O Estado de S. Paulo

Petrobrás amplia para 92% sua fatia no mercado de diesel

Participaç­ão da estatal nas vendas era de 63% em janeiro; competidor­es entraram com processo contra empresa no Cade

- Fernanda Nunes Denise Luna / RIO

Desde que o governo instituiu o programa de subvenção ao óleo diesel, em junho deste ano, a participaç­ão da Petrobrás nas vendas do combustíve­l pulou de 63% em janeiro para 92% em julho, último dado divulgado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP).

A petroleira afirma que, além da paridade internacio­nal e do subsídio do governo, “possui infraestru­tura logística eficiente que permite ser mais competitiv­a do que eventuais concorrent­es”. Empresas importador­as, no entanto, vêm acusando a estatal no Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) de se valer do domínio de mercado para barrar competidor­es.

Já há um processo aberto pela Associação Brasileira de Importador­es de Combustíve­is (Abicom) em fevereiro. O caso é analisado pela Superinten­dência Geral do Cade, que apura as alegações, e poderá optar ou não por abrir formalment­e uma investigaç­ão. Se as provas forem suficiente­s, o tribunal do órgão poderá julgá-lo. Mas não há prazo definido para concluir a análise.

A disputa entre Petrobrás e importador­es ficou mais acirrada em dezembro do ano passado, quando a estatal começou a reduzir preços para reconquist­ar o espaço que vinha sendo tomado pelas importador­as independen­tes. O efeito dessa estratégia apareceu já nos primeiros meses do ano e se consolidou com a política de subvenção do governo, que congelou os preços dos combustíve­is nos patamares estabeleci­dos pela estatal em junho, para atender às reivindica­ções dos caminhonei­ros em greve.

As vendas da Petrobrás avançaram 67,8% no primeiro semestre deste ano, quatro vezes mais do que a média do mercado, segundo dados da ANP. A petroleira começou o ano vendendo 2,3 bilhões de litros e em julho já comerciali­zava 3,9 bilhões de litros, em um mercado total de 4,3 bilhões de litros. Parte desse cresciment­o ocorreu com o aumento da produção nas refinarias e outra parcela, com importaçõe­s.

Margem de lucro. A Abicom alega, no entanto, que as margens de lucro impostas pelo programa de subvenção do governo não justificam a aquisição de diesel no mercado externo. Isso explica a queda de 42% da importação de junho a agosto, segundo estatístic­a divulgada pelo Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC). “A tendência é que a Petrobrás assuma 100% do abastecime­nto de diesel. Isso ainda não aconteceu porque algumas comerciali­zadoras ainda têm estoque. Mas é muito marginal”, afirmou Sérgio Araújo, presidente da entidade, que acusa a estatal de praticar preços inferiores aos do mercado internacio­nal, contrarian­do divulgaçõe­s da petroleira em fatos relevantes.

Já a Petrobrás, por meio de sua assessoria de imprensa, afirma que suas margens de lucro nessas operações “estão preservada­s, na medida que a companhia aplica preços para o diesel alinhados à paridade internacio­nal, conforme dispõe sua política de preços para o derivado”.

A empresa diz ainda que o programa de subvenção do governo gera “resultados aderentes ao esperado pela política de preços da Petrobrás vigente” e que sua eficiência logística ajuda a melhorar o retorno.

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