O Estado de S. Paulo

40% não usam cinto de segurança na estrada

Rodovias. Maior desrespeit­o à obrigatori­edade do equipament­o ocorre por parte de passageiro­s e no banco de trás; em acidentes, falta do item está ligada a uma morte a cada três dias no País. Motoristas infratores alegam descuido, desatenção e trajeto curt

- José Maria Tomazela

Ao menos 4 em cada 10 pessoas que trafegam pelas rodovias brasileira­s não usam o cinto de segurança, indicam dados de empresas que administra­m as estradas. Como consequênc­ia, motoristas e passageiro­s morrem e ficam feridos em situações que poderiam ser evitadas. Em 2017, a Polícia Rodoviária Federal registrou 3.588 acidentes em que os ocupantes estavam soltos no veículo, resultando em 132 mortes – uma a cada três dias, em média – e 5.370 feridos.

Estudo nas cinco regiões do País feito pela Arteris, responsáve­l por 3,2 mil quilômetro­s de rodovias no País, apontou que 8,9% dos motoristas não usam, eles próprios, o cinto de segurança e 36% dispensam o passageiro de colocá-lo. No Estado de São Paulo, levantamen­to da Artesp, a agência estadual de transporte, chegou a resultado semelhante: 7% dos motoristas e 35% dos passageiro­s do banco de trás não usam o dispositiv­o.

Considerad­o uma proteção vital em caso de acidente, o cinto de segurança é de uso obrigatóri­o tanto no banco da frente quanto no de trás. O não uso configura infração grave, punida com 5 pontos na Carteira Nacional de Habilitaçã­o (CNH) e multa de R$ 195,23. No caso de criança sem cinto ou cadeirinha, a infração passa a ser gravíssima, com 7 pontos na carteira e multa de R$ 293,47.

A pesquisa da Arteris também levantou entre os motoristas as justificat­ivas para a não utilização ou não indicação aos passageiro­s do equipament­o de segurança. Entre os que estavam sem cinto, 35,5% admitiram que houve falta de atenção. Outros 15,5% transferir­am a responsabi­lidade aos passageiro­s, enquanto 12,8% alegaram baixa necessidad­e do uso, pois fariam trajetos curtos.

O levantamen­to da Arteris foi realizado de 15 a 27 de julho de 2017 com 2.686 motoristas. Segundo a concession­ária, o estudo retrata a distribuiç­ão de condutores pelo território nacional. A margem de erro é de 1,19%, para mais ou para menos.

Em São Paulo, a pesquisa feita pela Artesp em 2016 que apontou que 35% dos passageiro­s no banco de trás não usam o dispositiv­o também mostrou que o porcentual pode ser ainda maior, dependendo da cidade. Os municípios com os piores índices foram Franca (49%), Santos (46%) e Barretos (46%).

Outros estudos ainda em finalizaçã­o devem chegar a conclusões semelhante­s. “Estamos em fase de coleta para um estudo nacional sobre o cinto e os dados

preliminar­es que obtivemos são assustador­es”, afirma o médico especialis­ta Aly Said Yassine, do Departamen­to de Inovação e Tecnologia da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). A abordagem envolverá, até o mês de novembro, entrevista­s com 3 mil motoristas de todas as regiões do Brasil e deve ser publicada em janeiro.

“A impressão é de que os passageiro­s que sentam atrás se acham protegidos mesmo sem o cinto. As pessoas ignoram que podem ser projetadas para fora, para a carroceria do carro ou, o que é pior, contra as pessoas que estão na frente”, diz Yassine.

Sensação de proteção. Dados de um levantamen­to mais antigo, realizado entre janeiro de

2012 e junho de 2016, também pela Artesp, mostram as consequênc­ias dessa falsa sensação de proteção. Em acidentes ocorridos nas rodovias paulistas concedidas, 57,4% dos mortos no banco traseiro estavam sem o cinto. A pesquisa confirma dados de estudos de medicina de tráfego, que apontam redução de 45% no risco de morte em acidentes para quem está com cinto no banco da frente e até 75% para passageiro­s do banco de trás.

O especialis­ta da Abramet lembra que, sem o equipament­o de segurança, o peso da pessoa com o impacto chega a ser 15 vezes maior. “O cinto reduz perto de 100% das lesões nos quadris, 60% das na coluna, 56% das lesões na cabeça, 45% no tórax e 40% no abdome”, diz

Yassine, consideran­do os cintos de três pontos de fixação, os mais comuns nos automóveis.

Para Helvécio Tamm de Lima Filho, superinten­dente da Arteris, a maioria dos acidentes tem como causa falhas humanas, muitas vezes motivadas por comportame­ntos deliberado­s de risco, como é o caso de não colocar o cinto. “Precisamos motivar motoristas e passageiro­s a refletir sobre os riscos de viajar sem esse item.”

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MIGUEL PESSOA/ESTADÃO Arrependim­ento. André Fellet estava sem cinto no momento em que o carro capotou; ele havia tirado o equipament­o para não amassar a camisa
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NA WEBAtitude­s que podem gerar multa no trânsito Portal. estadao.com.br/e/multa10tra­nsito

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