O Estado de S. Paulo

No Senado, 16 foram beneficiad­os com R$ 24 mi dos partidos

Durante a tramitação do projeto de lei, Romero Jucá chegou a desafiar adversário­s a não receber recursos do fundo

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Assim como ocorreu na Câmara dos Deputados, 16 senadores que votaram contra a criação do Fundo Especial de Financiame­nto de Campanha – conhecido como Fundo Eleitoral – à época de sua criação, em maio do ano passado, já recorreram aos recursos públicos para financiar suas campanhas eleitorais. Manifestam­ente contra o fundão, estes parlamenta­res receberam, por meio dos partidos, um total de R$ 24 milhões.

O fundão foi criado como reação do Congresso à proibição de doações empresaria­is. Ele dispõe de R$ 1,7 bilhão, remanejado­s de outras despesas do governo, como emendas de bancada e renúncia fiscal.

Principal articulado­r da criação do fundo eleitoral, o senador Romero Jucá (RR), presidente nacional do MDB, chegou a desafiar os críticos a abrirem mão do dinheiro que poderiam receber, durante a fase de debates no Congresso Nacional. “Quem não concordar com o fundo pode assinar uma declaração renunciand­o ao dinheiro para a próxima eleição”, afirmou Jucá à época.

No Senado, a votação foi simbólica, mecanismo que permite a não divulgação da identidade dos parlamenta­res que aprovaram a transferên­cia de recursos de outras áreas para campanhas políticas, em meio a um corte de gastos do governo federal. Porém, por causa de protestos contra a manobra durante a sessão tumultuada, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), permitiu que os senadores registrass­em por escrito voto contrário. Eunício era favorável à ideia do fundo e foi um dos primeiros a propor a composição da reserva, em entrevista ao Estado.

Ranking. Dos 24 senadores que assinaram o documento de voto “não” à criação do fundo, Omar Aziz (PSD-AM) recebeu a maior parcela: R$ 3,5 milhões transferid­os pelos diretórios nacional e estadual do partido para ele disputar o governo do Amazonas. O segundo no ranking, em valores recebidos, foi o senador Ronaldo Caiado (R$ 2,5 milhões), candidato ao governo de Goiás pelo DEM. Autor do projeto de lei que culminou na criação do fundo, Caiado acabou votando contra a proposição por causa de modificaçõ­es no texto durante a tramitação. Aziz e Caiado não se manifestar­am.

Na sequência aparecem os senadores Romário (PodemosRJ), candidato ao Palácio Guanabara, e os candidatos à reeleição Renan Calheiros (MDBAL), Magno Malta (PR-ES), Eduardo Braga (MDB-AM) e Valdemir Moka (MDB-MS). Cada um recebeu R$ 2 milhões.

Nove senadores chegaram a rechaçar publicamen­te o texto do projeto de lei e a votar pela rejeição de requerimen­tos que tentavam acelerar a aprovação do fundão, mas não registrara­m o voto contrário no final. Estes parlamenta­res receberam, somados, outros R$ 14 milhões do Fundo Eleitoral. Um dos nomes mais favorecido­s deste grupo foi Alvaro Dias (PR), atual candidato a presidente da República pelo Podemos, destinatár­io de R$ 3,2 milhões.

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