O Estado de S. Paulo

China vai retaliar EUA em US$ 60 bilhões

Pequim vai impor tarifas a US$ 60 bi em produtos americanos; preocupaçã­o é de que disputa leve a uma retração da economia mundial

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA Beatriz Bulla CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON / COLABOROU DOUGLAS GAVRAS

Um dia após o anúncio de que os EUA vão impor tarifas sobre US$ 200 bilhões em importaçõe­s chinesas, o governo da China informou que vai aplicar retaliaçõe­s contra produtos americanos no valor de US$ 60 bilhões. Pequim também recorreu à Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC), onde o temor é que as retaliaçõe­s mútuas e o avanço protecioni­sta americano saiam do controle, afetando a economia mundial.

Na lista de produtos que os chineses vão sobretaxar estão alguns dos principais concorrent­es das exportaçõe­s brasileira­s. Cerca de 1,6 mil produtos serão atingidos por uma tarifa de 5%, incluindo aeronaves, têxteis e computador­es. Uma taxa de 10% será imposta sobre 3,5 mil itens, como carnes, trigo e vinho, além de químicos.

Na segunda-feira, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que vai taxar em 10% US$ 200 bilhões em importaçõe­s chinesas, a partir do dia 24. As tarifas aumentarão para 25% em 2019. Isso se soma aos US$ 50 bilhões que foram taxados no início do ano, o que significa que os EUA vão taxar quase metade do que compram da China.

Na madrugada desta quartafeir­a, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, em discurso no Fórum Econômico Mundial, na cidade de Tianjin, disse que “ações comerciais unilaterai­s não resolvem o problema”.

A ofensiva americana e a resposta chinesa são sinais de que a guerra comercial entre os dois países não será resolvida tão cedo. O homem mais rico da China, Jack Ma, dono do grupo Alibaba, afirmou que a disputa pode durar 20 anos. “Não há uma solução de curto prazo”, disse.

“Trump está dobrando suas ameaças, acreditand­o que a China não pode cobrar mais tarifas sobre os produtos americanos porque os EUA compram muito mais da China do que a China dos EUA”, diz Mary Gallagher, diretora do Centro para Estudos Chineses da Universida­de de Michigan.

De acordo com a especialis­ta, no entanto, o risco é com a retaliação de longo prazo a empresas americanas que se beneficiam do comércio e investimen­to na China, citando Boeing, Apple e GM, além de outras multinacio­nais. “Trump está buscando uma guerra comercial completa, e é um erro enorme”, afirma Jeffrey Frankel, professor da Universida­de de Harvard.

Os efeitos negativos dessa disputa têm escala global, já que as cadeias de produção e de consumo são interligad­as. O aumento de tarifas eleva custos de exportação e reduz o comércio internacio­nal como um todo.

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, lembra que a decisão de Trump e a retaliação dos chineses vão provocar uma contração do comércio internacio­nal. A previsão anterior, diz ele, era de um cresciment­o de 3,9% no comércio exterior mundial para este ano. Agora, deve ficar em 2,5%.

Segundo Bartolomeu Braz, da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), o exportador brasileiro tem se beneficiad­o agora. As exportaçõe­s da última safra foram 20% maiores que as da safra anterior, mas essa alta não se sustenta. “O agricultor não se arrisca a plantar mais, por não saber até onde essa briga vai.”

Fora de controle. As empresas americanas, como a Apple, estão preocupada­s, alertando que a alta de tarifas contra produtos chineses resulte num aumento de preços para os consumidor­es americanos, gerando inflação. No banco UBS, as estimativa­s apontam ainda que a elevação de tarifas poderia desacelera­r a economia americana, exigindo até uma ação do Federal Reserve, banco central dos EUA, com aumento de juros.

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