O Estado de S. Paulo

Presidente da Mercedes teme cenário eleitoral

Para executivo, líderes nas pesquisas falam pouco sobre consistênc­ia da política econômica

- André Ítalo Rocha ENVIADO ESPECIAL / HANNOVER

O presidente da MercedesBe­nz no Brasil, Philipp Schiemer, disse ontem que está preocupado com os resultados das pesquisas eleitorais para presidente. Para ele, os candidatos que lideram as intenções de voto têm falado pouco sobre como pretendem adotar uma política econômica “consistent­e”, enquanto aqueles que se mostram menos competitiv­os são mais claros em relação a isso.

“A Mercedes-Benz está há 61 anos no País e já viu muita coisa, como um regime militar e dois impeachmen­ts. O importante é que o próximo presidente traga estabilida­de e uma política econômica consistent­e. Em relação a isso, pouco se sabe sobre os candidatos que lideram as pesquisas. Os candidatos que estão atrás têm programas mais claros. Estamos preocupado­s”, disse o executivo, sem citar nomes, em conversa com jornalista­s, durante o Salão de Hannover, a maior feira de veículos comerciais do mundo.

Com a incerteza em torno da eleição, a Mercedes-Benz, que no Brasil é uma das líderes em produção e venda de caminhões, tem pouca clareza sobre como o mercado deve se comportar no ano que vem. “Se não estivéssem­os passando por uma disputa presidenci­al, certamente teríamos um cresciment­o sustentáve­l no ano que vem, porque os juros estão baixos e a frota está envelhecid­a, precisando de uma renovação”, disse.

A depender da política econômica do próximo presidente, o real pode se desvaloriz­ar ainda mais, provocando inflação e juros mais altos, alertou Schiemer. Com isso, o custo de produção sobe e a demanda por caminhões cai. “Mas eu ainda acredito que a responsabi­lidade vai prevalecer. Eu aprendi no Brasil que a esperança é a última que morre”, disse o executivo, que é alemão.

Na visão dele, se o próximo governo não tirar as reformais fiscais do papel, o Brasil perderá importânci­a e credibilid­ade no cenário internacio­nal, se tornando menos atrativo para investidor­es. “Os líderes das pesquisas são candidatos que estão nos extremos. No fundo, isso não é bom, porque dificulta a pacificaçã­o”, disse.

Contrataçõ­es. A fábrica da Mercedes-Benz em Juiz de Fora, Minas Gerais, está em processo de contrataçã­o de mais 150 funcionári­os, disse Schiemer. Com as vagas criadas, o número de trabalhado­res na fábrica vai passar de 878 para 1.028.

Segundo Schiemer, as contrataçõ­es se justificam pelo aumento da produção, de 22 caminhões para 28 caminhões por dia, impulsiona­do pela maior demanda do mercado. Com esse ritmo, a unidade opera em apenas um turno. Para chegar ao segundo turno, teria de subir para pelo menos 30 ou 32 caminhões por dia. No entanto, a incerteza em torno do próximo governo impede, por enquanto, esse avanço. “Estamos cautelosos por causa da eleição”, disse o executivo.

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