Petista diz que não dará indulto a Lula
Afirmação do candidato do PT ao Planalto foi jogada ensaiada com ex-presidente; tema é usado por adversários
O candidato do PT ao Planalto, Fernando Haddad, afirmou ontem que, se eleito, não concederá indulto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato. “Lula é o primeiro a dizer que não quer favor, quer reconhecimento do erro do Judiciário”, disse, em entrevista à rádio CBN e ao portal G1. Pressionado, Haddad, pela primeira vez, negou: “Não. Não ao indulto”.
A afirmação foi uma jogada ensaiada com Lula, que, também ontem, em Curitiba, onde está preso, disse por meio do deputado Wadih Damous (PTRJ) que quer “ver reconhecida sua inocência e não quer saber de indulto”. A possibilidade de um perdão ao ex-presidente foi usada nos últimos dois dias como munição de adversários que querem explorar o antipetismo.
Desde que foi oficializado presidenciável do PT, Haddad cresceu rapidamente nas pesquisas e se isolou na segunda posição. Mas o impacto do antipetismo no segundo turno preocupa o partido. A campanha vai se dividir em duas frentes. Na TV, o PT vai continuar associando Haddad a Lula. A ideia é manter a transferência de votos.
Na outra frente, em discursos e entrevistas, o candidato tem sido orientado a adotar um tom mais conciliador e menos radical do que o do PT. O objetivo é reduzir a rejeição provocada pelo antipetismo e abrir as portas para a possibilidade de receber apoio de setores da política e da sociedade distantes do PT, mas que estariam dispostos a uma aliança contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).
Ontem, o grupo “Eu voto Haddad, me pergunte por quê”, formado por intelectuais independentes do PT, divulgou texto no qual defende a flexibilização do discurso do candidato. “Seu pragmatismo e sua capacidade de diálogo habilitam Haddad a viabilizar um arranjo inédito que atravesse fronteiras ideológicas para incorporar todas as lideranças politicamente responsáveis para impedir uma perigosa guinada autoritária”, diz o documento.