O Estado de S. Paulo

Uma revolução em 3D

- PEDRO DORIA E-MAIL:COLUNA@PEDRODORIA.COM.BR TWITTER: @PEDRODORIA PEDRO DORIA ESCREVE ÀS SEXTAS-FEIRAS

Desde quando Steve Jobs subiu ao palco do Moscone Center para anunciar ao mundo o primeiro iPhone, em janeiro de 2007, tem sido um ritual desta coluna tratar do assunto. Todo ano há modelos novos, algumas vezes atualizaçõ­es simples da geração anterior, noutras com inovações mais robustas. Mas calhou de os iPhones deste ano serem apenas evoluções e, na mesma semana, a HP anunciar sua primeira linha de impressora­s 3D em metal. É uma tecnologia que apenas agora se aproxima da maturidade. E vai virar de cabeça para baixo a indústria.

Não são máquinas baratas e devem demorar um pouco para chegar ao mercado. Quem se permitir a reservar a sua agora, e tiver nas mãos a bagatela de US$ 399 mil, recebe uma em 2020. As HP Metal Jet 3D não são as primeiras a produzir objetos de metal a partir dum arquivo digital. Mas são mais rápidas e mais baratas do que a concorrênc­ia, o que começa a torná-las interessan­tes para a indústria. Podem substituir, portanto, a técnica de injetar metal líquido em moldes, utilizada hoje.

Mais do que isso: permitem personaliz­ação, pequenas adaptações. Afinal, basta mexer no arquivo e mandar imprimir outra. Entre o protótipo de uma peça feita pelo engenheiro ou designer e aquela que vai ao mercado, o tempo encurta. Claro. O protótipo final já é a primeira peça acabada.

A impressora funciona de um jeito engenhoso, da mesma forma que as impressora­s industriai­s da HP que trabalham com polímeros. Um braço espalha sobre a mesa uma fina camada de pó de metal. Aí outro braço, no sentido transversa­l, lança micro-jatos de um reagente químico. Onde o reagente toca, o pó de metal gruda. Ao final, limpo o pó, fica a peça. Ela tem sua fragilidad­e, claro, é pó colado. Mas isso se resolve num forno. O calor funde o metal – pronto.

A HP lançou, em princípios da década de 1990, a primeira impressora de jato de tinta. Uma das razões que permite à empresa baratear o custo destas máquinas Metal Jet é que o cabeçote que espirra os jatos de tinta e o que espirra o regente é o mesmo. Tem escala de produção para uma peça chave.

A Volkswagen alemã já tem alguma destas máquinas em operação. Por enquanto, produz peças simples. O nome do modelo do veículo para grudar na traseira, por exemplo, ou chaves personaliz­adas com as iniciais do dono. São tentativas de entender como estas máquinas podem se adequar a uma linha de montagem. Num futuro breve, o objetivo é imprimir peças de maior porte, como o quadro onde se encaixam os espelhos laterais. Um dia, o carro todo.

Já existem impressora­s 3D que trabalham com plásticos – polímeros – e metais. Nas de polímeros, coisas muito sofisticad­as podem ser criadas, misturando densidades, texturas e até cores, de forma que uma parte seja maleável e, outra, rígida. Conforme a gama de materiais se amplia e estas máquinas ganham velocidade, a indústria se transforma.

O cliente escolhe um modelo de botina, um scanner 3D examina sua pisada, e ele ganha o sapato no tamanho perfeito e já com palmilha milimetric­amente adequada. Para isso, basta ir ao birô de impressão da esquina. A marca venderá não a peça, mas a licença para uma impressão de seu arquivo digital.

Quem faz uma obra escolhe no catálogo da fabricante as torneiras que deseja, o vaso sanitário, as luminárias. E as imprime. Terão texturas e recortes e padrões e cores que a tecnologia atual de injeção em moldes simplesmen­te não permite produzir. Já há experiênci­as com a compra do projeto da casa inteira. As peças são impressas para montagem tipo Lego.

É daqui a anos. Não daqui a décadas. E, claro, o Brasil não está formando a mão de obra para esta indústria do futuro.

Impressão em 3D em metal é uma tecnologia que agora se aproxima da maturidade

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