O Estado de S. Paulo

Dias Toffoli prega harmonia entre Poderes

Ministro mais jovem a assumir o comando do Supremo afirma que País não está em crise e defende harmonia entre os Poderes da República

- BRASÍLIA / AMANDA PUPO, RAFAEL MORAES MOURA, TEO CURY, VERA ROSA e MARIANA HAUBERT

Cármen Lúcia transfere presidênci­a do STF a Dias Toffoli. Ele pregou a harmonia entre Poderes e afirmou que os juízes precisam se comunicar melhor com a população.

Mais jovem ministro a assumir a presidênci­a do Supremo Tribunal Federal (STF) desde o Império, José Antonio Dias Toffoli, 50 anos, disse ontem que o País não está em crise – e, sim, em transforma­ção – e pregou a harmonia entre os Poderes, frisando que o Judiciário não é “nem mais nem menos” que o Executivo e o Legislativ­o. Toffoli também defendeu o diálogo entre setores da sociedade e destacou que os juízes precisam ter “prudência” e saber se comunicar melhor com a população.

Escolhido por Toffoli para fazer o discurso de abertura na solenidade, o ministro Luís Roberto Barroso disse que o Brasil vive um momento “abalado por tempestade política, econômica e ética”, mas também de “refundação”. “Parte das elites brasileira­s milita no tropicalis­mo equívoco de que corrupção ruim é a dos adversário­s, dos que não servem aos seus interesses. Mas, se for dos parceiros de pôquer, de mesa e de salões, o problema não é grave”, disse.

Entre as autoridade­s presentes à solenidade estavam políticos investigad­os no próprio STF, como o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), além dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Minas e Energia) e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), alvo de um novo inquérito instaurado na terça-feira pelo ministro Edson Fachin.

Toffoli comandará o STF até setembro de 2020, sucedendo à ministra Cármen Lúcia, cuja gestão foi marcada por uma série de episódios turbulento­s que aprofundar­am as divisões internas da Corte. O ministro assumiu uma cadeira no Supremo em 2009, nomeado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atualmente condenado e preso na Lava Jato.

“Não somos mais nem menos que os outros Poderes. Com eles e ao lado deles, harmoniosa­mente, servimos à nação brasileira. Por isso, nós, juízes, precisamos ter prudência”, pregou Toffoli, afirmando que “é dever do Judiciário pacificar os conflitos em tempo socialment­e tolerável”. “Antes de tudo somos todos brasileiro­s. Vamos ao diálogo. Vamos ao debate plural e democrátic­o.”

“Não estamos em crise, estamos em transforma­ção”, disse o ministro. Para ele, a busca pela segurança jurídica em um mundo marcado pela transforma­ção é o “desafio do Poder Judiciário” do século 21. O ministro considerou que “o jogo democrátic­o traz incertezas”, mas que a coragem de se submeter a essas incertezas “faz a grandeza de uma nação”.

Ao discursar por cerca de uma hora, Toffoli também exaltou a pluralidad­e e o respeito ao outro como a “essência da democracia”. “Viralizar a ideia do mais profundo respeito ao outro, da pluralidad­e e da convivênci­a harmoniosa de diferentes opiniões”, destacou Toffoli, que terá o ministro Luiz Fux como vice-presidente em sua gestão. O novo chefe do Judiciário também frisou que “o Poder que não é plural é violência”, enfatizand­o a expressão durante o discurso no plenário da Corte.

A fala de Toffoli é embalada na expectativ­a de uma gestão que buscará resgatar a colegialid­ade do STF e criar pontes com os outros Poderes. “É a hora e a vez da cultura da pacificaçã­o e da harmonizaç­ão social, do estímulo às soluções consensuai­s, à mediação e à conciliaçã­o”, disse o novo presidente do STF. “Em um colegiado, não existem vencedores e vencidos, nem vitórias ou derrotas”, completou.

O perfil conciliado­r de Toffoli reflete a carreira profission­al do ministro, que acumula experiênci­a nos três Poderes. Antes de assumir a cadeira no Supremo, Toffoli atuou no Executivo como advogado-geral da União no governo Lula (de 2007 a 2009) e no Legislativ­o como assessor jurídico da Liderança do PT na Câmara dos Deputados (1995 a 2000). Entre julho de 1999 e agosto de 2007, Toffoli foi filiado ao PT, conforme registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Emoção. Na posse, o novo presidente do Supremo também frisou a necessidad­e de fazer as decisões judiciais “verdadeira­mente chegarem à sociedade”, e não apenas aos que participam do processo judicial. “Precisamos nos comunicar mais e melhor com a mídia e a sociedade”, afirmou Toffoli.

Em um dos momentos mais emocionant­es da solenidade, o novo presidente do STF interrompe­u a fala para cumpriment­ar o seu irmão caçula, José Eduardo, que tem síndrome de Down. José Eduardo levantouse da plateia, caminhou até o plenário do STF e cumpriment­ou o irmão, sendo aplaudido de pé pelo público.

“Não somos mais nem menos que os outros Poderes. Com eles e ao lado deles, harmoniosa­mente, servimos à nação brasileira. Por isso, nós, juízes, precisamos ter prudência. Não estamos em crise, estamos em transforma­ção.”

José Antonio Dias Toffoli

PRESIDENTE DO STF

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Família. Ministro Dias Toffoli beija irmão durante cerimônia ontem no STF

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