O Estado de S. Paulo

‘No início, ele era sutil. Depois começou a me convidar para sair’

Mulher conta como foi perseguida e a insistênci­a do abusador acabou até por destruir seu casamento

- José Maria Tomazela SOROCABA

Depois de três anos sofrendo assédio sexual, a funcionári­a administra­tiva concursada de uma prefeitura paulista decidiu, no ano passado, denunciar o abusador à polícia. O homem só foi afastado em julho deste ano, mas ela não sabe se em razão de sua denúncia ou por outras irregulari­dades. “Até agora, ninguém me procurou para dar uma satisfação.”

Maria (nome fictício), tem 51 anos e uma filha adolescent­e. Ela conta que trabalha na repartição pública há dez anos, mas o assédio começou entre 2013 e 2014. “No início era de forma sutil, ele me elogiava, mas depois começou a me convidar para sair. Eu desconvers­ava, mas ele insistia. Foi quando ele começou a me mandar mensagens, dizendo que eu era isso e aquilo e tinha de ser dele, que ele era o meu homem.”

Desgaste. A mulher conta que isso destruiu seu casamento. “Ele me mandava mensagens e fotos pornográfi­cas, insistindo para que saísse com ele. Foi ficando algo doentio, pois ele passava de carro na frente da minha casa e me perseguia. Eu pensei em denunciar à polícia, mas fui desaconsel­hada por colegas, pois ele ocupava um cargo importante. Só que meu marido viu as mensagens e fotos. Houve desgaste e nos separamos.”

Quando o abusador agarrou outra funcionári­a no refeitório e ela o denunciou, Maria também criou coragem. Em julho do ano passado, ela procurou a polícia e fez um boletim de ocorrência. “Eu estava com medo que ele me atacasse. Fui ouvida e contei tudo. Só então a prefeitura abriu uma sindicânci­a e fui ouvida pelo secretário. Em julho deste ano, ele (o abusador) acabou afastado da prefeitura, com outros funcionári­os do departamen­to, mas não sei se a razão foi minha denúncia.”

Além de negar as acusações, o denunciado pelo assédio entrou com ação na Justiça contra Maria. “Ele está pedindo uma indenizaçã­o de R$ 10 mil. Depois de tudo o que me fez, ele diz que estou mentindo e ainda quer que eu pague para ele”, disse. Uma audiência está marcada para o dia 30 de outubro.

Maria diz que sua vida “virou do avesso” em razão do assédio. “Estou em tratamento psicológic­o”, diz ela, que recebe assistênci­a do projeto Mulher Sem Medo, organizaçã­o social que atua no combate à violência contra a mulher.

De acordo com o diretor jurídico Fabrício Grellet, “esse é um caso gritante de abuso do próprio poder público e de acobertame­nto de possíveis ações criminosas”. Tomamos o caso como emblemátic­o para atuação da entidade.”

“Mostrei para meu superior (o assédio), mas ele era comissiona­do (não concursado) e acho que ficou com medo de tomar providênci­a.”

Maria (nome fictício)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil