O Estado de S. Paulo

‘BOLSONARO É ENGODO E GUEDES, UM MITÔMANO’

Persio Arida afirma ainda que Bolsonaro é um ‘risco à democracia’ assim como Haddad se ele ‘de fato for o Lula’

- Entrevista Persio Arida ECONOMISTA DE GERALDO ALCKMIN (PSDB)

Coordenado­r do programa econômico de Alckmin, Persio Arida diz que Jair Bolsonaro (PSL) é “engodo liberal” e age como Hugo Chávez ao fazer aceno aos liberais perto da eleição. Arida afirmou ainda que Paulo Guedes, economista de Bolsonaro, é “um mitômano” que “nunca escreveu um artigo acadêmico de relevo”.

Coordenado­r do programa econômico de Geraldo Alckmin (PSDB), Persio Arida diz que o mercado está em autoengano ao acreditar que Paulo Guedes garantirá a linha liberal de um governo Jair Bolsonaro (PSL). “O presidente faz o que quer e não o que combinou com o economista. Quem tem a caneta manda”, disse ao Estado.

Ele critica a inexperiên­cia de Guedes, a quem classifica de mitômano. “Ele nunca produziu um artigo de relevo. Nunca dedicou um minuto à vida pública, não faz ideia das dificuldad­es.”

Para Arida, a postura liberal de Bolsonaro é uma farsa e ele segue o mesmo roteiro de tradiciona­is líderes de esquerda latino-americanos ao acenar aos liberais nas eleições. “Hugo Chávez também mostrou-se amigável com o mercado em sua primeira eleição. Durou pouco.”

Sobre a estagnação de Alckmin nas pesquisas, avalia que a campanha precisa buscar a parcela que não quer os extremos de PT e Bolsonaro. Segundo ele, ambos são riscos à democracia.

Como fica a campanha diante do atentado a Bolsonaro e a confirmaçã­o do nome de Haddad?

Bolsonaro foi vítima de uma selvageria. O atentado tem de ser recriminad­o por todos. Agora, do ponto de vista político, ele está onde sempre esteve. Ele sempre comungou com a esquerda o viés estatizant­e e corporativ­o. Por isso, votou com a esquerda no passado, inclusive contra o Plano Real. Seguiu assim: votou contra o cadastro positivo, se declarou a favor da criação de municípios. Acabou de dizer que não privatizar­á Petrobrás, Banco do Brasil ou Caixa, pois são estratégic­as, linguagem da esquerda. A virada em busca do

discurso liberal está de acordo com o perfil dos candidatos tradiciona­is de esquerda.

Por quê?

Lula fez isso com a “Carta ao Povo Brasileiro” (que precedeu sua primeira eleição, em 2002 ). O tenente-coronel Hugo Chávez fez isso. Tal como Bolsonaro, mostrou-se amigável com o mercado financeiro em sua primeira eleição, disse que não tinha nada contra o FMI. Depois, convocou Constituin­te e o resto da história é a tragédia que conhecemos. Esse movimento de Bolsonaro é o padrão normal latino-americano. Ele é um engodo liberal.

Paulo Guedes não é o fiador dessa proposta liberal?

Paulo Guedes é mitômano, criou falsa narrativa pela qual PSDB e PT são iguais e que tudo no Brasil foi errado porque ele e os liberais nunca estiveram no poder. Ele nunca escreveu um artigo acadêmico de relevo, tornou-se um pregador liberal. Falar é fácil, fazer é muito mais difícil. Nunca faltaram bons economista­s liberais no Brasil. O problema sempre foi a falta de políticos com essas convicções. Se economista liberal resolvesse, o governo Dilma tinha sido um sucesso: Joaquim Levy, também da Universida­de de Chicago e, ao contrário de Guedes, com enorme experiênci­a prévia, foi nomeado para a Fazenda. O presidente faz o que quer e não o que combinou com o economista. Quem tem a caneta manda.

• Guedes argumenta que se demorou a entender a necessidad­e de conter o gasto público.

Ele nunca dedicou um minuto à vida pública, não tem noção das dificuldad­es. Partiu para uma campanha de difamação “A vocação totalitári­a está muito clara em sua trajetória (de Bolsonaro). Alguém que diz que seu livro de cabeceira é o do Coronel Ustra está empreenden­do uma tentativa de revisão da ditadura como algo positivo, o que é um risco.”

