Tecnologia e foco na prevenção
EM CONVERSA NA TV ESTADÃO, CONVIDADOS FALARAM SOBRE O PAPEL DOS AVANÇOS DIGITAIS NA MELHORIA DA SAÚDE
A Dasa tem total chance de ser protagonista nesta mudança. Ela não vai acontecer só nos Estados Unidos ou em outro lugar. Podemos fazê-la acontecer no Brasil. Está em nossas mãos. Precisamos tirar o foco da doença e começar a migrar para a saúde, para a prevenção de fato” Pedro de Godoy Bueno, presidente da Dasa
Na última terça-feira, um debate transmitido pela TV Estadão reuniu o presidente da Dasa, Pedro de Godoy Bueno, e o neurorradiologista Emerson Gasparetto, vice-presidente da área médica. No encontro que discutiu como a tecnologia está transformando o setor de saúde, Bueno expressou uma visão otimista em relação às aplicações da inteligência artificial na medicina. “Em vez de ocupar o lugar dos humanos, a tecnologia vai fazer a parte burocrática para que o médico possa aumentar sua produtividade e ter um pouco mais de atenção com o paciente durante a consulta”, disse. O neurroradiologista Gasparetto sustentou opinião semelhante: “Os grandes gurus da inteligência artificial no mundo dizem que ela não vai substituir o médico. Em vez disso, é possível que o médico empoderado pela inteligência artificial substitua os profissionais que não contam com a tecnologia”.
Graças às inovações alcançadas nas últimas décadas, a medicina praticada hoje é bem diferente do que se fazia há 40 anos, quando não havia ressonância magnética e a variedade de exames era limitada. É inegável que a evolução das ferramentas de diag- nóstico trouxe grandes benefícios. No entanto, os médicos sofrem com uma sobrecarga de informações e de atividades burocráticas, como o preenchimento de prontuários e outros documentos. Ao mesmo tempo, os pacientes tornaram-se mais questionadores e exigem mais atenção durante as consultas.
“O nosso desafio na Dasa é oferecer ao médico a informação de que ele realmente precisa, de uma forma mais fácil, para que ele tenha mais tempo para conversar e tocar no paciente”, afirmou Gasparetto. “A tecnologia ajudou muito no raciocínio diagnóstico, mas trouxe uma sobrecarga de trabalho para o médico. A gente começa a perceber que no curto prazo isso vai mudar.”
Segundo os convidados, a medicina passa por um período de transição. A geração que está saindo das faculdades busca muito mais informação e é mais digital. Bueno mencionou os investimentos que a Dasa, maior empresa prestadora de serviços de medicina diagóstica da América Latina, faz em seu laboratório de inteligência artificial. “Estamos colocando cientistas de dados, médicos e outros profissionais pensando de forma conjunta em correlações e insights que podemos tirar dos nossos dados para levar muito mais qualidade aos nossos pacientes”, disse. “Acho que, no futuro, o laudo de um laboratório virá com muito mais inteligência. Poderá, por exemplo, trazer uma previsão de desenvolvimento de doenças crônicas para que seja possível atuar antes que isso aconteça”, afirmou Bueno.
Enquanto isso, os pacientes querem a medicina do passado, com mais contato e mais conversa. Segundo os convidados, a tecnologia permitirá que se chegue a esse equilíbrio. O avanço e a popularização das novas soluções digitais favorecem essa parceria. “A tecnologia irá dar mais poder ao paciente para que ele possa trabalhar junto com o médico”, afirmou Bueno. “O paciente não pode fazer diagnóstico porque não tem conhecimento suficiente para isso, mas ele consegue se informar e tomar a decisão ao lado do profissional.”
Na opinião do neurorradiologista Emerson Gasparetto, o segredo do sucesso dessa interação passa pelo entendimento, por parte do paciente, de que a decisão precisa ser conjunta. “Para o médico, isso vai agregar muito valor. Parte da nossa responsabilidade na atenção à saúde é dar a informação correta.” Outro benefício dessa aliança é reduzir o sofrimento dos profissionais que, muitas vezes, assumem sozinhos a responsabilidade de recomendar tratamentos que podem acarretar graves efeitos colaterais.
Foco na prevenção
Gasparetto salientou que o paciente não deve tomar decisões sem conversar com o médico. Pesquisar informações sobre medicamentos na internet pode aumentar a ansiedade e gerar confusão quando os doentes encontram dados sem contextualização ou bulas incompreensíveis. Um exemplo são os casos de pessoas que, com medo de ganhar peso, desistem de tomar remédios quando esse risco é relatado na bula. “O médico precisa saber que isso está acontecendo para poder explicar que o paciente não tem essa tendência ou que isso acontece apenas em 0,1% dos casos.”
A poucas semanas das eleições, os convidados discutiram também propostas para a melhoria da saúde, tanto no setor público quanto no privado. Bueno ressaltou que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem alguns desafios a mais, como orçamento apertado e dificuldades crônicas de financiamento. No entanto, a questão fundamental é semelhante nas duas esferas. “Precisamos tirar o foco da doença e começar a migrar para a saúde, para a prevenção de fato”, afirmou.
Como propostas para o setor público, ele citou investimento em tecnologia e em prontuário eletrônico. Segun- do Bueno, a criação de um prontuário único, em todo o País, permitiria a integração de uma enorme quantidade de dados. “Com isso, seria possível ter uma visão mais completa dos pacientes para adotar modelos preditivos ou fazer uma gestão populacional mais assertiva”, afirmou. Ele salientou, no entanto, que isso também ainda é um desafio para o setor privado.
A partir da integração das bases de dados, as ferramentas de inteligência artificial poderiam contribuir para a melhoria das ações preventivas, aquelas que realmente são capazes de prolongar os anos de vida com qualidade e conter o crescimento das despesas desnecessárias. “Prevenção é fundamental porque, depois que o paciente está em uma UTI, a qualidade de vida dele já foi para o espaço, e o custo também”, disse Bueno.
Na opinião dele, a redução de custos em um setor não significa, necessariamente, prejuízo à vida das pessoas. “Ao fazer mais prevenção, é possível salvar vidas, melhorar a qualidade delas e, ao mesmo tempo, reduzir custos.”
O segmento de saúde vive importantes transformações no País – muitas delas impulsionadas pelas novas possibilidades abertas pela tecnologia. Segundo Gasparetto, essa é uma grande oportunidade de melhoria das condições atuais. “Temos total chance de ser protagonistas nesta mudança. Ela não vai acontecer só nos Estados Unidos ou em outro lugar. Podemos fazê-la acontecer no Brasil. Está em nossas mãos.”