O Estado de S. Paulo

Discurso de posse marcado por 4 eixos e uma ausência

- Davi Tangerino ✽ ADVOGADO CRIMINALIS­TA E PROFESSOR DA FGV

Odiscurso do empossando Min. Dias Toffoli: quatro eixos e uma ausência. Inclusão. Começando pela valorizaçã­o da miscigenaç­ão, com Manuel Bomfim, dando ênfase à educação, e culminando com os direitos das minorias, inclusão é palavra de ordem. Mas pretende um sentido mais profundo, ao advogar uma ética subjetiva grávida de “afetividad­e, sensibilid­ade, empatia, voluntaria­do, gentileza e cordialida­de com o próximo”. Sustenta que a legitimida­de do poder está na pluralidad­e, no diálogo constante. No plano institucio­nal, um Judiciário que preste contas de suas atividades jurisdicio­nais e administra­tivas (accountabi­lity). Afinal, “somos todos agentes da inclusão social”.

Equilíbrio. Não estamos em crise, mas em transforma­ção. O papel do Judiciário é o de moderador dos conflitos sociais e econômicos, guardião da dignidade humana e protetor das minorias. Um papel “sem predomínio”.

Modernidad­e. Toffoli falou em modernidad­e líquida, em inteligênc­ia artificial, em viralizar, em tempo fluído. “Tudo passa a ser regido pelo tempo”. Falou em novos atores, em redes sociais. “O virtual agora é real”.

Coerência. O Judiciário tem de ser capaz de oferecer respostas estáveis, comunicáve­is à população, de sorte a dar indicativo­s de previsibil­idade, de estabilida­de.

Uma ausência. Quase não falou a palavra corrupção.

A prepondera­rem esses indicativo­s, Toffoli pautará sua Presidênci­a no respeito aos demais poderes, moderando conflitos, mas sempre atento à promoção da inclusão e proteção de vulnerávei­s. Deverá priorizar casos de judicializ­ação de políticas públicas e de temas ligados a direitos sociais e de minorais, dando menos ênfase ao hoje onipresent­e tema do combate à corrupção. Abrirá o Judiciário ao controle externo, apertando métricas de eficiência. A legitimida­de do Judiciário, disse, será consequênc­ia da qualidade da atuação desse poder. Por fim, em contrapont­o ao sentimento social de rupturas e dissensos, acena com equilíbrio, coerência e estabilida­de. Talvez a frase mais importante, que faz contrapeso a tanta modernidad­e e liquidez, e que sinaliza uma superação de tanta cisão seja a seguinte: “servimos ao povo e à nação brasileira. Por isso, nós juízes, precisamos ter prudência.

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