Os idos de setembro
No dia 11 deste mês, transcorreram 17 anos do atentado terrorista às torres gêmeas do World Trade Center e ao Pentágono. E, no próximo dia 15, transcorrerão dez anos da falência do banco de investimentos Lehman Brothers, data-símbolo da pior crise financeira global desde a Grande Depressão de 1929-1933. Dois eventos ocorridos a mais de 7 mil quilômetros de São Paulo e cujos efeitos se fizeram sentir no Brasil, de imediato, e que perduram até hoje.
As consequências imediatas mais palpáveis dos ataques terroristas foram as 2.975 mortes, número superior ao de mortes ocorridas no ataque a Pearl Harbor em dezembro de 1941. A essas mortes se juntou um grande número de feridos.
Na economia, os ataques produziram o aprofundamento da recessão americana iniciada em março de 2001. O PIB havia se contraído em 1,1% no primeiro trimestre daquele ano, mas havia recuperado 2,1% no segundo trimestre. Os ataques provocaram uma nova queda no PIB, de 1,3%, estendendo a recessão de março a novembro de 2001. Não coincidentemente, por contágio, no Brasil a recessão durou do segundo ao quarto trimestres daquele ano, ocorrendo em sucessão à recessão americana. Nos três trimestres de recessão aqui, perdemos 1,2% do PIB.
Decorreu uma década dos eventos calamitosos que chocaram o sistema financeiro global, incluindo a nacionalização britânica do banco Northern Rock em fevereiro de 2008, a compra do banco de investimentos Bear Stearns pelo banco JPMorgan Chase em março de 2008 e a falência do banco de investimentos Lehman Brothers em setembro de 2008. Da crise resultou a mais longa recessão americana no pós-guerra; por contágio, a crise afetou um grande número de países, gerando substancial aumento no desemprego.
Medidas heterodoxas praticadas pelo Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) e pelo Tesouro americano a partir de 2008 impediram a quebra do sistema bancário do país, que certamente arrastaria consigo os sistemas financeiros em escala global. Aprendeu-se muito com os erros cometidos na condução da política monetária em 1929-1933, quando o Federal Reserve agravou uma recessão já em curso na Grande Depressão. Em 2008, o Federal Reserve promoveu a injeção de liquidez na economia, evitando a quebra dos sistemas financeiros, americano e global.
Como em todas as crises, há muitos fatores causais interrelacionados. Recente painel de especialistas convidados pela Chicago Booth School of Business a dar notas a 12 possíveis causas da crise atribuíram os maiores pesos a falhas na regulação e supervisão do sistema financeiro; à subestimação dos riscos envolvidos na engenharia financeira; e a fraudes e incentivos perversos no mercado de hipotecas. Subjacente a esses fatores secundários, não pode ser ignorado que em todas as crises sempre houve uma bolha de crédito que, ao romperse, provocou as crises.
Quaisquer que tenham sido as principais causas da crise, ela chegou com violência ao Brasil. O PIB medido no quarto trimestre de 2008 ficou 5% abaixo do PIB potencial, mas a recuperação da economia foi rápida. Antes do quarto trimestre de 2009 o PIB já havia retornado ao seu potencial.
Se serviu para alguma coisa, a crise do subprime americana e sua superação nos ensinaram que, em situações atípicas, medidas heterodoxas são indispensáveis. Como o veículo de transmissão da crise ao Brasil foi a brusca interrupção das linhas de crédito externas aos bancos brasileiros, lançamos mão dos bancos estatais para suprir a lacuna provocada pela iliquidez do sistema bancário.
Isso não se aplica à Grande Recessão brasileira iniciada em janeiro de 2014. Ela nada teve que ver com choques vindos do exterior. Sua causa tem nome: “Nova Matriz Econômica”.
Os efeitos dos ataques terroristas e da quebra do Lehman Brothers, sentidos no Brasil, perduram até hoje