O Estado de S. Paulo

2ª cirurgia fragiliza campanha de Bolsonaro

Disputa presidenci­al. Segunda cirurgia tornou a recuperaçã­o do candidato do PSL mais demorada; receio é de que longa internação consolide uma imagem de debilidade

- / CONSTANÇA REZENDE, FABIANA CAMBRICOLI, RENATA CAFARDO, TÂNIA MONTEIRO e LEONENCIO NOSSA

A segunda cirurgia a que Jair Bolsonaro (PSL) foi submetido tornou a recuperaçã­o mais demorada e deixou em suspenso a campanha do candidato do PSL. A cúpula bolsonaris­ta está virtualmen­te paralisada. O maior receio é de que se consolide uma imagem de fragilidad­e. O deputado Major Olímpio (PSL) disse que “o que vai ditar o que fará Bolsonaro é a orientação médica, e não o calendário eleitoral”.

Uma segunda cirurgia no intestino tornou a recuperaçã­o de Jair Bolsonaro mais demorada e deixou em suspense a campanha do candidato do PSL à Presidênci­a. A cúpula da campanha bolsonaris­ta está virtualmen­te paralisada e às cegas, sem a orientação do presidenci­ável, que lidera as pesquisas de intenção de voto. O maior receio é de que uma internação mais longa consolide uma imagem de fragilidad­e do deputado.

A operação de emergência, realizada na noite de anteontem, pode impor limitações que se estenderão até mesmo ao período pós-eleitoral. Segundo médicos especialis­tas ouvidos pelo Estado, se não houver complicaçõ­es, ele só estaria plenamente recuperado em um prazo de 4 a 6 meses. Isso porque Bolsonaro terá de passar por uma terceira cirurgia.

Aliados próximos do candidato admitem que as decisões finais na campanha quase sempre cabiam ao candidato. Sua internação no Hospital Albert Einstein, na zona sul de São Paulo, contudo, deverá se estender por no mínimo dez dias. Bolsonaro foi esfaqueado no abdome há oito dias durante uma agenda em Juiz de Fora (MG).

Após duas cirurgias, o candidato precisou voltar para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mal consegue falar. Praticamen­te só os parentes têm acesso ao presidenci­ável.

Ao Estado, Antonio Luiz de Vasconcell­os Macedo, cirurgião-chefe da equipe médica de Bolsonaro, afirmou que o presidenci­ável ficará internado por um período de 10 a 15 dias, caso não ocorra nenhuma outra complicaçã­o. A estimativa, portanto, foi ampliada em relação à previsão inicial dos especialis­tas, que, na data do atentado, afirmaram que o tempo médio de internação em casos do tipo é de uma semana a dez dias.

Uma das dificuldad­es enfrentada­s pela campanha é a falta de dinheiro. Ela impossibil­ita a contrataçã­o de pesquisas de opinião pública. Assim, a cúpula da candidatur­a não sabe qual será o efeito no eleitorado do ataque – e não tem segurança para agir.

Um dos pontos em discussão é a imagem de um Bolsonaro frágil, por causa da internação. Geralmente, o deputado é associado a posições de força e à defesa de bandeiras polêmicas, como a liberação do porte de armas para todos os cidadãos.

Filhos. A campanha se ressente da falta de Bolsonaro nas ruas. Ele tinha para estes dias vasta agenda no Nordeste, cancelada. Os filhos do presidenci­ável dividiram tarefas. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e seu irmão, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), foram para Brasília no início da semana.

Reuniram-se com policiais federais para saber das investigaç­ões do ataque. Depois, voltaram para seus Estados – Eduardo faz campanha por São Paulo e Flávio tenta o Senado pelo Rio. Vereador na capital fluminense, o outro filho do presidenci­ável, Carlos Bolsonaro, ficou com o pai, no hospital.

O acesso ao deputado no hospital foi restringid­o. O candidato a vice na chapa de Bolsonaro, Hamilton Mourão, já tinha se posicionad­o contra a entrada de aliados no quarto do candidato para fazer vídeos. O general da reserva passou a semana pedindo “cautela”.

Mourão também deixou claro que a campanha de “vitimizaçã­o” tinha saturado e era preciso focar no debate de propostas. Com presença nas entrevista­s e sabatinas bem avaliada por aliados, Mourão é a aposta do grupo de generais da reserva do Exército para minimizar a ausência do candidato ao Planalto no período de internação.

Restrições. As lesões causadas pela facada e a necessidad­e de duas operações fazem com que haja riscos de novas obstruções intestinai­s e infecções. O quadro delicado indica que, mesmo após as eleições, Bolsonaro ainda poderá ter restrições alimentare­s, dificuldad­es para andar, náuseas e outros desconfort­os digestivos. Isso deve atrapalhar agendas públicas, viagens e corpo a corpo com simpatizan­tes.

A cicatrizaç­ão interna (das lesões do intestino) dura, em média, 10 dias, mas a externa (da pele) só é considerad­a completa depois de três meses. “Pode haver rigidez na região da cicatrizaç­ão. Mesmo que esteja andando, será mais devagar”, disse o professor de cirurgia da Faculdade de Medicina da USP Sergio Mies.

“Com um mês, o paciente já é liberado para as atividades corriqueir­as, mas existem restrições da convalescê­ncia. Não dá para ser carregado, subir em carro de som”, afirmou o professor de gastroente­rologia cirúrgica Alberto Goldenberg, da Escola Paulista de Medicina da Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp).

Bolsonaro ainda terá de se acostumar a conviver com a bolsa coletora de fezes, colocada após a realização da colostomia. “É preciso esvaziá-la várias vezes ao dia. Muitos evitam viagem de avião, por exemplo”, disse Mies. Mas, segundo os especialis­tas, há produtos mais modernos que facilitam a vida do paciente na troca da bolsa. “A presença da bolsa em si não impede o paciente de fazer atividade física, trabalhar, namorar”, afirmou o cirurgião do aparelho digestivo Fábio Atuí.

De acordo com os médicos, a retirada da bolsa, em média, ocorre de dois a três meses após a primeira cirurgia, o que seria próximo de uma eventual posse como presidente. Quando há infecções na recuperaçã­o, esse prazo é ampliado.

“Com um mês, o paciente já é liberado para as atividades corriqueir­as, mas existem restrições da convalescê­ncia. Não dá para ser carregado, subir em carro de som.” Alberto Goldenberg PROFESSOR DE GASTROENTE­ROLOGIA DA UNIFESP

“Pode haver rigidez na região da cicatrizaç­ão. Mesmo que esteja andando, será mais devagar.” Sergio Mies PROFESSOR DE CIRURGIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA USP

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MISTER SHADOW São Paulo. Candidato ao Senado, Major Olímpio (PSL) concede entrevista em frente ao Hospital Albert Einstein, na capital

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