O Estado de S. Paulo

48% já foram roubados ou furtados

Pesquisa de vitimizaçã­o, feita a cada 5 anos na capital paulista, aponta que 26,1% foram ameaçados em algum momento com arma de fogo

- Felipe Resk

Quase metade das pessoas na cidade de São Paulo já foi alvo de roubo ou de furto alguma vez na vida. É o que apontam os resultados da pesquisa “Vitimizaçã­o em São Paulo – 2018”, divulgada hoje e realizada pelo Insper a cada cinco anos, com objetivo de ajudar na orientação de políticas de segurança pública.

O levantamen­to tem como base entrevista­s em 3 mil domicílios da capital, feitas entre os meses de março e maio, com maiores de 16 anos. Segundo a pesquisa, aumentou a proporção de moradores que sofreram assaltos em São Paulo.

Do total de entrevista­dos, 48,2% declararam ter sido vítima de roubo ou furto alguma vez na vida – estatístic­a que considera tanto os casos “contra a pessoa” quanto de veículos ou à residência. Comparado a 2013, última vez que o levantamen­to havia sido publicado, o índice subiu: antes era 46,3%. O dado, no entanto, ainda é inferior a 2003, a primeira pesquisa, que apontou 49,8% de vítimas.

Já consideran­do crimes que teriam acontecido nos últimos 12 meses, 8,9% dos paulistano­s disseram ter sido roubados, enquanto 14,1% se declararam vítimas de furto. Na pesquisa anterior, esses índices estavam, respectiva­mente, em 6,7% e 12,6%. O principal alvo dos bandidos é o celular, diz o estudo.

Para o coordenado­r do Centro de Políticas Pública (CPP) do Insper, Naercio Menezes Filho, o aumento estaria ligado à crise econômica. “Essa tendência de alta está relacionad­a com a taxa de desemprego, especialme­nte entre os jovens”, diz. “Em 2003, a taxa de desemprego, segundo a Seade, estava em

23%. Nos anos de 2008 e 2013, o desemprego baixou e os crimes ficaram estáveis. E agora, que voltou a subir, está em 32%.”

Menezes Filho destaca ainda

que, segundo o estudo, 26,1% dos entrevista­dos declararam já ter sido ameaçados com arma de fogo. “É um trauma muito grande”, afirma. De acordo com o pesquisado­r, em mais da metade dos casos de roubo a vítima não chegou a informar à polícia. “Essa pesquisa é interessan­te porque vai na casa das pessoas, não depende de estatístic­as oficiais”, diz Menezes Filho.

Para ele, a alta subnotific­ação estaria relacionad­a com o baixo índice de esclarecim­ento dos crimes. Segundo o estudo, só em 4,1% dos casos de roubo contra

pessoas, por exemplo, os assaltante­s foram identifica­dos. “A maioria das vítimas não reporta porque acredita ser perda de tempo. Se a taxa de resolução fosse maior, com certeza seria diferente.”

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública informou que a subnotific­ação ocorre no mundo todo, mas a ação das polícias “é constante”. “A pasta verificou o avanço da segurança pública nos dados, pois em 2013 o estudo apontava que 36,7% das pessoas que sofriam roubo informavam a polícia, enquanto o

atual levantamen­to aponta um aumento de 10,9%.”

‘Novos crimes’. Pela primeira vez, o Insper incluiu o crime de assédio sexual e identifico­u que 13,5% das mulheres foram vítimas de algum episódio no último ano. Em mais da metade dos casos (55%), ela sofreu pelo menos quatro assédios. Já entre os homens, 4,9% foram vítimas. A pesquisa também passou a aferir agressões online: 5,5% dos usuários de redes sociais ou aplicativo­s de mensagens declararam já ter sido vítima.

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