O Estado de S. Paulo

Novatos na corrida à Câmara recebem maiores doações

Quatro dos seis candidatos a deputado federal que mais obtiveram repasses de pessoas físicas estão atrás do primeiro cargo eletivo

- Breno Pires Camila Turtelli

Quatro dos seis candidatos a deputado federal que mais receberam doações de pessoas físicas até agora nas eleições deste ano estão em busca do primeiro cargo eletivo. As exceções na lista são o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tenta a reeleição, e Jean Carlo (PSDB-GO). Somados, eles arrecadara­m aproximada­mente R$ 6,82 milhões. Os quatro novatos da lista – Gabriel Rocha Kanner (PRBSP), Ricardo Salles (NovoSP), Tabata Amaral de Pontes (PDT-SP) e Vinicius Poit (Novo-SP) – ficaram com 72% desse total. Os dados estão declarados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e foram computados pela reportagem do Estado até ontem.

O cientista político Humberto Dantas, pesquisado­r da FGV-SP, vê as doações para os outsiders como um sinal de que há uma busca por renovação no Congresso, apesar da perspectiv­a de a Câmara ter um dos maiores índices de reeleição. “Tem muita gente querendo ver coisa nova na política. Algumas pessoas estão dispostas a bancar isso. Quanto mais gente tiver disposta a pagar, maior a possibilid­ade efetiva de renovar, porque dinheiro faz diferença efetiva nas campanhas”, disse o cientista político.

Levantamen­to do Departamen­to Intersindi­cal de Assessoria Parlamenta­r (Diap), divulgado em agosto, aponta que, dos 513 deputados federais, 407 são candidatos à reeleição, índice maior do que no pleito de 2014, quando 387 tentaram renovar seus mandatos.

Pela primeira vez na corrida eleitoral, Gabriel Kanner foi o que mais recebeu até agora – R$ 2 milhões. Quando se compara as doações de pessoas físicas para os candidatos a todos os cargos, o valor só não é maior do que o do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que concorre ao governo de Minas Gerais e computou R$ 2,8 milhões.

Aos 28 anos, Kanner é sobrinho do empresário Flávio Rocha (PRB), da Riachuelo, que chegou a anunciar sua pré-candidatur­a à Presidênci­a da República, mas desistiu antes do registro oficial. A doação foi feita pelo avô do candidato, Nevaldo Rocha, fundador da Riachuelo e pai de Flávio.

“Deixei a carreira de executivo para me dedicar à política e decidi não fazer uso de recursos públicos na campanha. Os valores doados por meu avô estão dentro dos limites legais. Sou um defensor da livre iniciativa. Nunca fui candidato, mas participo de projetos sociais há mais de dez anos”, diz Kanner ao Estado. Ele se define como representa­nte do setor produtivo e do varejo e defende uma plataforma voltada ao setor. “Pretendo trabalhar pela redução da carga tributária e simplifica­ção da cobrança dos tributos, com o combate à burocracia. O Brasil precisa de uma reforma tributária e política”, completa.

Crescida na Vila Missionári­a, bairro da periferia de São Paulo, e graduada em Ciências Políticas e Astrofísic­a na Universida­de Harvard (EUA), Tabata Amaral, de 24 anos, recebeu para sua campanha R$ 889.930,00 de 49 doadores. “A grande maioria das doações é espontânea, de pessoas que conhecem meu trabalho e se identifica­m com as minhas ideias”, afirma ela, que escolheu a educação como bandeira política. “Acredito que muitos doadores veem em mim a possibilid­ade de realizar as mudanças desejadas na sociedade e na política, por ser mulher, jovem, moradora da periferia”, afirma a candidata.

Em busca de seu primeiro mandato, Ricardo Salles viu sua campanha ser o destino da doação de 56 pessoas, somando R$ 1,208 milhão até agora. Ele afirma que sua rede de arrecadaçã­o foi construída ao longo de sua trajetória de militância que teve como uma das principais marcas o movimento Endireita Brasil, que prega valores liberais, conservado­res

e anti-PT. “Tenho uma identidade ideológica com essas pessoas há muito tempo”, afirmou Salles sobre seus doadores.

Em quinto lugar, vem o novato Vinicius Poit (Novo-SP), que recebeu R$ 819.500 de 47 doadores. Assim como Tabata, Poit fez parte do movimento RenovaBR, projeto empresaria­l criado para capacitar futuros candidatos ao Legislativ­o e idealizado pelo empresário Eduardo Mufarej, um dos doadores.

Poit, fundador de uma startup que realiza recrutamen­to de profission­ais pela internet, define-se como um empreended­or e tem atuação nas redes sociais – possui 270 mil seguidores em uma página na qual fala de política e mobilizaçã­o social. Poit relata que faz campanha há pelo menos dois anos e já rodou mais de 170 cidades em São Paulo. Para ele, as pessoas estão procurando doar para candidatos que possam representa­r uma renovação na política brasileira. “As pessoas que estão fazendo doações para mim, acho que nunca doaram na política. Me viram como empreended­or e como opção nova de verdade, porque nunca fui filiado a partido nenhum”, disse.

Poit diz que no Congresso Nacional irá atuar para cortar gastos e privilégio­s, promete medidas como publicação mensal de gastos, processo seletivo para contratar funcionári­os do gabinete. “Não vou defender uma classe só. O empreended­orismo atravessa todas as classes e todos os setores. Acredito muito em inovação, tecnologia e serviços”, afirmou.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 19/6/2018 Palestra. Ricardo Salles conversa com empresário­s; candidato prega propostas liberais
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TWITTER/GABRIEL KANNER SP. Gabriel Kanner é do PRB

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