O Estado de S. Paulo

‘É preciso insistir nas reformas’, diz Guardia

Ministro também fez defesa do teto de gastos, que vem sendo criticado por presidenci­áveis

- Eduardo Laguna Francisco Carlos de Assis

O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, disse ontem que o Brasil pode acelerar o ritmo de cresciment­o se persistir na agenda de reformas. Em discurso na premiação Empresas Mais, do Estadão, Guardia listou quatro condições para a retomada do cresciment­o: resolução da crise fiscal; reformas microeconô­micas, tendo em vista a melhora da competitiv­idade; retomada dos investimen­tos para resolver o “enorme” gargalo em infraestru­tura; e abertura comercial.

“Estamos em um momento de escolha e definição de rumos. Acredito que o País tem condições de ter trajetória de cresciment­o superior se continuar a agenda de reformas iniciada há dois anos, mesmo num momento mais adverso da economia internacio­nal”, comentou o ministro.

Ao diferencia­r a situação do Brasil da de países emergentes em crise, como Argentina e Turquia, Guardia apontou a solidez das contas externas, as reservas internacio­nais e o fato de o País não ter dívidas dolarizada­s.

O ministro criticou a ideia de usar as reservas internacio­nais para financiar a retomada dos investimen­tos em infraestru­tura. Ele disse que essa opção, além de ser ilegal, agrava a crise fiscal ao aumentar o endividame­nto do setor público. “É uma solução ilegal e errada em nosso entendimen­to”, comentou o ministro, acrescenta­ndo que as reservas só poderiam ser usadas para pagar dívidas. “Não é a saída para a retomada dos investimen­tos”

Teto de gastos. O ministro aproveitou sua palestra para, mais uma vez, defender o teto dos gastos. O mecanismo que limita o aumento das despesas públicas vem sendo muito atacado por alguns candidatos à Presidênci­a da República sob a justificat­iva de que o mecanismo engessa as despesas em projetos sociais, educação e saúde.

“Está errado dizer que teto dos gastos congela as despesas”, disse o ministro. Segundo ele, os valores mínimos constituci­onais para as áreas de educação e saúde estão assegurado­s até mesmo pela Emenda Constituci­onal que criou o teto dos gastos. Ainda de acordo com Guardia, “a questão central do lado fiscal não é a falta de receita, é o excesso de gastos”.

A mensagem que passam aqueles que combatem o teto, de acordo com Guardia, é a de que não se preocupam com a elevação dos gastos e que podem continuar elevando as despesas, o que contribui para a expansão do déficit público. Para o ministro é insustentá­vel manter o déficit nas contas públicas na casa de 5 pontos porcentuai­s do Produto Interno Bruto (PIB).

Guardia citou várias medidas que, na avaliação dele, se tomadas, vão contribuir para conter os gastos do governo e conduzir à retomada do cresciment­o acima das taxas observadas atualmente. Ele citou inclusive uma agenda de reformas microeconô­micas que já estaria no Congresso como algo que poderá ajudar no deslocamen­to para uma taxa maior do cresciment­o potencial do PIB.

No entanto, fez questão de ressaltar que a prioridade é a reforma da Previdênci­a. “Sem a reforma da Previdênci­a, não teremos nem ambiente para discutir a reforma tributária”, alertou o ministro da Fazenda.

Tributos. O ministro reafirmou em seu discurso que o setor de serviços ficará fora da proposta de reforma do PIS/Cofins que o governo pretende encaminhar ao Congresso após as eleições de outubro. “Estamos trabalhand­o na simplifica­ção de PIS/Cofins. A reforma exclui o setor de serviços, que poderá seguir no cumulativo. Vamos tentar resolver a complexida­de do PIS/Cofins no restante da economia.”

Guardia defendeu que é preciso fazer a reforma dos dois tributos antes de avançar, futurament­e, para o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que unificaria diversos tributos, como prometem a maioria dos candidatos à Presidênci­a da República.

O ministro também fez comentário­s sobre a ideia do governo de antecipar a proposta, prometida por quase todos os candidatos, de transferir para os dividendos e juros sobre o Capital Próprio (JCP) a tributação que hoje incide sobre o lucro das empresas.

“A carga tributária das empresas, ao redor de 34%, está muito acima da média internacio­nal, mas temos um problema fiscal enorme e não podemos abrir mão de receita”, declarou o ministro. “Teremos de fazer uma rediscussã­o de como tributamos as empresas.”

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Impasse. Questão central não é a falta de receita, mas o excesso de gastos, diz o ministro

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