O Estado de S. Paulo

7 em cada 10 profission­ais de saúde já foram agredidos

Violência. Levantamen­to de conselhos de classe mostra situação preocupant­e contra médicos, enfermeiro­s e farmacêuti­cos. Parente e paciente são os que com mais frequência agridem e atribuem o comportame­nto à falta de estrutura ou demora. Campanha é lançada

- Paula Felix Marco Antônio Carvalho

Sete em cada dez profission­ais de saúde, incluindo médicos, enfermeiro­s e farmacêuti­cos, já foram agredidos física ou verbalment­e no Estado de São Paulo. Levantamen­to com 6.832 pessoas mostra que o agressor, na maioria das vezes, é o próprio paciente e os enfermeiro­s são os mais atingidos – 90% dizem já terem sido agredidos.

O ginecologi­sta obstetra Conrado Ragazini, de 31 anos, tem um lapso curto de memória que data de 3 de janeiro deste ano. Ele se recorda de estar na sala da sua equipe, no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, e ser chamado pelo acompanhan­te de uma mulher que dera à luz havia poucos dias. O médico, então, esticou a mão para cumpriment­á-lo e, depois disso, só se lembra de acordar no chão, sendo socorrido por amigos, após ter levado um soco no rosto, que fraturou os ossos da face e o afastou por 30 dias do trabalho.

“O filho do casal nasceu com complicaçõ­es e precisou ser internado na UTI neonatal. O pai pensava que eu tinha feito algum mal para o filho dele”, contou Ragazini. Como profission­al de saúde, ele integra uma estatístic­a que preocupa cada vez mais os conselhos de classe: vítima de agressão física ou verbal. Um levantamen­to inédito aponta que mais de 70% dos médicos, profission­ais de enfermagem e farmacêuti­cos do Estado de São Paulo já sofreram algum tipo de agressão.

Os dados foram compilados em uma iniciativa conjunta do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) e do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), que se uniram para analisar a questão e estão lançando uma campanha contra a violência com os profission­ais de saúde. Para a pesquisa, foram ouvidas 6.832 pessoas e 71,6% afirmaram já ter passado por situação violenta. Segundo o levantamen­to, o tipo de agressão que mais ocorre é a verbal e os profission­ais mais atingidos são da área de enfermagem – 90% afirmaram já ter sofrido. O índice foi de 47% entre os médicos e de 89% entre os farmacêuti­cos.

No caso de agressão física, os profission­ais de enfermagem também são as principais vítimas (21%), seguidos dos médicos (18%) e dos farmacêuti­cos (7%). Nas três categorias, as principais vítimas são as mulheres e a faixa etária que sofre mais agressões é até os 40 anos.

Os dados mostram ainda que a maior parte das agressões é feita pelos próprios pacientes. Em segundo lugar, estão familiares e, em terceiro, acompanhan­tes. A pesquisa perguntou as motivações para as agressões e as três categorias informaram que foi demora e fila para atendiment­o.

O presidente do Cremesp, Lavínio Nilton Camarim, destaca que a falta de estrutura, que resulta na demora no atendiment­o, é um problema que afeta tanto o paciente como o médico. Por isso, é necessário, primeiro, respeito, e também atendiment­o das reivindica­ções quanto a investimen­tos na saúde, especialme­nte no setor público. “Falta desde uma maca adequada, um leito de observação, até medicament­os básicos, como dipirona, seringa e esparadrap­o. A pessoa que busca atendiment­o já está emocionalm­ente debilitada e se depara com isso. Mas é preciso entender, como dizia nossa campanha anterior, que violência não resolve. E, agora, como estamos destacando: quem cuida, merece respeito”.

Cerca de 20% dos entrevista­dos denunciara­m as agressões, mas apenas 15% dos profission­ais de enfermagem e 11% dos farmacêuti­cos afirmaram ter recebido acolhiment­o após a queixa. Os números são diferentes em relação aos médicos. De acordo com os dados, 59% das queixas foram acolhidas pela polícia, Justiça ou pela instituiçã­o onde eles trabalham.

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CELIO MESSIAS / ESTADÃO Vítima. Médico esticou mão para cumpriment­o e, depois, só se lembra de acordar no chão

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