O Estado de S. Paulo

França reconhece tortura sistemátic­a na Argélia

- PARIS / A.N.

Em um gesto inédito e histórico, o presidente da França, Emmanuel Macron, reconheceu ontem a responsabi­lidade do Estado francês na tortura e morte do militante comunista Maurice Audin, assassinad­o nos porões da repressão na Argélia.

O destino do matemático argelino foi selado no dia 11 de junho de 1957, durante a Batalha de Argel, e até aqui a autoria de sua morte e o envolvimen­to do Estado não haviam sido oficialmen­te explicados por nenhum governo. Além do anúncio, Macron visitou a viúva de Audin, Josette Audin, de 87 anos.

Antes dele, o ex-presidente socialista François Hollande, que governou entre 2012 e 2017, havia reconhecid­o apenas que o matemático não havia fugido da prisão, como explicava a versão oficial das Forças Armadas.

“O presidente decidiu que é tempo de a nação cumprir um trabalho de verdade sobre o assunto”, diz o comunicado distribuíd­o pelo Palácio do Eliseu. “Ele reconhece, em nome da república, que Maurice Audin foi torturado e executado ou torturado até a morte por militares que o haviam detido em seu domicílio.”

Como o jornalista Vladimir Herzog no Brasil, Audin representa um símbolo da repressão violenta do Estado francês na guerra de libertação da Argélia, ex-colônia francesa na África. Sua prisão arbitrária, seu desapareci­mento, as suspeitas de tortura e de morte, foram por 61 anos usadas como exemplo das arbitrarie­dades das Forças Armadas francesas no conflito.

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