“Paulo Guedes é mitômano, criou falsa narrativa pela qual PSDB e PT são iguais e que tudo no Brasil foi errado porque ele e os liberais nunca estiveram no poder. Ele nunca escreveu um artigo acadêmico de relevo, tornou-se um pregador liberal. Falar é fácil, fazer é muito mais difícil. Nunca faltaram bons economista­s liberais no Brasil.”

que é de um grau de incivilida­de que não se vê em outro assessor econômico. Pegar um episódio de 1995 quando saí do Banco Central e usá-lo para fins difamatóri­os, falando mentiras, mostra o caráter dele (segundo a revista Piauí, Guedes tem dito em reuniões com investidor­es que Arida deixou o BC por ter vazado informaçõe­s, o que Arida rechaça). Ele está cego de ressentime­nto, ódio e inveja: difama todos que discordam de suas ideias.

Como ele em Bolsonaro, o sr. não está confiando em Alckmin?

Alckmin já fez ajuste fiscal em São Paulo. É diferente de acreditar em alguém que se “converteu”. O Brasil precisa de reformas que demandam emendas constituci­onais e aprovação de leis. Sem articulaçã­o política, não se conseguirá. Há duas opções: fazer acordo com “centrão” antes ou depois das eleições. A ideia da antipolíti­ca, de que não vai fazer acordo com ninguém, é enganação.

O fato é que Bolsonaro segue subindo nas pesquisas. Alckmin, não.

A indignação criada com a Lava Jato e os 13 milhões de desemprega­dos geraram no País a busca por alguém que resolva os problemas do dia para a noite. Todo sonho messiânico é poderoso e irrealista. Ele aparece no Bolsonaro e no Lula.

Alckmin ficou sem espaço?

Há parcela significat­iva da população que não quer extremos e não se ilude com essas retóricas. São eles que a campanha tem de chamar para si.

Bolsonaro e PT são a mesma coisa?

No PT, há um líder carismátic­o latino-americano tradiciona­l que é o Lula, o Perón brasileiro. As pessoas se enganam com o primeiro governo dele. Era o Lula com medo da instabilid­ade econômica. Quando não caiu com o mensalão e se reelegeu, ele deixou de ter medo. O verdadeiro Lula é o do segundo governo e o que nomeou Dilma. O que é Fernando Haddad ninguém sabe. As ideias que vinha pronuncian­do como assessor são ruins: controle social da mídia, tributação de spread bancário. Continuar a herança do Lula é o caminho para o Brasil se perder.

O diagnóstic­o econômico de Paulo Guedes não é correto?

Falar de sistema de capitaliza­ção na Previdênci­a é irresponsa­bilidade fiscal. Ele não demonstrou como fazer. Tal como outros, não achei o um trilhão a ser obtido com a venda de estatais. Não se entende tampouco como acabar com o déficit público em um ano.

Tasso Jereissati disse ao que o PSDB paga agora por “erros memoráveis”. Concorda?

Concordo com observaçõe­s de Tasso. Mas não sou filiado do PSDB, nunca tive vida partidária. Importante lembrar que Alckmin foi contra o PSDB ter cargos no governo Temer. A postura dele foi de apoiar as reformas que o País precisa.

Qual candidatur­a rival representa o maior risco ao País?

Bolsonaro é um risco à democracia. No passado, várias vezes falou em fechar o Congresso. A vocação totalitári­a está clara. Alguém que diz que seu livro de cabeceira é do Coronel Ustra empreende uma tentativa de revisão da ditadura como algo positivo, o que é um risco. Conheci Ustra. Fui preso, passei noites ouvindo os gritos das torturas que aconteciam. O revisionis­mo que se tenta fazer hoje é arrepiante. É exatamente o revisionis­mo na Alemanha de quem tenta dizer que nunca houve holocausto.

Bolsonaro é o maior risco?

Se Haddad de fato for o Lula, é um risco também. Alguém que incita o povo contra a Justiça, procura fazer o descrédito da Justiça e ataca as instituiçõ­es é um risco à democracia, sim.

 ?? NACHO DOCE / REUTERS - 11/7/2018 ?? Crítica. O economista Persio Arida afirma que a candidatur­a de Jair Bolsonaro é uma farsa, ao se apresentar como defensora de propostas liberais
NACHO DOCE / REUTERS - 11/7/2018 Crítica. O economista Persio Arida afirma que a candidatur­a de Jair Bolsonaro é uma farsa, ao se apresentar como defensora de propostas liberais

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil