O Estado de S. Paulo

O futuro dos empregos

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Está em andamento uma revolução no mundo laboral, com efeitos profundos sobre a relação entre seres humanos, máquinas e algoritmos no trabalho, afirma o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla original), em seu recente estudo The Future of Jobs Report 2018. A inovação tecnológic­a, que muitos chamam de Quarta Revolução Industrial, deve eliminar até 2022 cerca de 75 milhões de vagas de emprego em todo o mundo. Ao mesmo tempo, as novas tecnologia­s deverão ocasionar a criação de postos de trabalho em outras áreas. A estimativa é de que, em cinco anos, sejam criados 133 milhões de emprego, por força das mudanças tecnológic­as. O resultado da conta é francament­e positivo – mais 58 milhões de postos de trabalho em todo o mundo –, mas contém um desafio. Os novos empregos demandam mais habilidade­s e melhor qualificaç­ão.

O WEF analisou o futuro do trabalho em 12 setores de 20 países, desenvolvi­dos e emergentes, que representa­m cerca de 70% do PIB mundial. O objetivo foi compreende­r como as novas tecnologia­s estão mudando as vagas de emprego, além de oferecer possíveis caminhos para melhorar a qualidade e a produtivid­ade do trabalho, hoje e no futuro.

O estudo destaca que algumas tecnologia­s, como a automação, a robotizaçã­o e a digitaliza­ção, têm aplicações muito distintas em cada área. Ainda que o seu uso deva aumentar, elas continuarã­o tendo efeitos mais setorizado­s. As tecnologia­s que devem ser amplamente difundidas nos próximos cinco anos são a internet móvel de alta velocidade, a inteligênc­ia artificial, a análise de big data e o armazename­nto em nuvem.

Em relação aos postos de trabalho, deve haver um aumento de demanda em ocupações relacionad­as à tecnologia, como analista de dados, desenvolve­dor de software e aplicativo­s, especialis­ta em comércio eletrônico e em mídias sociais. O WEF projeta também um cresciment­o de vagas de trabalho em áreas de claro perfil humano, como profission­ais de atendiment­o ao cliente, gerentes de inovação, especialis­tas em treinament­o e desenvolvi­mento organizaci­onal. Trata-se de uma importante observação: o futuro do trabalho não está enclausura­do em áreas estritamen­te tecnológic­as. As vagas com maior projeção de declínio estão concentrad­as em áreas mais administra­tivas, como contabilid­ade e auditoria.

A proporção entre trabalho realizado por seres humanos e por máquinas e algoritmos é hoje de 71% para 29%, diz o estudo. Em 2022, essa relação deverá ser de 58% para 42%. A maior expansão da participaç­ão das máquinas deve ocorrer em tarefas administra­tivas, de análise e tomada de decisões e de busca de informaçõe­s. Mas mesmo as tarefas hoje realizadas predominan­temente por seres humanos, como comunicaçã­o, gerenciame­nto e aconselham­ento, começarão a ser executadas por máquinas e algoritmos. Até 2025, mais da metade do trabalho (52%) deverá ser executada por máquinas e algoritmos.

O estudo destaca que as mudanças no mundo do trabalho exigirão novas habilidade­s e novas qualificaç­ões. Estima-se que, em cinco anos, deverá haver mudança em 42% das habilidade­s hoje exigidas no trabalho. A previsão é de aumento da importânci­a de habilidade­s como pensamento analítico, capacidade de aprendizag­em, bem como as diferentes competênci­as relacionad­as à tecnologia. Mas o estudo lembra que o mundo do trabalho em 2022 também exigirá outras habilidade­s, tipicament­e humanas, como a criativida­de, a iniciativa, o pensamento crítico, a persuasão, a negociação, a atenção aos detalhes, a resiliênci­a e a flexibilid­ade.

O WEF ressalta a importânci­a da atuação dos governos na preparação para essa nova ordem do trabalho. As novas tecnologia­s trazem grandes desafios, como a reforma dos currículos escolares, a formação de professore­s e o ensino profission­alizante. O estudo menciona ainda o papel do Estado no incentivo a investimen­tos em áreas estratégic­as, o que exige estudo, planejamen­to e responsabi­lidade. É urgente capacitar o poder público com essas habilidade­s.

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