Síria derruba avião russo por engano e amplia tensão com Israel
Moscou recua em acusações e se refere a incidente como ‘circunstâncias acidentais trágicas’
O Exército sírio abateu uma aeronave de seu aliado russo com 15 soldados a bordo, com Moscou inicialmente acusando Israel pelo incidente, antes de se referir a “circunstâncias acidentais trágicas”. O caso sem precedentes ocorreu pouco depois de a Rússia e a Turquia anunciarem um acordo sobre a Província de Idlib, último reduto rebelde no noroeste da Síria, onde uma “zona desmilitarizada” deverá ser estabelecida, afastando assim a perspectiva de uma ofensiva do regime.
Na segunda-feira à noite, o avião russo Ilyushin-20M foi derrubado acidentalmente, segundo Moscou, pela defesa antiaérea síria, que atirou para interceptar mísseis israelenses que tinham como alvo depósitos de munição na Província de Latakia, reduto do presidente Bashar Assad.
Os bombardeios em Latakia deixaram dois mortos e ao menos dez feridos, incluindo sete soldados sírios, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), ONG que monitora o conflito.
O incidente com o avião russo é o mais grave entre os dois aliados desde que Moscou passou a intervir militarmente na Síria, no fim de 2015, para apoiar o regime de Damasco, então enfraquecido. A aeronave, geralmente usada em missões de vigilância, foi “abatida por um sistema de mísseis S-200”, fabricado na Rússia, matando todos os 15 tripulantes, informou o ministério russo da Defesa.
Moscou dirigiu sua ira inicialmente para Israel, apontado como responsável pela tragédia em razão dos mísseis lançados em Latakia, atribuídos pelos russos a quatro caças F-16 israelenses.
“Os pilotos israelenses, usando o avião russo como escudo, o colocaram sob o fogo da defesa antiaérea síria”, acusou o ministério russo. O embaixador israelense na Rússia foi convocado para consultas. Pouco depois, no entanto, o presidente russo, Vladimir Putin, citou “uma série de circunstâncias acidentais trágicas”, parecendo adotar um tom conciliatório com Israel.
O Exército israelense, por sua vez, contestou que tivesse usado a aeronave russa como cobertura para escapar dos disparos sírios. Em comunicado, os israelenses alegaram que seus caças atacaram um alvo do Exército sírio onde sistemas de fabricação de armas estavam prestes a ser entregues pelo Irã ao movimento xiita libanês Hezbollah.