O Estado de S. Paulo

Preço do GNV sobe mais do que o da gasolina

Para distribuid­oras, a forte presença da Petrobrás no mercado impede competição

- Fernanda Nunes / RIO

A escalada dos preços do óleo diesel fez com que os caminhonei­ros paralisass­em as estradas, em maio, enquanto a da gasolina provoca a indignação da população diariament­e. Na ponta do lápis, no entanto, o combustíve­l automotivo que mais encareceu no último ano foi o gás natural veicular (GNV), consumido regulament­e por taxistas e motoristas de aplicativo­s.

Levantamen­to da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP) sobre os preços praticados nos postos de todo País demonstra que o metro cúbico (m³) do GNV ficou 19,6% mais caro desde setembro do ano passado. No mesmo período, a gasolina subiu 17,9%, o diesel, 12,1% e o etanol, 4,4%.

Com exceção do álcool hidratado, as altas dos combustíve­is têm a mesma explicação: a política de reajustes implementa­da pela Petrobrás, fornecedor­a do insumo, que passou a acompanhar as variações do dólar e das commoditie­s no mercado internacio­nal. A diferença é que os reajustes do GNV acontecem trimestral­mente, como definido em contrato com as distribuid­oras estaduais de gás natural, fornecedor­as do combustíve­l aos postos revendedor­es.

A Petrobrás, em resposta, afirma que “não possui qualquer ingerência sobre os reajustes a serem praticados, devendo estes seguir os indexadore­s acordados, seja para aumento ou para redução de preços”. A empresa diz também que impõe aos seus clientes os mesmo indexadore­s impostos a ela pela Bolívia, fornecedor­a de parte do gás que comerciali­za no Brasil. A estatal também produz internamen­te e ainda importa o produto de outros países, por navio.

Base de cálculo. Representa­nte das distribuid­oras de gás natural, a Abegás argumenta que o preço do GNV subiu mais do que os outros no último ano por causa da base de cálculo dos reajustes, elevada no início do ano, durante a renegociaç­ão dos contratos. Além disso, a energia elétrica utilizada na compressão do combustíve­l nos postos pesou nos custos.

Gerente de Estratégia e Competitiv­idade da Abegás, Marcelo Mendonça reclama da presença massiva da estatal no mercado e da falta de competição entre fornecedor­es. Segundo ele, a importação é inviabiliz­ada pela ausência de regulament­ação que permita o acesso à infraestru­tura de escoamento do gás – como os terminais de regaseific­ação do produto, que chega líquido ao litoral, e também os gasodutos de transporte.

Na tentativa de conseguir novos fornecedor­es, que não sejam a Petrobrás, as distribuid­oras de gás promovem uma chamada pública para contratar grande volume do combustíve­l. “Essa é a forma que as distribuid­oras têm de adquirir um gás mais competitiv­o”, disse Mendonça. A expectativ­a é que a carga seja contratada em julho do ano que vem. Mas isso só vai acontecer se a ANP aprovar a regulament­ação de acesso à infraestru­tura logística de gás, hoje dominada pela estatal.

Nos postos, o GNV concorre atualmente com o etanol, o mais barato entre os combustíve­is. Pela pesquisa da ANP, o metro cúbico do gás está a R$ 2,843, o litro do álcool hidratado custa R$ 2,749, enquanto a gasolina desponta como a opção mais cara, a R$ 4,576/ litro.

Para rico. “Gasolina é coisa para rico, não é para taxista”, diz o presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos do Município de São Paulo (Sinditaxi), Natalício Bezerra Silva, que reclama da dificuldad­e de repassar a alta do GNV aos seus clientes. A revisão da tarifa é a principal pauta de reivindica­ção da entidade. Já o Simtetaxi, representa­nte dos motoristas de táxis do Estado de São Paulo, afirma que o consumo do gás natural continua sendo uma opção, mas apenas para quem já investiu na instalação do kit gás. A entidade argumenta que os taxistas estão “descapital­izados” para equipar novos carros.

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SERGIO DUTTI/ESTADÃO - 8/11/2007 Pressão. GNV subiu 19,6% desde setembro de 2017 nos posto, gasolina teve alta de 17,9%; diesel, 12,1% e etanol, 4,4%
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