Em carta, FHC fala em deter ‘marcha da insensatez’
Ex-presidente volta a defender união do centro político contra o que chama de ‘soluções extremas’; para ele, situação do País é ‘dramática’
Em carta a “eleitores e eleitoras”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirma que a situação do País é “dramática” e, para deter a “marcha da insensatez”, propõe que os candidatos de centro se unam para “apoiar quem melhores condições de êxito eleitoral tiver”. “Não é o partidarismo, nem o personalismo, que devolverá rumo ao desenvolvimento”, afirmou.
Em meio ao esforço do PSDB para articular uma união entre candidatos do centro em torno do tucano Geraldo Alckmin e tentar evitar um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) na eleição presidencial, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) divulgou ontem uma carta aberta na qual afirma que a situação do País é “dramática”, mas que “ainda há tempo para deter a marcha da insensatez”.
Sem mencionar explicitamente o nome de nenhum candidato, FHC critica “as visões radicais” e as “soluções extremas” apresentadas pelas campanhas do capitão reformado do Exército e do afilhado político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato. Ele defende apoio único a quem tem “melhores condições de êxito eleitoral” entre os candidatos de centro para não levar o País ao “aprofundamento da crise econômica, social e política”.
“É neste quadro preocupante que se vê a radicalização dos sentimentos políticos. A gravidade de uma facada com intenções assassinas haver ferido o candidato que está à frente nas pesquisas eleitorais deveria servir como um grito de alerta: basta de pregar o ódio, tantas vezes estimulado pela própria vítima do atentado. O fato de ser este o candidato à frente das pesquisas e ter ele como principal opositor quem representa um líder preso por acusações de corrupção mostra o ponto a que chegamos”, escreveu FHC, numa referência indireta a Bolsonaro e a Haddad.
Depois da divulgação da carta, o ex-presidente usou sua conta no Twitter para dizer que “quem veste o figurino” para encarnar uma aliança contra os candidatos considerados radicais “é o Alckmin”. Em reação, também via rede social, a presidenciável da Rede, Marina Silva, ironizou a sugestão de Fernando Henrique. “Ninguém chama para tirar as medidas com a roupa pronta.”
Ibope. Como mostrou o Estado anteontem, o presidente de honra do PSDB foi procurado por líderes do partido para articular a retomada do movimento Polo Democrático e atrair candidatos de centro ao palanque de Alckmin. A movimentação ocorreu logo após a mais recente pesquisa Ibope/Estado/TV Globo mostrar que o candidato do PT à Presidência da República subiu 11 pontos porcentuais em uma semana e se isolou na segunda colocação, com 19%, enquanto Bolsonaro oscilou dois pontos para cima e chegou a 28%. No mesmo levantamento, Alckmin oscilou de 9% para 7%, ficando em quarto lugar.
“Sem que haja escolha de uma liderança serena que saiba ouvir, que seja honesto, que tenha experiência e capacidade política para pacificar e governar o país; sem que a sociedade civil volte a atuar como tal e não como massa de manobra de partidos; sem que os candidatos que não apostam em soluções extremas se reúnam e decidam apoiar quem melhores condições de êxito eleitoral tiver, a crise tenderá certamente a se agravar. Os maiores interessados nesse encontro e nessa convergência devem ser os próprios candidatos que não se aliam às visões radicais que opõem ‘eles’ contra ‘nós’”, escreveu FHC.
Segundo o ex-presidente, foi a “coesão política” no governo Itamar Franco (1992-1994), de quem foi ministro da Fazenda,
que permitiu ao País sair da crise política pós-impeachment e conter a inflação. “Ante a dramaticidade do quadro atual, ou se busca a coesão política, com coragem para falar o que já se sabe e a sensatez para juntar os mais capazes para evitar que o
barco naufrague, ou o remendo eleitoral da escolha de um salvador da pátria ou de um demagogo, mesmo que bem intencionado, nos levará ao aprofundamento da crise econômica, social e política”, escreveu.
Ele também crítica candidatos que “acenam com promessas que não se realizarão com soluções simplistas, que não resolvem as questões desafiadoras” e afirma que é necessária “uma clara definição de rumo”, além de promover “o ajuste inadiável das contas públicas” no próximo governo. “São medidas que exigem explicação ao povo e tempo para que seus benefícios sejam sentidos.” A primeira dessas medidas, segundo ele, seria a reforma da Previdência para eliminar “privilégios e assegure o equilíbrio do sistema em face do envelhecimento da população brasileira. A fixação de idades mínimas para a aposentadoria é inadiável”.
FHC disse ainda que “os partidos políticos têm responsabilidade nessa crise” porque, “nos últimos anos, lançaram-se com voracidade crescente ao butim do Estado, enredando-se na corrupção, não apenas individual, mas institucional”, fazendo referência aos crimes descobertos pela Operação Lava Jato, incluindo caixa 2 de campanhas.