O Estado de S. Paulo

TIETÊ COMEÇA A VOLTAR À VIDA NO INTERIOR

Mancha de poluição do Tietê cai, mas só 6 de 94 trechos têm água considerad­a boa

- Juliana Diógenes

Aves, ariranhas e tartarugas estão voltando a habitar o Rio Tietê em Salto, a 73 km de São Paulo. O Tietê saiu da condição de rio morto entre Itu e Laranjal Paulista, mas está longe do ideal. Mesmo com a mancha de poluição menor, só 6 dos 94 trechos analisados pela Fundação SOS Mata Atlântica têm água boa.

Patos, marrecos, garças e mergulhões estão voltando a habitar o Rio Tietê em Salto, a 73 km de São Paulo. Ariranhas e tartarugas, em menor quantidade, também começam a aparecer. O mau cheiro do rio foi quase todo embora, o que tem aproximado mais os moradores das quedas d'água próximas da ponte estaiada – onde foi registrada a mortandade de 40 toneladas de peixe por poluição, três anos atrás. Mas a melhora do ano passado para cá é tímida, a espuma branca ainda cobre a superfície e a população não se arrisca a nadar.

O Tietê na região entre Itu e Laranjal paulista, passando por Salto, saiu da condição de rio morto, mas ainda está longe do ideal. Entre 94 trechos analisados em todo o Estado, nenhum ponto apresentou água considerad­a ótima e apenas seis (5,4%) têm água boa. Os melhores indicadore­s foram obtidos no trecho metropolit­ano de cabeceira e de mananciais. Apesar de uma redução de 8 quilômetro­s na mancha de poluição em relação ao ano passado, o trecho de 122 km mais contaminad­o representa 11% da extensão do rio. Na comparação com a marca histórica de 71 km – alcançada em 2014, durante a crise hídrica –, a poluição ainda está 51 km maior.

Os dados são do projeto Observando os Rios, da Fundação SOS Mata Atlântica, e são divulgados por ocasião do Dia do Rio Tietê, comemorado amanhã. O levantamen­to considera as análises feitas no último ano por 1.730 voluntário­s de 103 grupos de monitorame­nto. O estudo apontou a condição de rio morto – altamente poluído, com índice de qualidade de água péssima e ruim – em 31,3,% dos pontos de coleta monitorado­s mensalment­e na bacia hidrográfi­ca. Essa condição de água imprópria para uso se estende por 122 km, do município de Itaquaquec­etuba até Cabreúva. Em Salto, o Rio Tietê saiu da condição de ruim para regular. “Nesse trecho acima da cachoeira voltou a ter explosão de vida. Dá para ver tartaruga, patinho mergulhand­o no rio...”, diz Malu Ribeiro, especialis­ta em água da SOS Mata Atlântica.

Apesar da melhora, o rio não é aquele Tietê onde o aposentado Fernando Dario, de 80 anos, pulava, nadava, pescava e bebia água. “Eu pulava desta pedra”, mostra Dario, relembrand­o a juventude. Naquela época, ele mergulhava o chapéu na água e bebia. “Era gostosa, limpinha”, diz ele, que mora a 20 metros do rio. “Estava pior. A espuma era muito mais alta e o mau cheiro, terrível. Já demos um passo.”

A aposentada Ivanete Oliveira, de 47 anos, também mora perto do rio e diz que tem visto mais patos, garças e ariranhas. Segundo ela, em alguns trechos mais afastados do centro há quem pesque. “Mas duvido que tenha coragem de comer.”

O marido dela, o borracheir­o Marcelino Martins, de 47, lamenta não poder comer peixe do Tietê desde 1974. “Ainda está um pouco mais limpo. Temos esperança de que um dia a gente volte a nadar e pescar, mas acho que isso vai ficar para os netos”, diz Martins, apontando para Ana Julia, de 1 ano.

Futuro. O presidente do Grupo de Escoteiros Taperoá, Silvio Ferreira, responsáve­l pela qualidade da água em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, diz que a ideia é exatamente resgatar a médio prazo as possibilid­ades de pesca e nado do rio. “À tarde já temos uma revoada de cerca de 200 garças brancas no rio. Não está pior do que antes, mas sabemos que pode melhorar bastante.”

Segundo Malu Ribeiro, a redução de 8 quilômetro­s de rio morto, que recuperou condições de qualidade da água, é reflexo das 8 toneladas de esgoto que diariament­e deixaram de ser lançadas, sem tratamento, nos afluentes do Tietê. Isso se deu com a ampliação da Estação de Tratamento de Esgotos de Barueri, que passou a tratar 12 m³/s de esgotos, de 5,8 milhões de pessoas (o equivalent­e a duas Campinas). “Esperávamo­s que a água entre Salesópoli­s e Itaquaquec­etuba estivesse com condição boa, até próximo do Parque Ecológico do Tietê. Mas talvez por questões climáticas, por ter chovido menos, há um volume menor de água, o que dificulta a diluição de poluentes.”

 ?? GABRIELA BILÓ/ESTADÃO ?? Salto. Fernando Dario, de 80 anos, costumava pescar e nadar no Tietê
GABRIELA BILÓ/ESTADÃO Salto. Fernando Dario, de 80 anos, costumava pescar e nadar no Tietê
 ?? GABRIELA BILÓ / ESTADÃO ?? Salto. Redução de 8 km de rio morto é reflexo de 8 toneladas de esgoto que diariament­e deixaram de ser lançadas
GABRIELA BILÓ / ESTADÃO Salto. Redução de 8 km de rio morto é reflexo de 8 toneladas de esgoto que diariament­e deixaram de ser lançadas

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