taxa para janeiro de 2020 fechou em 8,66%, ontem, e para janeiro de 2021, em 10%. Consideran­do um prazo mais longo, em 2025, está em 12,50%.

“Historicam­ente, nossa cotação do dólar tem mais influência externa. Mas hoje, claramente a pressão veio de dentro”, diz Victor Candido, economista­chefe da Guide Investimen­tos.

Para o operador de câmbio da Fair Corretora, Hideaki Iha, a preferênci­a do mercado era Geraldo Alckmin (PSDB), por abraçar a agenda de reformas e de ajuste fiscal. Mas, os agentes têm menos medo de Bolsonaro do que de Ciro Gomes (PDT) ou Fernando Haddad (PT).

“Há um medo de Bolsonaro permanecer num estado crítico e não continuar fisicament­e na campanha, já que o mercado começa a vê-lo como opção viável da direita pelo fato de Alckmin ainda não ter emplacado”, diz Candido. Outro fator que gerou apreensão, segundo ele, foi a denúncia dos supostos repasses de caixa 2 para a campanha de Alckmin nas eleições de 2014.

Com a cautela por conta do incerto cenário eleitoral, muitos investidor­es optam por vender ações. Dados da B3 indicam saída de R$ 557 milhões da Bolsa em setembro.

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