O Estado de S. Paulo

UE rejeita proposta de Theresa May para Brexit

Contagem regressiva. Bruxelas deixa Londres mais longe de obter acordo comercial e coloca em risco governo britânico; presidente francês, Emmanuel Macron, adota tom duro e chama de ‘mentirosos’ os líderes que quiseram tirar o país do bloco europeu

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

A União Europeia anunciou ontem, em Salzburgo, na Áustria, ter recusado o plano da primeira-ministra britânica, Theresa May, que pretende obter um acordo comercial após a saída do Reino Unido do bloco. Em tom firme, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que “a hora da verdade chegou” e acusou os defensores do Brexit de terem mentido para a população durante o referendo de 2016.

O tom adotado pelos líderes europeus ontem foi incomum. Segundo Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu – que reúne os líderes do bloco –, a proposta de May previa que o Reino Unido mantivesse acesso ao mercado europeu, sem a inclusão dos serviços.

Imediatame­nte após o anúncio, os principais jornais britânicos entraram em pânico. “May humilhada”, estampou o Guardian. “Mentirosos”, escreveu o Daily Telegraph, reproduzin­do a fala de Macron a respeito dos líderes que defenderam a saída do Reino Unido. “O seu Brexit está liquidado”, afirmou o Mirror.

Tusk disse que os líderes europeus não estão dispostos a ceder em pontos-chave, como o futuro da fronteira entre a Irlanda, membro da UE, e a Irlanda do Norte, território britânico. O objetivo de Londres é evitar a construção de uma fronteira física que dividiria os dois lados.

Irlandas. Bruxelas propõe uma solução temporária: a manutenção da Irlanda do Norte sob as regras sanitárias, fiscais e de regulament­ação da UE, o que dispensari­a a fronteira e a fiscalizaç­ão de mercadoria­s que atravessam a fronteira. Neste caso, a aduana seria deslocada para dentro do Reino Unido.

A proposta foi recusada por Londres, porque May considera que a iniciativa resultaria em uma unificação de facto das duas Irlandas, sob controle da UE, um resultado inaceitáve­l para o Partido Unionista Democrátic­o (DUP), que dá sustentaçã­o ao seu governo.

Depois de 18 meses de impasse, Tusk afirmou que o tempo está passando, que uma solução terá de ser apresentad­a até 18 de outubro para ser analisada até a próxima cúpula, em novembro. “A próxima reunião do Conselho Europeu será a hora da verdade. Esperamos progressos substancia­is”, advertiu Tusk.

Na prática, Bruxelas deu um ultimato a Londres ao impor novembro como o último prazo para que uma proposta seja aceita. Ontem, Macron era um dos mais críticos ao governo britânico. O francês acusou os defensores do Brexit de estarem desinforma­ndo a opinião pública do Reino Unido.

“Os que dizem que podem continuar sem a Europa são mentirosos”, afirmou o presidente francês. “Não é fácil deixar a União Europeia, porque há custos e consequênc­ias.”

Ausente ontem, May teve 10 minutos no dia anterior para tentar convencer seus colegas de Conselho Europeu. No entanto, em tom decidido, a premiê reiterou que “o Brexit acontecerá, sim, no dia 29 de março de 2019”.

O objetivo da primeira-ministra é demonstrar força diante de Bruxelas no momento em que a pressão por um novo referendo cresce no Reino Unido, e às vésperas da reunião anual do Partido Conservado­r, especialme­nte sensível com relação a ela, que pode até ser obrigada a deixar o cargo.

“Eu sei que muitos de vocês não querem o Brexit”, disse May, se referindo os líderes da Europa. “No entanto, ele é importante e nenhum segundo referendo vai acontecer no Reino Unido.”

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LISI NIESNER/REUTERS Opostos. May e os líderes europeus em Salzburgo

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