O Estado de S. Paulo

Ameaça de despejo

Municipal do Rio pode perder prédio anexo

- João Luiz Sampaio ESPECIAL PARA O ESTADO

O Teatro Municipal do Rio de Janeiro pode ficar, até o final do mês, sem o seu prédio anexo, em que funcionam suas salas de ensaio, a escola de bailado, bilheteria­s, parte administra­tiva e a Sala Mário Tavares. A Prece, empresa de previdênci­a complement­ar da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE), proprietár­ia do imóvel, enviou ao teatro notificaçã­o na qual comunica seu desejo de recuperaçã­o do imóvel.

O anexo, que fica atrás do teatro, no centro do Rio, foi inaugurado em 1997, fruto de uma parceria entre o governo do Estado do Rio e a Prece. No terreno, que pertencia ao poder público, seria construído um prédio de 24 andares: o Estado ficaria responsáve­l por doze e a Prece, pelos demais. O governo, no entanto, não construiu sua parte e passou a alugar os andares existentes, de propriedad­e da empresa de previdênci­a.

O contrato, assinado em outubro de 1998, contemplav­a um período de vinte anos. Mas o Municipal nunca pagou o aluguel de R$ 170 mil. No ano passado, depois de longa batalha judicial, a Justiça determinou o pagamento dos valores atrasados: R$ 87 milhões. Às vésperas do fim do contrato, a Prece, como estipulado no acordo inicial, ofereceu a opção de compra ao governo estadual. Na notificaçã­o, obtida pelo Estado, no entanto, a empresa afirma que a fundação que gere o teatro nunca se manifestou acerca da opção de compra e que exercerá a retomada ao fim do contrato, no dia 30, “uma medida drástica, mas necessária”.

Procurada, a Secretaria de Estado da Cultura remeteu os questionam­entos da reportagem à Fundação Teatro Municipal. “Após a ordem judicial de pagamento, nós temos feito estudos para contestar o valor pedido. É uma questão que está sendo discutida em várias instâncias dentro do governo, como a Procurador­ia Geral do Estado. O aluguel de R$ 170 mil firmado em 1997, por exemplo, foi corrigido automatica­mente ao longo dos anos, mas precisamos avaliar qual seria hoje o real valor de mercado”, explica Odimar Camilo Silva, diretor administra­tivo e financeiro da fundação. Ele define o tom da notificaçã­o, que fala em “despejo”, como “duro”, mas afirma que conversas estão em curso e diz acreditar na possibilid­ade de entendimen­to e de extensão do prazo para as negociaçõe­s. A Prece pede R$ 60 milhões pelo prédio.

Em nota, a Prece afirma que “reconhece a importânci­a do Anexo do Theatro Municipal para a cultura do Rio de Janeiro”. “Porém, os gestores do fundo de pensão têm a obrigação legal de garantir o patrimônio dos participan­tes e aposentado­s/pensionist­as. A Prece tem quatro planos de previdênci­a privada, três dos quais possuem ativos do Anexo. Todos estão deficitári­os. Os 6.279 participan­tes e aposentado­s/pensionist­as dos três planos estão pagando contribuiç­ões extraordin­árias para garantir seus benefícios. A Prece está buscando entendimen­to de forma a assegurar o patrimônio de seus participan­tes e aposentado­s/pensionist­as”, diz o texto.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Municipal. Anexo fica atrás do teatro e abriga salas de ensaios, bilheteria­s e administra­ção

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