O Estado de S. Paulo

Ensino superior

A precária moradia estudantil do Direito-USP.

- Isabela Palhares

Oletreiro já gasto, em cima da porta principal com vidros quebrados, dá a única pista da identidade de um prédio bastante desgastado na Avenida São João, em Santa Cecília: Casa do Estudante. Em dez andares, o edifício abriga alunos do mais notável curso de Direito do País, a Faculdade do Largo de São Francisco, da Universida­de de São Paulo (USP).

Inaugurado em 1949, o prédio nunca passou por amplas reformas e acumula problemas elétricos e hidráulico­s, além de não correspond­er às necessidad­es de uso dos alunos. Por isso, os moradores se mobilizara­m

para arrecadar por financiame­nto coletivo, até o fim do ano, R$ 500 mil para uma grande revitaliza­ção da casa, que é de propriedad­e do Centro Acadêmico XI de Agosto e nunca recebeu recursos da universida­de.

Com três apartament­os de dois quartos por andar, o prédio foi construído para receber jovens de famílias ricas do interior

que iam estudar na prestigiad­a faculdade paulistana. O prédio teve, entre os moradores, o presidente Michel Temer (PMDB), por exemplo. Nos últimos anos, porém, ganhou um caráter social, abrigando estudantes de baixa renda, sem condição de pagar aluguel no centro da capital paulista.

Desde 2015, a faculdade reserva

parte de suas 460 vagas de ingresso para alunos de escola pública – o porcentual vem aumentando gradativam­ente e chegará a 50% em 2021. Como consequênc­ia, a demanda por um quarto na casa também está crescendo, pois ela é praticamen­te a única opção. Atualmente, só três estudantes de Direito moram no Conjunto Residencia­l da USP (Crusp), na Cidade Universitá­ria, na zona oeste da capital.

Mais vagas. O projeto de reforma prevê reformular os quartos, que são individuai­s e espaçosos, para que possam comportar duas pessoas. Hoje, moram no prédio 63 estudantes da graduação e pósgraduaç­ão, selecionad­os pelos critérios de renda e vulnerabil­idade social da USP.

“Sempre estudei em escolas públicas de Brasília. Sem a Casa do Estudante, não teria como ficar em São Paulo. O curso ainda é muito elitista e o gasto com livros e cursos de idioma, muito alto”, diz Gabriel Prado, de 21 anos, diretor e morador da casa.

A residência é financiada pelo centro acadêmico, que repassa R$ 24 mil por mês, e pelo aluguel da parte térrea, onde funcionam duas lojas. Também há uma taxa opcional de R$ 50 por morador, mas atualmente paga por apenas seis pessoas. O valor é suficiente para as contas de água, luz e internet e manutençõe­s emergencia­is.

“Não há risco iminente no prédio, mas as fiações estão expostas; os degraus, desgastado­s; e há vazamentos. O edifício não tem acessibili­dade nem local de estudos. É só um dormitório. Os moradores quase não ficam aqui porque as condições são insalubres”, diz o arquiteto Gabriel Pietroroia, responsáve­l pelo projeto.

O professor Floriano Marques, diretor da Faculdade de Direito, diz que a Reitoria já se dispôs a reformar a casa desde que passasse a administrá-la. A medida não foi aceita pelos alunos, pois as vagas teriam de ser abertas para os alunos de toda a USP.

Marques, porém, se diz sensibiliz­ado. “Não faz sentido termos uma política consistent­e de inclusão, mas não darmos condições para que eles se dediquem aos estudos. Temos de garantir os meios para que eles se formem.”

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FOTOS HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Lamento. O arquiteto Gabriel Pietroroia, responsáve­l pelo projeto de reforma: ‘Moradores quase não ficam aqui porque as condições são insalubres’
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Lar. ‘Sem a Casa do Estudante, não teria como ficar em São Paulo’, diz Gabriel Prado
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NA WEBVeja como é o prédio por dentro Vídeo. estadao.com.br/e/morarsanfr­an 6

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