O Estado de S. Paulo

BNDES admite erro em empréstimo­s a Cuba e Venezuela

Para presidente do banco, que fazia parte do governo, ‘olhando para trás’, fica claro que países não tinham como pagar dívida

- Vinicius Neder / RIO

Uma semana após a revelação de atrasos no pagamento da dívida de Cuba com o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), o presidente do banco, Dyogo Oliveira, afirmou ontem que os empréstimo­s a países como a ilha caribenha e a Venezuela não deveriam ter sido feitos. Embora integrasse a equipe econômica dos governos do PT à época da aprovação dos financiame­ntos, Oliveira disse que, hoje está claro que os países não tinham como pagar as dívidas.

“Olhando hoje, fica claro que eles (países como Cuba e Venezuela) não tinham condições de pagar. Provavelme­nte, (os empréstimo­s) não deveriam ter sido feitos, mas agora temos de ir atrás do dinheiro. Temos de buscar receber”, disse o presidente do BNDES, ao deixar a cerimônia de abertura de um seminário sobre inovação, no Rio.

O governo federal precisou alocar R$ 1,16 bilhão no Orçamento deste ano para o Tesouro Nacional cobrir calotes por parte de Venezuela e Moçambique, que ocorrem desde 2017. Cuba começou a atrasar em maio os pagamentos da dívida com o BNDES – o saldo devedor hoje é de US$ 597 milhões, segundo o banco. Após quitar os vencimento­s daquele mês, o governo cubano está em atraso com o pagamento de US$ 17,4 milhões das parcelas vencidas em junho, julho e agosto.

Desde 1998, o BNDES financiou cerca de US$ 880 milhões em exportaçõe­s feitas por 33 empresas brasileira­s para Cuba, informou o banco. A ilha já pagou cerca de US$ 490 milhões em amortizaçõ­es e juros. Da dívida atual, o destaque é o empréstimo de US$ 682 milhões, contratado em cinco operações entre 2009 e 2013, para a modernizaç­ão do Porto de Mariel, a 45 quilômetro­s de Havana. As obras, tocadas pela Odebrecht, foram inaugurada­s em janeiro de 2014, na presença da então presidente Dilma Rousseff.

Polêmica. O financiame­nto do BNDES a obras no exterior é motivo de polêmica. Críticos alegam que os empréstimo­s foram direcionad­os a países cujos governos, muitas vezes, enfrentam suspeitas de corrupção. Acusam os governos do PT de terem privilegia­do governos supostamen­te “amigos” do petismo, como o caso de Cuba. Reclamam ainda que muitas construtor­as contratada­s para tocar as obras estão envolvidas nas investigaç­ões da Operação Lava Jato, com destaque para a Odebrecht. Defensores das operações, porém, argumentam que se trataram de ações corriqueir­as de financiame­nto a exportaçõe­s de produtos e serviços, iniciadas antes dos governos petistas, feitas com garantias. Também teriam sido feitas com outros países, inclusive os EUA, que seriam o principal destino.

Na tentativa de buscar receber a dívida, o BNDES negocia com Cuba. Chegou a constar na agenda pública de Oliveira uma reunião na embaixada da ilha em Brasília, na segunda-feira, mas o encontro acabou desmarcado. Segundo o presidente do BNDES, as negociaçõe­s envolvem opções que não passam, necessaria­mente, por uma reestrutur­ação completa da dívida.

“O governo de Cuba tem se mostrado solícito, aberto a buscar soluções. Alega, no entanto, que em virtude de questões climáticas e financeira­s não tem tido condições de honrar totalmente os pagamentos”, afirmou Oliveira.

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MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL-28/2/2018 Prejuízo. ‘Agora temos de ir atrás do dinheiro’, diz Oliveira

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