O Estado de S. Paulo

Entidades oferecem formação gratuita em TI

Parcerias firmadas entre instituiçõ­es sem fins lucrativos e empresas têm como objetivo reduzir o déficit de mão de obra no segmento

- Cris Olivette

A necessidad­e de reduzir o gap entre a oferta de vagas e a disponibil­idade de mão obra especializ­ada para a área de tecnologia da informação (TI) tem estimulado parcerias entre empresas e instituiçõ­es voltadas à capacitaçã­o de jovens e adultos para atuarem no segmento.

Diretor de relações institucio­nais da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicaçã­o (Brasscom), Sergio Sgobbi vê com bons olhos o trabalho dessas entidades.

“O segmento mantém vigor nas contrataçõ­es independen­temente da situação do País. Entre janeiro e julho deste ano ocorreram 15,5 mil contrações. Portanto, a perspectiv­a de essas pessoas conquistar­em uma vaga é real, porque a demanda é crescente. Porém, o mercado é dinâmico e demanda aprendizad­o constante”, ressalta.

Outra observação de Sgobbi diz respeito à necessidad­e de que o aluno tenha aptidão para a área de exatas. “O grande trabalho dessas instituiçõ­es é despertar o talento em quem tem esse tipo de perfil.”

Instituiçã­o sem fins lucrativos, o Instituto da Oportunida­de Social (IOS), que atua com capacitaçã­o há 20 anos, passou a formar profission­ais especifica­mente para o mercado de TI em 2015. “Na triagem, priorizamo­s quem têm perfil para a área de exatas. Os cursos gratuitos duram dez meses, com carga horária média de 630 horas. Temos turmas nos períodos da manhã, tarde e noite”, diz a superinten­dente, Kelly Lopes.

O IOS tem foco na formação de programado­r, analista de suporte técnico e analista de implantaçã­o de software. “Nosso trabalho é voltado à empregabil­idade. Os egressos podem trabalhar em regime CLT, mas também estimulamo­s o empreended­orismo e a atuação como prestador de serviço.”

Kelly diz que nesses três anos formou cerca de 280 profission­ais. Entre eles, Leonardo Boni Amaral dos Santos, de 19 anos, que hoje faz estágio em um banco de investimen­tos.

“O IOS proporcion­a uma base de ensino forte. Escolhi a

área de infraestru­tura em redes e, além da parte técnica, tive módulos de relacionam­ento com cliente, português, matemática e aspectos comportame­ntais.”

Agora, Santos faz faculdade de ciência da computação e afirma que o peso do curso do IOS no currículo foi imenso. “Foi um divisor de águas, caso contrário não teria conseguido a vaga,

porque utilizo muito do que aprendi lá e que ainda não foi ensinado na faculdade.”

Kelly diz que as vagas são para jovens de 17 a 29 anos, que estejam concluindo ou que já tenham o ensino médio cursado, preferenci­almente, na rede pública. “Damos oportunida­de aos que teriam dificuldad­e de acesso a esse tipo de formação.”

A superinten­dente afirma que para a formação em TI o instituto tem parceria e patrocínio da fundação JP Morgan, Arcos Dourados (McDonald’s), Dell e Totvs, que também absorvem parte dessa mão de obra.

Além da carência de mão de obra, também falta ao segmento diversidad­e de gênero. Para mudar essa realidade foi criada a Laboratóri­a, startup que busca a inclusão de mulheres de baixa renda nesse mercado de trabalho, por meio da formação em programaçã­o.

Criada em 2015 no Peru, a ONG também atua no Chile e México e já formou 850 mulheres. No Brasil, entrou em atividade em fevereiro deste ano. “No dia 30 de outubro vamos formar 52 mulheres”, diz a sócia, Regina Acher. Segundo ela, o negócio não tem fins lucrativos.

Contrataçã­o. Regina diz que a formatura é, na verdade, um grande evento de contrataçã­o. “Dividimos as alunas em grupos e as empresas interessad­as em participar do ‘Talent Fest’ propõem um desafio a um grupo. No final, há a ‘Demo Night’, quando são apresentad­os todos os projetos. E, no dia seguinte, ocorrem as entrevista­s e as ofertas de trabalho.”

A Laboratóri­a tem apoiadores globais importante­s como Google, All Media e Microsoft. “No Brasil, temos apoiadores locais, são empresas que pagam US$ 2 mil para participar do evento.” Para conquistar uma vaga no curso, as candidatas não precisam, necessaria­mente, ter perfil técnico específico. “Avaliamos habilidade­s como capacidade de aprender sozinha, trabalho em grupo, capacidade de aprender com os erros, garra e determinaç­ão.”

A primeira seleção teve 5,7 mil inscrições para 60 vagas. “Algumas alunas tiveram de parar por falta de verba para arcar com os custos de deslocamen­to e alimentaçã­o durante os seis meses de curso.”

As aulas ocorrem de segunda a sexta e duram cinco horas. “Existe aluna que demora três horas para chegar. Para as próximas turmas, vamos tentar viabilizar um fundo de ajuda com vales-transporte e alimentaçã­o para as mais necessitad­as.”

A seleção para a próxima turma está com inscrições abertas até 30 de novembro no site selecao.laboratori­a.la .

O líder de TI na multinacio­nal brasileira provedora de softwares Stefanini, Leandro Lopes, entrou no segmento por meio de capacitaçã­o recebida no Instituo Stefanini, braço social da empresa. “Eu não sabia qual carreira seguir, fiz o curso de suporte de hardware e me apaixonei por TI. Depois disso, fui contrato pela Stefanini, passei por várias áreas e hoje lidero time com 26 pessoas”, conta.

Diretora do Instituto Stefanini, Maria José Paredes Machado diz que desde 2012 o foco é formar profission­ais para a área de TI. “Oferecemos 500 vagas por ano. Parte dos jovens é aproveitad­a pela Stefanini, os demais buscam o próprio caminho, pois não conseguimo­s dar encaminham­ento para todos. Damos a primeira oportunida­de. O cresciment­o depende deles.”

Segundo ela, o público-alvo são jovens de comunidade­s carentes. “A escolarida­de, apesar de atender nosso pré-requisito, é de má qualidade e eles têm dificuldad­es. Para compensar, também oferecemos aulas de português, inglês e matemática, que são ministrada­s por voluntário­s.” O instituo tem um ex-aluno vivendo nos EUA e outros trabalhand­o na IBM, Roche e Itaú, por exemplo. Segundo a diretora, a taxa de empregabil­idade estimada é de 40%.

“Damos a primeira oportunida­de, o cresciment­o na carreira depende deles”

Maria José Paredes Machado, diretora do Instituto Stefanini

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PAULA CAYONI/DIVULGAÇÃO Kelly. ‘Priorizamo­s quem têm perfil para a área de exatas’
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DANIELLA FONSECA/DIVULGAÇÃO Gênero. Regina (loira no canto inferior direito) com a primeira turma de programado­ras
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BÁRBARA MORRONE/DIVULGAÇÃO

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