O Estado de S. Paulo

Polarizaçã­o faz crescer uso de perfis robôs nas eleições

Contas automatiza­das nas redes sociais falando sobre os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas são 43% e 28,4%, respectiva­mente

- / MARIANNA HOLANDA, RODRIGO CAVALHEIRO, CECÍLIA DO LAGO, PAULO BERALDO, GILBERTO AMENDOLA, ADRIANA FERRAZ e PEDRO VENCESLAU

Os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) têm o maior número de interações no Twitter e a maior porcentage­m de perfis automatiza­dos – os robôs – que fazem referência a eles: 43% e 28,4%, respectiva­mente, mostra estudo da FGV - Dapp. A presença de robôs nas redes, proibida por lei, chegou a 12,9% das interações.

A polarizaçã­o eleitoral entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), primeiro e segundo colocados nas pesquisas de intenção de voto, aumentou nas redes sociais. Os dois têm o maior número de interações no Twitter e também maior porcentage­m de perfis automatiza­dos, os chamados robôs, interagind­o com seus apoiadores – 43% e 28,4%, respectiva­mente, de 3.198 contas suspeitas monitorada­s em estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV-Dapp).

A presença de robôs nas redes vem crescendo desde o início da campanha eleitoral, em 15 de agosto, atingindo o ápice na última semana. Entre 12 e 18 de setembro, a pesquisa analisou 5,3 milhões de interações (retuítes) e mais de 712 mil perfis na rede social. No período, o patamar de interações envolvendo robôs chegou a 12,9%. No início da disputa eleitoral esse número era de 4,2%.

Procuradas, as campanhas negaram a utilização de robôs nas redes sociais. “A gente não contrata nenhum robô. Se está tendo, as pessoas que estão fazendo aí”, afirmou ontem o filho de Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro.

O acirrament­o na campanha é um dos principais motivos para explicar o aumento de robôs na rede social, segundo um dos autores do estudo, professor Marco Aurélio Ruediger. “Você tem um cresciment­o repentino do candidato do PT, uma contraofen­siva do campo à direita, e um terceiro campo buscando a terceira via, e aumenta a tentativa de influencia­r as redes. A tendência dessa curva de acirrament­o é continuar crescendo.”

Esses números não pertencem, necessaria­mente, a uma campanha ou a um candidato. Segundo a metodologi­a de identifica­ção desses robôs, não há nem mesmo como provar que sejam positivos ou negativos ao candidato, mas apenas interações com suas contas.

São considerad­os robôs contas automatiza­das que geram volume de interações nas redes. Eles podem atuar tanto para atacar um candidato, como simplesmen­te para fazer campanha positiva.

“Há vários parâmetros para determinar um robô, um deles é quando ele realiza disparos, um tuíte ou retuíte, em um curto período de tempo”, disse Ruediger. O professor ressaltou ainda que o Twitter tem desempenha­do um papel importante no combate a esses perfis falsos. A rede social informou, por meio de nota, que não comenta a pesquisa, porque não teve acesso à base de dados da FGV.

Na “bolha” de apoiadores de Bolsonaro e Haddad, também foram identifica­dos os maiores patamares de retuítes suspeitos. As interações de robôs na seara “bolsonaris­ta” chega a 17,8%; do lado de Haddad, esse patamar chega a 13%. A próxima “bolha” com retuítes suspeitos é de Marina Silva (Rede), bem abaixo, com 7,2%.

Proibição. A lei eleitoral proíbe “a veiculação de conteúdos de cunho eleitoral mediante cadastro de usuário de aplicação de internet com a intenção de falsear identidade”. Além disso, se os robôs forem contratado­s por apoiadores, podem ser enquadrado­s como impulsiona­mento, o que também é ilegal. A multa, neste caso, vai de R$ 5 mil a R$ 30 mil.

Ao Estado, a assessoria do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirmou que não fiscaliza o uso de robôs na campanha e atua apenas em caso de denúncia, seja do Ministério Público Eleitoral ou de algum partido que se considere prejudicad­o. Não há registro de punição até hoje ao uso deste artifício.

“A fiscalizaç­ão não cabe, de fato, ao TSE. Se uma pessoa achar alguma publicação estranha, pode pedir para o MP investigar”, disse o ex-ministro do TSE Henrique Neves, chamando a atenção para quando esses perfis compartilh­am notícias falsas. “O que é importante pontuar é que todos nós temos de tomar muito cuidado com o que a gente compartilh­a ou interage. Nas eleições, as desinforma­ções tendem a aumentar.”

Ataques. As campanhas negam a utilização de robôs, mas a maioria tem identifica­do ataques. Na equipe de Marina Silva (Rede), por exemplo, os perfis da candidata têm recebido comentário­s que costumam associar o nome dela ao número de Bolsonaro. Isso se intensific­ou, segundo disseram, depois do embate entre os dois presidenci­áveis.

“A gente conseguiu montar uma militância digital para combater isso. A orientação é tentar dar visibilida­de positiva à candidata”, disse Lucas Brandão, coordenado­r de mobilizaçã­o.

A assessoria de imprensa de Alvaro Dias (Podemos) identifico­u ontem o que chamou de um “ataque violento” nas redes, depois de o candidato gravar um vídeo criticando o presidenci­ável do PSL. Na mesma linha, o coordenado­r de mídias sociais de Henrique Meirelles (MDB), Daniel Braga, disse acreditar que boa parte dos ataques seja por robôs, uma vez que várias contas têm registro de fora do Brasil.

“Não acreditamo­s na eficiência de ações com robôs. Eles não formam opinião, apenas posicionam uma hashtag nos trending topics.”

A campanha de João Amoêdo (Novo) também disse ter sido atacada nas últimas semanas, mas admitiu não conseguir identifica­r se isso vem de robôs.

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