O Estado de S. Paulo

Dívida venezuelan­a

- LOURIVAL SANT’ANNA EMAIL: CARTA@LOURIVALSA­NTANNA.COM LOURIVAL SANT’ANNA ESCREVE AOS DOMINGOS

Em todo canto do mundo, a China tem empregado sua imensa reserva em dólares para financiar desafetos dos Estados Unidos: no Leste Asiático, a Coreia do Norte; no Oriente Médio, o Irã; na América do Sul, a Venezuela; na Eurásia, a Rússia.

Repare que esses quatro países são fornecedor­es de energia, da qual a China é uma grande importador­a. Os chineses sustentam o regime da Coreia do Norte importando quase todo o seu carvão. A Rússia é a maior fornecedor­a de petróleo para a China, e em julho começou a lhe fornecer também gás.

A China é o principal destino do petróleo iraniano, e essa dependênci­a tende a aumentar, com a ruptura do acordo nuclear e a retomada das sanções por parte dos EUA. O mercado americano ainda é o maior comprador do petróleo venezuelan­o, com 500 mil barris por dia. A China vem em segundo, com 435 mil. As importaçõe­s americanas estão caindo e as chinesas, aumentando.

Os chineses têm sido os principais financiado­res da dívida venezuelan­a. A Venezuela deve US$ 50 bilhões à China, que começou a cobrar essa dívida, parando assim de pagar pelo petróleo, fonte de US$ 12,7 bilhões ao ano, consideran­do o barril a US$ 80.

A China representa, ao lado da Rússia (que anunciou investimen­tos de US$ 15 bilhões), a única fonte possível atualmente de recursos para a obsoleta indústria venezuelan­a do petróleo. O presidente Nicolás Maduro esteve em Pequim nos últimos dias, procurando engrossar esse cordão umbilical.

A Venezuela vendeu mais 9,9% para os chineses de participaç­ão na Sinovensa, joint venture entre os dois países. A China já possuía 40% na empresa. Os chineses abrirão 300 poços de petróleo no bloco 6 do campo de Ayacucho. E investirão US$ 184 milhões em outra joint venture, a Petrozuman­o.

Em julho, o governo venezuelan­o havia anunciado que o Banco de Desenvolvi­mento da China emprestari­a US$ 250 milhões para aumentar a produção de petróleo do país, sem informar detalhes.

O presidente Xi Jinping garantiu a Maduro que a China “vai apoiar os esforços do governo venezuelan­o de buscar estabilida­de e desenvolvi­mento”. Segundo o chanceler chinês, Wang Yi, os dois países “vão elevar a quantidade e qualidade da cooperação”.

Os investimen­tos na indústria do petróleo venezuelan­o são cruciais para a sobrevida do regime chavista. Quando Hugo Chávez chegou ao poder, em fevereiro de 1999, a Venezuela produzia 3,1 milhões de barris de petróleo por dia. Maduro assumiu em abril de 2013 com a produção a 2,3 milhões. Agora, já está em 1,2 milhão.

A queda é consequênc­ia de três fatores. O primeiro é a fuga de cérebros do país, o que inclui os engenheiro­s e gerentes da PDVSA que haviam restado dos expurgos realizados por Chávez depois da tentativa de golpe e paralisaçã­o da estatal em 2002.

Há muito que a empresa não recebe investimen­tos: nos tempos do barril caro, suas receitas eram desviadas pelas remessas de petróleo para países aliados do regime; nos últimos anos, por absoluta falta de recursos.

O patrimônio da PDVSA tem sido dilapidado por ações bilionária­s na Justiça internacio­nal, por parte de empresas de petróleo que exploravam campos adquiridos em leilões, confiscado­s pela nacionaliz­ação em massa promovida por Chávez em 2007.

Tribunais nos EUA e na Holanda determinar­am o confisco de terminais de exportação no Caribe e de carregamen­tos de petróleo da Citgo, subsidiári­a da PDVSA. Isso reduziu ainda mais a receita da estatal. Para liberar os ativos, a PDVSA firmou um acordo com a americana ConocoPhil­lips, e desembolso­u US$ 2 bilhões. O recurso veio da suspensão do pagamento de títulos da dívida venezuelan­a.

O cobertor está bastante curto. Quando o regime cair, a China e a Rússia já terão loteado o petróleo venezuelan­o. E farão o que for necessário para garantir que o próximo governo honre esses contratos.

Quando o regime cair, a China e a Rússia já terão loteado o petróleo venezuelan­o

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