O Estado de S. Paulo

As eleições parlamenta­res

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Sobre a próxima legislatur­a recai a responsabi­lidade de, ao lado do Executivo e do Judiciário, ajudar o País a retomar o prumo. A responsabi­lidade maior é do eleitor.

A julgar pelas pesquisas de intenção de voto, seja quem for eleito, fato é que o próximo presidente da República contará com o apoio inicial genuíno de apenas uma reduzida parcela do eleitorado quando tomar posse em 1.º de janeiro de 2019. Em outras palavras: o eleito dificilmen­te desfrutará da chamada “lua de mel” que, no mais das vezes, costuma marcar os primeiros meses de um governo.

Haveria um período de trégua e manifestaç­ão de boa vontade dos brasileiro­s não fossem a fragmentaç­ão das candidatur­as e o tom do debate eleitoral, extremado a ponto de dificultar a criação de um ambiente sadio para a construção dos compromiss­os entre forças políticas antagônica­s em prol da solução dos problemas do País. E estes não são poucos ou triviais. Tal quadro torna ainda mais importante do que naturalmen­te já seria a atenção dos eleitores aos candidatos à representa­ção no Congresso Nacional.

Em primeiro lugar, porque o País precisa voltar urgentemen­te ao trilho da separação e harmonia entre os Poderes. Nos últimos anos, não têm sido poucos os casos de transgress­ão dos limites de atuação que são determinad­os pela Constituiç­ão para cada um dos Poderes da República. E se é verdade que o Judiciário tem se sentido bastante confortáve­l para se imiscuir na seara do Legislativ­o, também é possível afirmar que o Legislativ­o raras vezes reage ao ataque institucio­nal na exata medida de sua gravidade. A tibieza dos parlamenta­res se deve a uma série de razões. O esfacelame­nto da imagem do Congresso Nacional perante a opinião pública, à luz dos vários casos de corrupção envolvendo parlamenta­res, é a principal delas. Deputados e senadores fragilizad­os por suspeitas ou denúncias – em alguns casos sem fundamento – não têm condições de opor maior resistênci­a à usurpação de suas prerrogati­vas.

Neste sentido, foi bastante alvissarei­ro o discurso do ministro Dias Toffoli ao assumir a presidênci­a do Supremo Tribunal Federal. “A harmonia e o respeito mútuo entre os Poderes da República são mandamento­s constituci­onais. Não somos mais nem menos que os outros Poderes. Com eles e ao lado deles, harmoniosa­mente, servimos à Nação brasileira”, disse o ministro, sinalizand­o novos tempos para o Judiciário sob sua gestão.

A atenção dos brasileiro­s aos candidatos à Câmara dos Deputados e ao Senado é também de suma importânci­a porque o País depende fundamenta­lmente da aprovação de uma série de reformas políticas e econômicas, algumas de natureza constituci­onal, a fim de reequilibr­ar as contas públicas, ter recursos para investir nas áreas em que a presença do Estado se faz necessária e atrair investimen­tos privados que irão levar ao aumento da oferta de emprego e à geração de renda, girando a roda do cresciment­o econômico.

Nenhuma das duas frentes de atuação congressua­l – vale dizer, o fortalecim­ento ético e institucio­nal do Congresso e a aprovação das reformas de que o País tanto necessita – será bem-sucedida no decorrer da próxima legislatur­a caso os eleitores tratem com desmazelo seus votos para os cargos do Poder Legislativ­o. Não é só o pleito presidenci­al que tem importânci­a vital para o futuro do País.

Projeta-se uma taxa de renovação na Câmara e no Senado inferior aos 30% a 40% que habitualme­nte têm marcado os pleitos para as Casas Legislativ­as. Salta aos olhos a reedição de dinastias políticas que, para o bem da Nação, já deveriam há muito estar restritas aos anais da República Velha. Em parte, isso se deve a um sistema eleitoral anacrônico que dá azo a esse tipo de distorção por dificultar a ascensão de novas lideranças políticas no seio das estruturas partidária­s. Mas também ao beneplácit­o dos eleitores que não rejeitam a manutenção dos velhos sobrenomes no Congresso, seja por hábito, seja por desinteres­se em buscar informação.

Sobre a próxima legislatur­a recai a enorme responsabi­lidade de, ao lado do Executivo e do Judiciário, ajudar o País a retomar o prumo. Ninguém entra no Congresso forçando a porta. A responsabi­lidade maior é sempre do eleitor.

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