O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

- ELIANE CANTANHÊDE E-MAIL: ELIANE.CANTANHEDE@ESTADAO.COM TWITTER: @ECANTANHED­E ELIANE CANTANHÊDE ESCREVE ÀS TERÇAS E SEXTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS

Depois de passar Marina e Alckmin, Haddad deve ultrapassa­r Ciro. Os ventos sopram a favor do PT. Quem diria?

Acada dia sua agonia e a cada uma das campanhas seu desafio, faltando apenas três semanas para as eleições mais tensas, agressivas e incertas desde a redemocrat­ização de 1985. A consolidaç­ão de Jair Bolsonaro e o avanço de Fernando Haddad projetam a chegada da extrema direita ou a volta do PT ao poder e isso mexe com a alma e os escrúpulos dos demais candidatos, principalm­ente dos que estão embolados na disputa por uma vaga no segundo turno.

Bolsonaro (PSL) está confortáve­l nas pesquisas, mas tem o desafio de fazer campanha depois de esfaqueado e de duas grandes cirurgias. Não pode se atirar nos “braços do povo” como faz há tempos em aeroportos e centros de cidades, não pode nem ao menos gravar vídeos para a propaganda eleitoral e não tem prazo para voltar à atividade política. Pior: sem o comandante, a tropa bate cabeça e seu vice, general Hamilton Mourão, já quer assumir o controle.

No lado oposto, Haddad (PT) vira o novo fenômeno de 2018 e enfrenta dois problemas. Um é ter de falar no ex-presidente Lula de manhã, de tarde, de noite e de madrugada, aumentando a percepção de que seria uma marionete de Lula, uma escada para a volta do próprio Lula à Presidênci­a. O outro problema é que todos os candidatos batiam em Geraldo Alckmin (PSDB), mas agora desviam suas baterias para Haddad. E a artilharia mais pesada é justamente a forte rejeição ao PT em boa parte da sociedade.

Atropelado por Haddad, Ciro Gomes (PDT) deve recuar para o terceiro lugar já na próxima rodada. Seu desafio é bater em Haddad – para manter sua posição, sobretudo no Nordeste –, sem atingir Lula, de quem pretende herdar votos de esquerda em todas as regiões. Ou seja, tem de bater em Haddad, mas endeusando Lula. O segundo problema de Ciro é... ele mesmo. Como pretende negociar reformas, programas e o bem do País com Congresso, opinião pública, empresário­s, trabalhado­res e mídia, com seu temperamen­to explosivo? Numa hora, simpatia; na outra, destempero.

Alckmin precisa reverter a postura autodestru­tiva dos tucanos, que persegue sua candidatur­a dia a dia, mês a mês, há mais de um ano, e acaba de gerar a entrevista do ex-presidente do PSDB Tasso Jereissati, criticando o passado, o presente e o futuro do PSDB. Numa hora dessas? Com aliados assim, e com um MP que manda prender e devassar governador­es tucanos no auge da eleição, Alckmin não precisa de adversário­s. Mas ele conta com um efeito que ocorre em todas as eleições: a definição de voto de na reta final, nos últimos dias, até nas últimas horas. Esse movimento tende a ser pragmático, movido pela rejeição aos extremos e a favor do centro.

Marina Silva (Rede) reclama que, quando estava em segundo lugar, ninguém considerav­a um feito, mas bastou cair para o terceiro para já darem a sua candidatur­a como perdida, o que só intensific­a a queda. O fato, porém, é que Marina tem um discurso poderoso, mas tem uma articulaçã­o política e partidária frágil e passa a sensação de que seria uma presidente fraca. Candidata forte, presidente fraca. Isso, que pesou decisivame­nte contra ela em 2010 (pelo PV) e 2014 (PSB), se repete em 2018. Com uma curiosidad­e (ou injustiça): ela tem a segunda maior rejeição. Por quê?

Há aflição e angústia também nas campanhas de Meirelles (MDB), Alvaro Dias (Podemos) e João Amoedo (Novo), que têm juntos 9% e, sem condições de virar o jogo e de vencer, cumprem o papel de derrotar um nome de centro e ajudar a polarizaçã­o entre a extrema direita e a volta do PT. O mais prejudicad­o foi Alckmin, mas uma desistênci­a dos três agora tenderia a favorecer Jair Bolsonaro, que, por ironia, é a melhor garantia de vitória de Haddad no segundo turno. Os ventos, portanto, sopram a favor do PT. Quem diria?

Depois de passar Alckmin e Marina, Haddad tende a ultrapassa­r Ciro

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