O Estado de S. Paulo

Perigos ocultos da varanda envidraçad­a

Profission­al da ABNT afirma ser essencial dar atenção a requisitos técnicos e de segurança ao se decidir pela alteração do terraço

- Jéssica Díez Corrêa

Fechamento da sacada com

vidros exige adoção de medidas previstas em norma da ABNT; descumprim­ento causa desde vazamentos a ameaças como queda de placas em área comum

É difícil, atualmente, visitar um estande de vendas imobiliári­o e não dar de cara com a réplica de um apartament­o decorado, na qual há uma bela varanda integrada à sala de estar, com piso nivelado à área interna, móveis planejados e sacada envidraçad­a. A tendência não é puramente estética, mas tem a ver com o melhor aproveitam­ento da área útil do imóvel. “Os apartament­os estão cada dia menores e as varandas cada vez maiores. As pessoas já compram a unidade levando em conta esse espaço”, diz a gerente de atendiment­o da Mario Dal Maso Administra­dora, Alessandra Muniz.

Além de contribuir para aumentar a área, o vidro na varanda atenua barulhos da rua e barra poluição, ventos e chuva. O modelo de envidraçam­ento mais utilizado é o 100% retrátil, com folhas de vidro que deslizam em trilhos e se amontoam nas laterais, possibilit­ando que o espaço fique totalmente aberto.

O envidraçam­ento, no entanto, pode até trazer perigo aos condôminos, se o serviço não for bem executado. O diretor da Manager Gestão Condominia­l, Marcelo Mahtuk, lembra a vez em que um vidro caiu do alto de um prédio e atingiu um carro que estava estacionad­o. “Vemos casos de placa de vidro que cai em piscina, em cima de carro, em áreas comuns. É um risco enorme”, comenta o arquiteto e coordenado­r da equipe que escreveu a norma NBR 16.259, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Rodrigo Belarmino. A diretriz regulament­a os procedimen­tos necessário­s para o envidraçam­ento de varandas.

O caso da dentista Marta Lazzarini, de 67 anos, que mora em um condomínio no bairro Santa Cecília, ilustra bem esse tipo de situação. Seu imóvel, localizado no primeiro andar, é o único do prédio com uma área estendida, transforma­da em varanda depois que a moradora entrou em acordo com a administra­ção para fechar a local com vidro no teto e nas laterais do espaço.

No entanto, em duas ocasiões, placas de vidro de varandas de unidades de andares superiores se soltaram e caíram no espaço de Marta. “Todos os problemas que tive foram causados por terceiros. Não adianta economizar e contratar uma

empresa qualquer”, diz a dentista, que desembolso­u R$ 40 mil para envidraçar a área.

A Apoio Manutenção de Sacadas, empresa de assistênci­a técnica, lista os problemas vistos com mais frequência: má vedação entre as lâminas, vidros descolados, mal fixados ou trincados e roldanas quebradas.

‘Inundação’. Moradora do Panamby, a pedagoga Daniela Lopes, de 48 anos, encarou uma infiltraçã­o

em sua sacada. “A varanda não foi bem vedada. Percebemos que era recorrente: quando havia uma chuva mais forte, ficava tudo molhado”, conta. Ela, então, acionou a empresa responsáve­l pelo fechamento para consertar o estrago.

A historiado­ra Agatha Antunes, de 29 anos, tem um problema do mesmo tipo no apartament­o onde vive, em Santa Cecília. O envidraçam­ento deixou vãos nos cantos da varanda e a

água entra cada vez que há temporal. “Acaba molhando e manchando o tapete e as cortinas. Por conta disso, temos de mandar lavá-los com frequência, o que aumenta nossos custos.”

De acordo com Belarmino, as recomendaç­ões da ABNT não são seguidas, ocasionand­o esse tipo de situação. “A maioria dos fornecedor­es não faz os projetos de acordo com a norma. É uma luta no mercado, pois as empresas não levam a sério.”

Na instalação de vidros na varanda, os condomínio­s costumam exigir que as contratada­s forneçam uma anotação de responsabi­lidade técnica (ART) assinada por um engenheiro. De acordo com Belarmino, isso não é suficiente. “O que recomendam­os é que os projetos de envidraçam­ento já sejam elaborados seguindo as normas. Isso deve estar previsto em ata”, afirma. Além disso, ele aponta que as administra­doras poderiam fazer um trabalho melhor de fiscalizaç­ão do serviço, autorizand­o a entrar no prédio apenas empresas que seguem a norma.

O diretor de condomínio da Associação das Administra­doras de Bens, Imóveis e Condomínio­s de São Paulo (Aabic), Omar Anauate, chama a atenção para a necessidad­e de manutenção dos vidros na varanda. “O condômino deve estar sempre ciente de que a manutenção é individual, e de que a responsabi­lidade também é dele, caso aconteça alguma coisa.”

A Motta Envidraçam­ento, que trabalha no segmento, oferece aos clientes um manual de utilização, conservaçã­o e limpeza das sacadas envidraçad­as. “São cuidados básicos que o consumidor pode ter e que aumentam a vida útil do produto”, diz o diretor Ricardo Mota.

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JF DIORIO/ESTADÃO Dano.Má vedação em sacada de Daniela Lopes causou vazamento
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FELIPE RAU/ESTADÃO Perigo. Folhas de vidro de apartament­os vizinhos caíram em área do apartament­o de Marta, trazendo riscos a sua segurança
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JF DIORIO/ESTADÃO Água. ‘Quando havia uma chuva mais forte, ficava tudo inundado’, conta Daniela Lopes

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