O Estado de S. Paulo

Bruxelas começa aplicação de sanções à Polônia.

Governo polonês reduziu autonomia do Judiciário e ampliou próprio poder

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

Acusado pela União Europeia de violar princípios do estado de direito, contrarian­do os “valores” do bloco, a Polônia começou ontem a sofrer sanções de Bruxelas. As reformas polonesas, segundo a UE, tiraram a autonomia e colocaram o Judiciário sujeito ao controle político. O afastament­o faz parte das primeiras represália­s aos governos populistas do Leste da Europa, acusados de adotar medidas que minam a independên­cia da Justiça.

Na semana passada, o Parlamento Europeu adotou uma medida para obrigar o Conselho Europeu, o fórum dos 28 chefes de Estado e de governo, a abrir processo contra a Hungria por violação do Artigo 7 do Tratado Europeu, pelos mesmos problemas.

A partir da decisão, o governo do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, corre o risco de perder o direito de voto nas instâncias políticas da União Europeia. A mesma sanção é estudada contra a Polônia por infrações semelhante­s: atentado à independên­cia dos poderes, redução da autonomia da Justiça, restrição da liberdade de imprensa e limitação da ação de ONGs.

As ameaças se tornaram realidade com a suspensão da Polônia da Rede Europeia de Conselhos de Justiça (ENCJ, na sigla em inglês), uma associação que reúne os conselhos nacionais de Justiça dos diferentes países da UE. “É um dia triste, porque a Polônia foi fundadora da ENCJ”, afirmou Luca Forteleoni, porta-voz da entidade, em Bucareste, na Romênia, onde o órgão realizou sua assembleia­geral.

Ameaças. Ontem, em nota oficial conjunta, os governos de França e Alemanha advertiram o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, e o presidente do país, Andrzej Duda, sobre as reformas contrárias ao estado de direito. Os ministério­s de Assuntos Europeus dos dois países exigem que Varsóvia abra negociaçõe­s com Bruxelas para voltar atrás nas reformas. “Nós esperávamo­s que a Polônia agisse de maneira construtiv­a e não tomasse medidas irreversív­eis”, dizia a nota.

“Nós já discutimos a situação do estado de direito na Polônia cinco vezes desde o início do procedimen­to, a partir do Artigo 7, mas o diálogo não permitiu progressos substancia­is”, informaram os ministros de Assuntos Europeus da Alemanha, Michael Roth, e da França, Nathalie Loiseau. “Ao contrário, desde 3 de julho e da implementa­ção do novo regime de aposentado­rias dos juízes da Suprema Corte, a situação da Polônia é mais urgente do que nunca.”

Bruxelas estuda, além da suspensão do direito ao voto da Polônia e da Hungria, a suspensão ou condiciona­mento da liberação de verbas e de fundos europeus, uma medida com potencial para desestabil­izar os orçamentos públicos dos governos de ambos os países, parcialmen­te dependente­s dos subsídios do bloco.

Além da ENCJ, o Tribunal de Justiça da União Europeia já realiza desde agosto uma investigaç­ão para apurar se a nova legislação polonesa de aposentado­ria de magistrado­s está de acordo com o direito europeu. Segundo o governo polonês, no entanto, a decisão do tribunal poderia ser ignorada por Varsóvia.

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MICHAEL REYNOLDS/EFE Parceria. Andrzej Duda (E) é recebido por Trump na Casa Branca; americano diz que Varsóvia quer base dos EUA no país

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