O Estado de S. Paulo

Investimen­tos só mantêm 50% da atual infraestru­tura do País

País deveria investir 5% do Produto Interno Bruto por ano durante duas décadas para não perder competitiv­idade

- Renée Pereira

Importante indutor de cresciment­o, o setor de infraestru­tura vive uma crise histórica. Sem investimen­tos e com milhares de obras paradas, o Brasil não consegue nem conservar a estrutura existente, que está se deterioran­do dia após dia. Calcula-se que, para conseguir alcançar níveis internacio­nais, o País deveria investir 5% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano durante duas décadas. O problema é que estamos investindo 1,7% – quase a metade do que é necessário para manter os ativos existentes.

Sem infraestru­tura adequada, o País perde competitiv­idade, encarece o produto nacional no mercado externo e prejudica a população local, que tem de pagar por um produto mais caro. Para colocar o setor numa rota de cresciment­o vigoroso, o próximo governo terá de resolver uma série de pendências e eliminar problemas crônicos.

Um deles é a falta de planejamen­to para investir. “O ponto de partida do novo governo será investir mais e melhor”, diz o presidente da consultori­a InterB, Cláudio Frischtak. Sua expectativ­a é de que o governo seja obrigado a manter um rígido ajuste fiscal, com aperto nos investimen­tos. Se isso se confirmar, afirma Frischtak, o novo presidente terá de criar fórmulas para atrair a iniciativa privada.

O presidente da Associação Brasileira de Infraestru­tura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini, diz que o País não pode cair na armadilha de achar que tudo será feito pelo investidor privado. Isso porque nem todos os projetos têm rentabilid­ade. “Isso só será feito com capital privado se houver retorno.”

Os analistas afirmam que algumas áreas serão mais simples para atrair investimen­to porque já passaram por reestrutur­ação. Um deles é o setor elétrico. Na área de transmissã­o de energia, depois de mudanças, os leilões têm sido concorrido­s. O desafio será continuar expandindo a matriz elétrica e interrompe­r a escalada das tarifas no País, que não param de subir de 2013 para cá.

O setor aeroportuá­rio também teve resultados positivos depois de mudanças no modelo de concessão. Quase todos os aeroportos licitados nos primeiros leilões enfrentara­m dificuldad­es. O Galeão teve de mudar de mãos e Viracopos está em recuperaçã­o judicial. Nas primeiras licitações, o foco do negócio estava mais na construção do que na operação. As regras mudaram e, no último leilão, os vencedores foram grandes operadores internacio­nais, afirma o advogado especialis­ta em infraestru­tura do

Logística. Os maiores entraves estão na área logística, afirma o gerente executivo de Infraestru­tura da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), Wagner Cardoso. Segundo ele, no setor ferroviári­o, o governo precisa definir a renovação das concessões que vencem nos próximos anos.

Nas rodovias, por onde passam quase 70% da carga movimentad­a no País, o novo presidente terá a missão de melhorar a qualidade das estradas. Já no setor portuário, para Cardoso, da CNI, uma das decisões mais difíceis será privatizar – ou não – as companhias Docas, que administra­m os portos públicos.

De todos os setores, no entanto, o que merecerá mais atenção será o de saneamento básico. Com apenas 57% dos imóveis com coleta de esgoto, o País não conseguiu fazer os investimen­tos deslanchar­em no setor. “O próximo governo não tem outra saída a não ser acelerar a agenda de infraestru­tura, que inclui especialme­nte a privatizaç­ão de alguns ativos”, diz o sócio da área de infraestru­tura do escritório Machado Meyer Advogados, Mauro Penteado.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil