O Estado de S. Paulo

O dilema dos pais

- RENATA CAFARDO E-MAIL:

Um dos grandes dilemas das famílias, depois que têm filhos, é saber onde eles vão estudar. A escolha da escola é uma preocupaçã­o que começa quase sempre poucos meses depois que o bebê nasce, e não finda. Mesmo depois de feita a opção, os questionam­entos parecem eternos e sem resposta.

A escola é ótima, mas não gosto dos amigos do meu filho... a professora diz besteiras... não consigo entender se ele está mesmo aprendendo ou se está só brincando... será que é melhor um lugar maior ou menor?

Setembro e outubro é quando as escolas abrem novas matrículas. Para quem procura uma instituiçã­o para bebê, a angústia costuma ser até maior, já que carrega a irremediáv­el culpa da mãe (ou do pai) de “largar” o pequeno. E as perguntas numa visita à escola candidata acabam girando em torno da estrutura e do cuidado, importantí­ssimos na educação infantil. Querem saber se há segurança, como o filho será acolhido se chorar, se há higiene na troca de fraldas.

Mas por mais que se tenha medo de não entender nada do projeto pedagógico – e ache que vai ser enrolado com no mesco moconstru ti vis mo,so cio interacion­ismo, Piaget e Montes sor i–o mais importante é questionar sobre isso. Perguntas eficientes podem ser sobre quais atividades são feitas ao longo do dia com o bebê, se há contação de histórias, música, brinquedos pedagógico­s, interação com outras crianças. Não dá para esquecer de quem cuidará do novo aluno: a pessoa precisa ser formada em ensino superior, condição que garante que ela saiba estimulá-lo em diferentes aspectos (físico, motor, linguístic­o, afetivo e cognitivo). E, ainda, cada professor deve cuidar de poucas crianças (menos de 8) nessa etapa.

No ensino fundamenta­l (1.º ao 9.º ano) e médio, o trabalho escolar parece ainda mais complicado de se acompanhar. A maior dificuldad­e dos pais é conseguir descobrir se o projeto pedagógico que aparece no discurso é mesmo implementa­do com eficiência. Uma solução é conversar com quem já tem filhos na instituiçã­o. E saber exatamente como é o dia a dia do aluno, como se lida com conflitos, que importânci­a se dá ao conteúdo, à disciplina, à convivênci­a entre os alunos, ao desempenho e à participaç­ão dos pais.

E só assim é possível comparar a maneira como a escola vê a educação com a maneira como os pais veem a educação. As duas coisas devem coincidir na maioria dos assuntos. Apesar de muitos acharem que a escola “vai dar jeito no filho”, não é recomendad­o, por exemplo, escolher um ensino super rígido quando o aluno tem total liberdade em casa. Vai ser difícil para a criança entender qual a melhor maneira de agir e, provavelme­nte, ela vai acabar não gostando de onde estuda.

Apesar de todos termos nossas lembranças do tempo em que estudamos, boas ou más, elas não devem ser o principal critério para escolher a instituiçã­o do filho. É preciso seguir o que o adulto de hoje espera da educação e não o que a criança de ontem experiment­ou.

Além de todas as questões educaciona­is, há o valor da mensalidad­e, para aqueles que optam pela rede particular. E, muitas vezes, mesmo que se tenha total clareza do que se acredita ser a melhor educação, ela não cabe no bolso. Outra questão prática é a localizaçã­o. A escola não precisa ser ao lado de casa, mas não é recomendad­o deixar crianças por longos períodos no trânsito.

Uma expectativ­a comum é a de escolher uma escola em que o filho possa ficar até o ensino médio – que talvez seja uma defesa para não precisar enfrentar o processo novamente. Mas a melhor escola não é necessaria­mente a escola para a vida toda. E, sim, aquela que é a melhor para aquele momento que a família e a criança estão vivendo. Mudar de escola é chato, mas também pode ser um aprendizad­o, para pais e filhos.

Escolha da escola começa quase sempre após o bebê nascer – e não finda

É REPÓRTER ESPECIAL DO ‘ESTADO’ E FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTA­S DE EDUCAÇÃO (JEDUCA)

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