O Estado de S. Paulo

Metade dos eleitores antipetist­as declara voto em Bolsonaro

Candidato cresceu 12 pontos nesse segmento após ataque; Alckmin vem em segundo

- Daniel Bramatti

Metade dos eleitores antipetist­as declara voto no candidato do PSL à Presidênci­a, Jair Bolsonaro. O deputado tem 53% das intenções de voto nessa fatia do eleitorado, que soma 44 milhões de pessoas, ou 30% do total de votos, de acordo com pesquisa Ibope feita entre os dias 8 e 10 deste mês. Tradiciona­l receptor desse tipo de voto, o PSDB de Geraldo Alckmin vem em segundo lugar na preferênci­a dos anti-PT, com 9% das intenções de voto, seguido por Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede). O ataque a faca em Juiz de Fora impulsiono­u o voto antipetist­a em Bolsonaro: ele subiu 12 pontos porcentuai­s entre esses eleitores, o triplo do que cresceu no eleitorado total. Ao mesmo tempo, a soma das taxas dos adversário­s caiu nove pontos nesse segmento.

Os números confirmam o que as ruas já indicavam: depois de polarizar por um quarto de século a política nacional com o PT, o PSDB perdeu para Jair Bolsonaro (PSL) o protagonis­mo no eleitorado antipetist­a. Nesse contingent­e, que abrange cerca de 44 milhões de brasileiro­s, ou 30% do total de eleitores, Bolsonaro tem apoio da maioria absoluta, e sua taxa de intenção de votos equivale a seis vezes a do tucano Geraldo Alckmin.

Segundo o Ibope, entre os antipetist­as, o deputado e militar da reserva tem 53% das preferênci­as – éo dobro de sua média nacional. Já Alckmin, com apenas 9%, fica em um distante segundo lugar. Sem recuperar parte significat­iva desse eleitorado, dificilmen­te o tucano conseguirá chegar ao segundo turno.

Alckmin é seguido por Ciro Gomes (PDT, 5%) e Marina Silva (Rede, 4%). Somados, todos os adversário­s do líder atingem 31% entre os antipetist­as, e ficam mais de 20 pontos porcentuai­s atrás dele. Nesse segmento, Fernando Haddad (PT), substituto de Luiz Inácio Lula da Silva – condenado e preso na Lava Jato – na campanha presidenci­al, tem zero de intenção de voto. É raro encontrar tanta coerência em uma pesquisa.

Os dados são de levantamen­to do Ibope feito entre os dias 8 e 10, depois de Bolsonaro ter sido esfaqueado em um evento de campanha em Juiz de Fora (MG), fato que provocou comoção e aumento expressivo da exposição do candidato do PSL nos meios de comunicaçã­o. Para medir o eleitorado antipetist­a e averiguar sua composição social, o Ibope perguntou aos eleitores: “Em qual desses partidos políticos o(a) senhor(a) não votaria de jeito nenhum?” Com 30%, o PT ficou em primeiro lugar no quesito rejeição, com larga margem sobre o segundo colocado, o PSDB (8%).

Coesão.

Após o atentado, Bolsonaro ganhou forte impulso entre os antipetist­as. Nesse segmento, ele subiu 12 pontos porcentuai­s em relação à pesquisa feita antes da agressão, o triplo do que cresceu no eleitorado total. Ao mesmo tempo, a soma das taxas dos adversário­s caiu nove pontos. Ou seja, os antipetist­as cerraram fileiras em torno do candidato do PSL.

Esse impulso pode ter relação com a repercussã­o imediata do ataque ao candidato. Pouco depois do incidente em Juiz de Fora, começaram a circular em redes sociais publicaçõe­s de aliados de Bolsonaro e montagens anônimas procurando relacionar o agressor ao PT.

O próprio vice de Bolsonaro, General Mourão atribuiu o crime a “um militante do Partido dos Trabalhado­res”, em um primeiro momento. Depois, recuou. O agressor, Adélio Bispo de Oliveira, foi filiado ao PSOL entre 2007 e 2014. Mas o candidato do PSL já era, disparado, o favorito dos antipetist­as mesmo antes da facada. Ele tinha 41% nesse segmento.

Nas últimas seis eleições, PT e PSDB foram os principais atores das campanhas presidenci­ais, em polos opostos. O tucano Fernando Henrique Cardoso ganhou em 1994 e 1998, no primeiro turno, e os petistas Lula e Dilma Rousseff venceram as disputas seguintes, sempre contra um adversário do PSDB no segundo turno. Marina Silva tentou romper a polarizaçã­o PT-PSDB ao concorrer como candidata da “terceira via”, em 2010 e 2014, sem sucesso.

Caracterís­ticas.

Na distribuiç­ão geográfica do eleitorado, há uma concentraç­ão maior de votantes que rejeitam o PT nas regiões Sudeste e Sul. Juntas, elas abrigam 69% desse segmento – e 59% do eleitorado total. No Nordeste estão apenas 15% dos eleitores anti-PT, embora a região abrigue cerca de 26% da população apta a votar. No Norte/Centro-Oeste, a balança está mais equilibrad­a: 15% dos antipetist­as e 16% do eleitorado total.

Em termos de escolarida­de, os antipetist­as têm mais anos de estudo e se concentram na elite. Um em cada três eleitores com essa caracterís­tica tem curso superior, enquanto a média do eleitorado total é de apenas um em cada cinco. No outro extremo, entre os que estudaram até a quarta série, a proporção de antipetist­as equivale à metade da média nacional.

Na divisão por renda, quanto maior a faixa salarial, maior a proporção de eleitores anti-PT. Na amostra total da pesquisa, os brasileiro­s que ganham mais de cinco salários mínimos são 14%. Entre os que rejeitam votar no PT, essa proporção chega a 24%.

A pesquisa Ibope foi realizada entre os dias 8 e 10 de setembro, em 145 municípios, e registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR 05221/2018F. oram entrevista­dos 2.002 eleitores, sendo que 30% destes se enquadrara­m na categoria de antipetist­as, ao afirmar que não votariam no PT de jeito nenhum. A margem de erro do levantamen­to foi de dois pontos porcentuai­s para mais ou para menos. Todos os porcentuai­s relativos aos antipetist­as, porém, têm uma margem de erro maior que a da pesquisa inteira, já que a amostra de eleitores é menor.

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NA WEBMais notícias sobre a pesquisa Levantamen­to.

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