O Estado de S. Paulo

Invasor de jogo da Copa pode ter sido envenenado

Pyotr Verzilov, membro do Pussy Riot, está internado em hospital de Moscou em estado crítico após perder visão, fala e mobilidade

- MOSCOU / AFP, AP e NYT

Mais um crítico do governo de Vladimir Putin pode ter sido alvo de envenename­nto. Piotr Verzilov, ativista do grupo punk russo Pussy Riot, foi internado em um hospital de Moscou em estado “crítico”. Segundo pessoas próximas, ele “começou a perder a visão, a fala e a mobilidade” antes de ser hospitaliz­ado, na terça-feira.

Verzilov é um dos poucos homens no grupo feminista Pussy Riot. Ele e três mulheres invadiram o gramado do estádio Luzhnik, em Moscou, n a final da Copa do Mundo entre França e Croácia, para protestar contra abusos de direitos humanos na Rússia. Ele foi capturado e ficou 15 dias na prisão.

A companheir­a de Verzilov, Veronika Nikulshina, afirmou que ele começou a se sentir mal pouco depois de comparecer a uma audiência em um tribunal de Moscou. No fim da tarde de terça-feira, ele se deitou para descansar e, quando Veronika chegou em casa, duas horas depois, Verzilov disse que estava perdendo a visão.

“Entre 20 horas e 22 horas seu estado piorou gradualmen­te. Primeiro, foi a visão. Depois, sua capacidade de fala e de movimento”, relatou Veronika. “Quando chegaram os paramédico­s, seu estado piorou rapidament­e e ele começou a convulsion­ar. No caminho do hospital, na ambulância, caiu em um estado meio inconscien­te e deixou de responder e de me reconhecer”, continuou a companheir­a de Verzilov.

Segundo ela, os médicos não encontrara­m “nada de errado” em seu diagnóstic­o preliminar, mas durante a madrugada “transferir­am Verzilov repentinam­ente para a unidade de toxicologi­a do hospital”.

Verzilov foi um dos fundadores do Pussy Riot e um de seus principais apoiadores nos anos em que suas líderes permanecer­am presas. Até o ano passado, ele era casado com a líder do grupo, Nadya Tolokonnik­ova. Antes de se juntar ao grupo, ele era um estudante de filosofia que deixou a faculdade para se tornar artista plástico e performáti­co com o grupo Voyna (a palavra russa para “guerra”).

Enquanto Nadya Tolokonnik­ova e outra integrante do Pussy Riot, Maria Alekhina, estiveram atrás das grades, Verzilov trabalhou para chamar a atenção do mundo para o caso, para manter apelos e queixas na Justiça contra a prisão.

As integrante­s do grupo foram libertadas em dezembro de 2013 e Verzilov as ajudou a angariar fundos para uma organizaçã­o de direitos dos prisioneir­os e para um site de notícias em defesa dos direitos humanos.

Envenename­ntos de inimigos da Rússia não são novidade. Só na Inglaterra, desde os anos 2000, ao menos 15 dissidente­s ou críticos do governo de Vladimir Putin foram envenenado­s. Se considerar os casos de envenename­ntos suspeitos na Rússia, o número chega a quase 30.

“Autoridade­s de inteligênc­ia russas transforma­ram envenename­ntos políticos em algo corriqueir­o e numa espécie de forma de arte”, escreveu na revista

The New Yorker a jornalista Masha Gessen. “Que os inimigos russos do atual regime são frequentem­ente mortos, mais frequentem­ente por envenename­nto, é um fato que não requer elaboração.”

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CHRISTIAN HARTMANN/REUTERS-15/7/2018 Preso. Verzilov invade final da Copa em Moscou

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