Uma revolução em 3D
Desde quando Steve Jobs subiu ao palco do Moscone Center para anunciar ao mundo o primeiro iPhone, em janeiro de 2007, tem sido um ritual desta coluna tratar do assunto. Todo ano há modelos novos, algumas vezes atualizações simples da geração anterior, noutras com inovações mais robustas. Mas calhou de os iPhones deste ano serem apenas evoluções e, na mesma semana, a HP anunciar sua primeira linha de impressoras 3D em metal. É uma tecnologia que apenas agora se aproxima da maturidade. E vai virar de cabeça para baixo a indústria.
Não são máquinas baratas e devem demorar um pouco para chegar ao mercado. Quem se permitir a reservar a sua agora, e tiver nas mãos a bagatela de US$ 399 mil, recebe uma em 2020. As HP Metal Jet 3D não são as primeiras a produzir objetos de metal a partir dum arquivo digital. Mas são mais rápidas e mais baratas do que a concorrência, o que começa a torná-las interessantes para a indústria. Podem substituir, portanto, a técnica de injetar metal líquido em moldes, utilizada hoje.
Mais do que isso: permitem personalização, pequenas adaptações. Afinal, basta mexer no arquivo e mandar imprimir outra. Entre o protótipo de uma peça feita pelo engenheiro ou designer e aquela que vai ao mercado, o tempo encurta. Claro. O protótipo final já é a primeira peça acabada.
A impressora funciona de um jeito engenhoso, da mesma forma que as impressoras industriais da HP que trabalham com polímeros. Um braço espalha sobre a mesa uma fina camada de pó de metal. Aí outro braço, no sentido transversal, lança micro-jatos de um reagente químico. Onde o reagente toca, o pó de metal gruda. Ao final, limpo o pó, fica a peça. Ela tem sua fragilidade, claro, é pó colado. Mas isso se resolve num forno. O calor funde o metal – pronto.
A HP lançou, em princípios da década de 1990, a primeira impressora de jato de tinta. Uma das razões que permite à empresa baratear o custo destas máquinas Metal Jet é que o cabeçote que espirra os jatos de tinta e o que espirra o regente é o mesmo. Tem escala de produção para uma peça chave.
A Volkswagen alemã já tem alguma destas máquinas em operação. Por enquanto, produz peças simples. O nome do modelo do veículo para grudar na traseira, por exemplo, ou chaves personalizadas com as iniciais do dono. São tentativas de entender como estas máquinas podem se adequar a uma linha de montagem. Num futuro breve, o objetivo é imprimir peças de maior porte, como o quadro onde se encaixam os espelhos laterais. Um dia, o carro todo.
Já existem impressoras 3D que trabalham com plásticos – polímeros – e metais. Nas de polímeros, coisas muito sofisticadas podem ser criadas, misturando densidades, texturas e até cores, de forma que uma parte seja maleável e, outra, rígida. Conforme a gama de materiais se amplia e estas máquinas ganham velocidade, a indústria se transforma.
O cliente escolhe um modelo de botina, um scanner 3D examina sua pisada, e ele ganha o sapato no tamanho perfeito e já com palmilha milimetricamente adequada. Para isso, basta ir ao birô de impressão da esquina. A marca venderá não a peça, mas a licença para uma impressão de seu arquivo digital.
Quem faz uma obra escolhe no catálogo da fabricante as torneiras que deseja, o vaso sanitário, as luminárias. E as imprime. Terão texturas e recortes e padrões e cores que a tecnologia atual de injeção em moldes simplesmente não permite produzir. Já há experiências com a compra do projeto da casa inteira. As peças são impressas para montagem tipo Lego.
É daqui a anos. Não daqui a décadas. E, claro, o Brasil não está formando a mão de obra para esta indústria do futuro.
Impressão em 3D em metal é uma tecnologia que agora se aproxima da maturidade