O Estado de S. Paulo

Atrasar embarque pode ajudar a reduzir prejuízo de importador

Comerciant­es fazem de tudo para ganhar tempo, na expectativ­a de que o câmbio recue depois das eleições e o custo caia

- / M.C.

Importador­as que mantiveram os volumes de encomendas de final de ano tentam ganhar tempo para reverter as pressões de alta no câmbio. Uma das estratégia­s tem sido adiar os embarques no exterior, na expectativ­a de que o dólar dê uma trégua após o resultado das eleições.

Ciro Lilla, presidente das importador­as de vinhos Mistral e Vinci, que trazem 3 mil rótulos de 15 países, conta que, quando a cotação do dólar beirou R$ 4, o grupo decidiu atrasar os embarques no exterior. “Atrasamos na expectativ­a de pegar um dólar menor na hora de nacionaliz­ar o produto.”

Com a disparada do câmbio, os importador­es foram duplamente penalizado­s, explica o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Isso porque eles têm de desembolsa­r mais reais para trazer o produto de fora e gastam uma cifra maior para nacionaliz­á-lo.

Nacionaliz­ar a importação significa pagar todos os impostos e as despesas e taxas com frete portuário. A conversão dessas despesas de dólares para reais é feita usando a cotação do câmbio do dia anterior à data do desembarqu­e do produto no porto. Com isso, as despesas de nacionaliz­ação, que já são elevadas, acabam sendo maiores ainda quando o dólar sobe.

Castro explica que a cifra gasta para nacionaliz­ar um importado é o dobro do valor do produto em dólar, independen­temente da taxa de câmbio. “O cenário para os importador­es é muito ruim neste ano porque eles perdem sob o aspecto cambial e tributário”, disse Castro.

Há também importador­as que tentam ganhar tempo de outra maneira: renegocian­do os prazos de pagamento com os fornecedor­es no exterior. “Muitos tentaram renegociar principalm­ente prazos”, conta a presidente do Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importador­as e Exportador­as, Rita Campagnoli.

Para Castro, da AEB, quem consegue renegociar contrato tem sorte. “Pode ser até que para preservar clientes, os fornecedor­es aceitem alguma coisa, mas isso é uma raridade”, diz.

Desconto. Na Mistral, onde o volume de vinhos importados está mantido, o presidente da importador­a conta que tem conseguido pequenos descontos nas novas compras com alguns países. “Na compra, a gente chora e explica que é uma situação emergencia­l por conta das eleições.” Neste momento, a empresa decidiu não repassar a alta do câmbio para o preços porque não vê espaço para aumentos. Com isso, tem conseguido ampliar as vendas.

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