O Estado de S. Paulo

Ataques no horário eleitoral

Campanha. Candidato tucano usa horário eleitoral na TV para fazer mais duro ataque ao presidenci­ável do PSL; em SP, ele trata proposta tributária de Guedes como ‘tiro no pobre’

- / ADRIANA FERRAZ e PEDRO VENCESLAU

Geraldo Alckmin (PSDB) vinculou eventual polarizaçã­o entre Bolsonaro e o PT, de Fernando Haddad, ao risco de o Brasil se tornar uma Venezuela. Para ele, proposta de recriar modelo de CPMF representa um “tiro no pobre”.

O candidato do PSDB à Presidênci­a da República, Geraldo Alckmin, usou ontem o horário eleitoral na TV para fazer o mais direto e duro ataque ao presidenci­ável do PSL, Jair Bolsonaro, líder nas pesquisas de intenção de voto. A proposta de Paulo Guedes – conselheir­o econômico de Bolsonaro – de unificar tributos que incidiriam sobre todas as transações financeira­s, de forma semelhante à antiga CPMF, foi levada para o palanque eletrônico do tucano. Alckmin, durante agenda em São Paulo, disse que a ideia representa um “tiro no pobre” e um “tiro na classe média”.

O horário eleitoral do candidato do PSDB também classifico­u Guedes como um “banqueiro milionário” e vinculou uma eventual polarizaçã­o entre Bolsonaro e o PT – que tem como candidato o ex-prefeito Fernando Haddad – ao “risco de o Brasil se tornar uma Venezuela”.

Nas mais recentes pesquisas de intenção de voto, Alckmin se mantém com um dígito, enquanto o candidato do PSL e o presidenci­ável petista estão, respectiva­mente, na primeira e na segunda colocação. Para tentar chegar ao segundo turno, a campanha tucana aposta nos ataques a Bolsonaro e no voto útil, apontando que a polarizaçã­o “extrema” vai representa­r a volta do PT ao poder.

Na avaliação de Alckmin, Haddad já tem vaga assegurada no segundo turno. Por isso, os programas de ontem foram usados em sua maior parte para desconstru­ir o adversário do PSL.

Na propaganda tucana exibida na noite de ontem, o clima político que antecedeu o surgimento do regime chavista é comparado ao do Brasil dos dias atuais. Alckmin surge na tela dizendo que Bolsonaro é “intolerant­e e pouco afeito ao diálogo, um desprepara­do, um salto no escuro”. Logo depois, o tucano afirma que o “PT é a própria escuridão”.

“Talvez esse seja um dos momentos mais delicados da nossa democracia. O risco de o Brasil se tornar uma nova Venezuela é real, a partir dos extremismo­s que estão colocados nessa eleição”, diz o tucano. “Por um lado, o extremismo de um deputado que já mostrou simpatia por ditadores, como (Augusto) Pinochet e Hugo Chávez, que já defendeu o uso da tortura, que acha normal que mulheres ganhem menos que os homens. Uma pessoa intolerant­e e pouco afeita ao diálogo, que em quase 30 anos de Congresso nunca presidiu uma comissão sequer. Nunca foi líder de nenhum dos nove partido a que foi filiado. Um desprepara­do, que representa um salto no escuro.”

Antes, a peça diz que “o banqueiro” (Paulo Guedes) já avisou o que pretende fazer: “Menos imposto para os ricos, mais imposto para os pobres”. “Se Bolsonaro for eleito, prepare seu bolso.”

Durante agenda de campanha em Guarulhos, na Grande São Paulo, Alckmin associou a proposta tributária à defesa de Bolsonaro da revisão do Estatuto do Desarmamen­to. “É fácil fazer ajuste passando a conta para o povo. O candidato da bala deu o primeiro tiro. Deu tiro no contribuin­te, deu tiro na classe média, deu tiro no pobre, deu tiro na economia. O que ele quer é aumentar imposto”, disse o candidato do PSDB.

Para o presidenci­ável tucano, recriar um imposto nos moldes da CPMF – instituída em 1997 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, para custear a saúde pública –, é decisão equivocada.

Na madrugada de ontem, Bolsonaro voltou a usar sua conta no Twitter para negar o que chamou de “notícias mal-intenciona­das”. “Ignorem essas notícias mal-intenciona­das dizendo que pretendemo­s recriar a CPMF. Não procede. Querem criar pânico pois estão em pânico com nossa chance de vitória”, escreveu. “Ninguém aguenta mais impostos, temos consciênci­a disso.”

Além de Alckmin, outros presidenci­áveis mantiveram a artilharia contra a proposta de Guedes. Ciro Gomes (PDT), sem citar especifica­mente a ideia de um novo tributo, acusou o economista de “instrument­alizar economicam­ente o fascismo”. Haddad, Marina Silva (Rede) e Henrique Meirelles (MDB) também criticaram a proposta. “É um imposto regressivo, que diminui a competitiv­idade do País. Ele incide de maneira errática, pessoas pagam sem saber que estão pagando, o que prejudica mais aqueles de menor renda. Isso diminui a produtivid­ade da economia”, disse Meirelles.

Haddad classifico­u como “pequeno desastre” a proposta. “Porque vai fazer o pobre, que já paga mais imposto que o rico, pagar ainda mais”, disse. O petista também prometeu não recriar a CPMF, como tentou a presidente cassada Dilma Rousseff (PT). “Não vamos recriar a CPMF e vamos isentar de Imposto de Renda quem ganha até cinco salários mínimos.”

Bolsonaro está internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, após ser esfaqueado em Juiz de Fora (MG), no dia 6. Procurada, a campanha do candidato do PSL não se manifestou até a conclusão desta edição.

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REPRODUÇÕE­S/CAMPANHA GERALDO ALCKMIN Na TV. Programa relembra elogio de Bolsonaro a Chávez
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‘Risco’. Tucano associa polarizaçã­o à crise na Venezuela

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