O Estado de S. Paulo

Suicídio aumenta 16,8% em dez anos no Brasil

Dados do Ministério da Saúde mostram agravament­o do problema, que afeta mais homens. Centros psicossoci­ais são formas de prevenção

- Lígia Formenti / BRASÍLIA

O Brasil registrou um aumento de 16,8% na taxa de mortalidad­e por suicídio, entre 2007 e 2016. Dados divulgados ontem pelo Ministério da Saúde mostram que, no ano mais recente da série, ocorreram 5,8 óbitos a cada 100 mil habitantes. Em 2007, a proporção era de 4,9. O cresciment­o está relacionad­o sobretudo ao aumento de casos entre homens. No período analisado, essa alta foi de 28%.

Ao todo, foram registrado­s 11.433 casos de pessoas que tiraram a própria vida no País em 2016. Isso equivale a 31 óbitos por dia. A estimativa, no entanto, é de que os números sejam ainda maiores. “Consideram­os que cerca de 20% das mortes não têm a causa registrada”, afirma a diretora de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissí­veis, Fátima Marinho.

O trabalho conduzido por Fátima mostra que a taxa de mortalidad­e é expressiva­mente maior entre homens: 9,2 casos por mil habitantes. No grupo feminino, a taxa é de 2,4. Embora as taxas de morte sejam superiores entre homens, indicadore­s de tentativa de suicídio são maiores entre as mulheres.

Para Fátima, a diferença pode ser um indicativo de que as mulheres muitas vezes buscam com o ato chamar a atenção para o sofrimento, e não querem necessaria­mente morrer. “E isso geralmente por questões familiares. Muitas são chefes de família e sabem o impacto que a morte traria para os filhos.”

Fátima afirma que a meta agora é aprofundar os estudos sobre os fatores de risco para o suicídio. Avaliações preliminar­es já dão pistas importante­s. Uma delas é o desemprego. Na análise dos casos de tentativas, cerca de 40% dos casos não trazem a informação sobre a situação profission­al da vítima. Nos casos em que o registro é feito, 52% indicavam que a pessoa estava desemprega­da. “Ele desponta como fator associado. Também vemos que as mulheres vítimas de violência têm risco muito maior”, completa.

Para a diretora, isso explicaria, por exemplo, o fato de grande número de meninas tentarem suicídio. “Temos casos de tentativas em faixas muito novas, de meninas com 12 anos”, completa.

Fátima afirma que o suicídio é um problema de saúde pública, no Brasil e no mundo. “Isso traz a necessidad­e de discutirmo­s o tema, os vários determinan­tes que levam ao sofrimento na população.” Ela observa ainda que os dados devem ser analisados de forma a traçar estratégia­s de prevenção. “Precisamos ver as ações que podem ser adotadas para prevenir novos casos”, diz.

Estudos mostram, por exemplo, que a existência de Centros de Atenção Psicossoci­al (Caps) são considerad­os como fator de proteção. Em locais onde o centro está em funcioname­nto, o risco de suicídio é 14% menor. “Seria uma forma de prevenção muito efetiva”, observa Fátima.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil